quarta-feira, 30 de julho de 2014

Suspect - Capítulo 6: X

6. Esteja sempre atento às pessoas a sua volta
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Charlotte: Você tem certeza que é aqui?
Era quase meia noite quando paramos em frente à suposta casa do médico que foi subornado pela mãe de Estela.  
Scott: Se não fosse, não estaríamos aqui.
Observei que não havia algum portão ou muro. Era apenas um enorme jardim, com um caminho de pedras em direção à porta de uma bela casa. 
Scott foi na frente. Notei que estava extremamente confiante, ao contrário de mim. Paramos na frente da porta, e então ele apertou a campainha.
Eu estava um tanto nervosa. Como perguntaríamos a ele? "Ei, por algum acaso você é um médico que foi subornado pela mãe de uma traficante?" Isso me parecia um tanto arriscado.
Mesmo que eu morasse numa delegacia, ser encontrada pela polícia era algo extremamente arriscado. Eram poucos os que me conheciam, então caso eu fosse pega por algum outro policial, poderia não só acabar com a minha carreira — e vida , como poderia acabar com toda a vida de Alexander. Ele poderia até 
não ser preso, mas com certeza esse ato de proteção viraria noticia. As chances dele
conseguir um bom emprego seriam quase nulas, e eu não queria isso.
Um homem beirando seus cinquenta e sete anos atendeu. Não pude observa-lo muito bem, pois, assim que abriu a porta, Scott acertou-o com um soco, fazendo seu nariz sangrar. O homem cambaleou para trás, e então pudemos entrar na casa. 
Fiquei um tanto abismada com Scott. Quer dizer, o homem não havia feito nada para merecer um soco em vez de um "olá".
Charlotte: Qual a necessidade disso?
Ele se virou para me encarar.
Scott: Para o nosso problema? Nenhuma.
O homem estava visivelmente irritado. Tinha cabelos grisalhos, vestia um roupão velho. Observei que havia algumas garrafas de bebidas empilhadas num dos cantos, todas vazias.
Homem: Quem diabos são vocês?
Scott sorriu. Era interessante, e ao mesmo tempo assustador ver aquele lado "maligno" dele. Não era muito diferente de mim. Mas, achei um pouco desnecessário golpear o homem antes mesmo de sermos cumprimentados.
Scott: Não se lembra de mim, doutor Cosac?
O homem analisou Scott de cima a baixo, e em seguida negou. Pela a expressão em seu rosto, por um momento achei que estava mentindo. 
Scott: Estou surpreso. Deixe-me ajuda-lo a lembrar.
Em seguida, Scott empurrou o doutor num sofá que, até então, eu não havia notado que estava ali. 
Ele soqueava o homem com uma verdadeira raiva, de modo que fez com que eu me aproximasse para separa-los.
O homem se levantou, com dificuldade.
Cosac: Você não mudou mesmo, Scott.
Scott quis avançar no homem novamente, mas eu o impedi. Estava claro que algo havia acontecido entre eles.
Charlotte: Quem é ele?
Scott: Ele ameaçou a Fire. Fez com que ela lhe desse drogas de graça e ainda abusou dela!
Cosac ria com as acusações de Scott.
Cosac: Ah Scott, foi isso que ela te contou? Acredite: ela que se ofereceu.
Ele fez uma pausa. Scott estava mesmo irritado, e Cosac parecia estar adorando aquilo.
Cosac: Quer saber? Vou te contar o que aconteceu. 
Cosac tirava o excesso de sangue do rosto com as mãos. Ele se sentou, e com um gesto, pediu para que nós fizéssemos o mesmo, mas permanecemos em pé. 
Cosac: Eu comprei muito dela, muito mesmo. Eu sabia desde a nossa primeira noite, que tudo o que ela queria era o meu dinheiro. Mas, fazer o quê? Não é sempre que temos alguém como Fire a nossa disposição. Nosso "relacionamento" acabou quando ela percebeu que eu menti, dizendo que não sabia muito sobre o que aconteceu com a mãe dela. 
Vi que a expressão de raiva no rosto de Scott mudou para compreensão, e em seguida raiva novamente, provavelmente por ter sido enganado.
Ficamos em silêncio por um tempo.
Cosac: Mas não foi por isso que vocês vieram aqui. 
Encarei Scott, esperando que ele perguntasse algo relacionado ao nosso pequeno problema, mas ele ainda parecia estar meio em choque.
Sentei-me numa poltrona perto do sofá onde estava o doutor.
Charlotte: Soube que você fez o parto da mãe de Fire.
Ele sorriu e concordou.
Charlotte: Fire... Qual o nome verdadeiro dela?
Cosac: Você quer saber se ela tem uma irmã, certo?
Não pude evitar me impressionar.
Cosac: Eu estou ficando velho, mas não sou bobo. Aliás, não me lembro de você.
Charlotte: É porque o senhor nunca me viu. Me chamo Charlotte.
Conversamos um pouco. Ele perguntou o que eu fazia, e disse que era do mesmo ramo de Scott.
Cosac: Bom, Charlotte, contarei o que você quer.
Scott, que parecia ter saído de seus pensamentos, sentou ao lado do doutor.
Cosac: Eu e a mãe de Fire nos tornamos amigos quando estávamos nos últimos anos de escola. Alguns dias depois da nossa formatura, ela perguntou o que eu iria fazer. Respondi que tentaria a faculdade de medicina, e quando eu fiz a mesma pergunta, ela me contou tudo. Havia conhecido um garoto da nossa idade, que disse que se ela o ajudasse, ficaria rica. Era um traficante. Alguns anos se passaram e eu me formei. Um dia, ela me ofereceu maconha. Obviamente, eu neguei. Ah... Aquilo se repetiu tantas vezes... Um dia eu aceitei e acabei sendo levado pelo vício. Foi um erro meu, mas ninguém sabia além dela. Quando ela engravidou, eu fiquei surpreso. Ela casou logo depois. 
Ele fez uma pausa, para garantir que estávamos ouvindo.
Cosac: Nós dois conseguimos parar com o vício juntos. Sabe, eu conheci o marido dela. Um homem incrível, que estava verdadeiramente apaixonado por ela. No dia que ela teve as crianças... Ela pediu para que eu dissesse que ela estava morta. Ela levaria uma das crianças, e a outra deveria ficar com o pai. Ela implorou para que eu não contasse para ninguém. Nunca me disse o motivo, mas eu já sabia que ela havia voltado a se drogar. Fire, por outro lado, nunca se drogou. Lembro como se fosse ontem, Fire com seus sete anos, batendo na minha porta pedindo abrigo por uma noite. A mãe havia morrido num tiroteio com uma gangue. Mesmo eu dizendo que não precisava, ela disse que voltaria para onde estava morando, e só queria ficar longe por um dia, para garantir que não seria atacada de surpresa. Depois disso, parei de vê-la. Quando minha esposa me deixou, voltei a usar drogas, e acabei encontrando-a, mas ela não me reconheceu de primeira. Foi então que tudo aconteceu. Ela mudou muito desde que era uma pequena criança. 
O silêncio dominou a sala por alguns minutos.
Então Fire tinha uma gêmea, e provavelmente não sabia disso. O pai também não sabia de Fire, o que poderia deixar as coisas mais fáceis.
Cosac: Caroline. Uma vez, num jantar com Thomas e Mirian, a mãe de Fire. Eu perguntei que nome dariam se fosse uma menina. O pai queria Estela e a mãe queria Caroline. Quando ela fugiu com Fire, deu esse nome a ela. Nunca mais vi o pai, mas acredito que tenha dado o nome de Estela para a outra.
Sorri.
Charlotte: Ele deu.
Scott se levantou e eu também. Cumprimentamos o doutor, e Scott pediu desculpas.
Depois de uma longa despedida, saímos da casa. Paramos em frente ao jardim.
Scott: Você vai atrás de Estela amanhã?
Charlotte: Provavelmente.
Scott: Então onde nos encontramos?
Eu já esperava por isso.
Charlotte: Quem disse que quero sua ajuda agora?
Scott: Ah, então você sabe onde Estela está?
Encarei-o, curiosa.
Charlotte: Você sabe?
Ele olhou para o céu, e em seguida para mim novamente.
Scott: Acredito que sim.
Hesitei. Queria resolver isso sozinha, mas a ajuda de Scott estava sendo extremamente útil.
Charlotte: Amanhã, no parque que fomos hoje, às treze. Não se atrase.
Ele concordou.
Quando me virei para ir embora, ele segurou meu braço.
Scott: Sem um beijo de boa noite?
Sorri. Aproximei-me dele, que logo soltou meu braço, colocando suas mãos em minha cintura.
Sussurrei em seu ouvido.
Charlotte: Exatamente.
Então, empurrei-o e em seguida o chutei. Não vi onde acertei, mas percebi que havia causado muita dor. 
Me afastei.
Charlotte: Boa noite, Scott.
Enquanto eu ria, pude escuta-lo me xingar.
No caminho, fiquei pensando nele. Scott apareceu do nada, sabendo muito sobre mim, e queria minha ajuda para achar Cristopher. Com isso, ele me ajudaria a achar Estela, como prova de que poderia confiar nele. 
Até então, ele havia se mostrado um homem de bom caráter, mas eu ainda desconfiava dele.
Talvez, fosse questão de tempo. Desde aquele dia com Cristopher, eu nunca mais tive algum amigo, além de Alexander, que estava sempre ocupado.
A namorada do delegado, porém, era uma menina de idade aproximada, com uma personalidade gentil e confiante. Ela me conhecia, mas Alexander havia me proibido de sair com ela, dizendo que eu poderia acabar colocando-a em problemas. No final, as únicas pessoas com quem eu realmente convivia, eram os frequentadores do beco.
Eram quase duas horas quando eu cheguei na delegacia. Havia apenas dois policiais, que me cumprimentaram quando apareci na porta.
Passei pelo corredor espelhado da sala de Alexander, e então entrei no meu quarto.
A primeira coisa que fiz foi tirar as botas. Meus pés doíam, e então notei que estavam cheios de bolhas.
Murmurei um pequeno palavrão.


No dia seguinte, acordei por volta das dez. Aos poucos, comecei a me lembrar do dia anterior. Fora cansativo, porém revelador. Graças a Scott, o caso de Estela seria resolvido facilmente. Então, lembrei do acordo.
Em troca da ajuda de Scott, começaríamos a trabalhar juntos para achar Cristopher. Algo ainda me deixava inquieta em relação a isso. Ainda não entedia no que eu seria útil, já que ele sabia tanto.
Me arrumei, vestindo um jeans velho e um par de tênis confortáveis — os mesmos que eu usava quando perseguia alguém — acompanhados de alguns band-aids. Vesti uma regata branca e minha jaqueta preta. A manhã estava um pouco quente, mas preferi não arriscar passar o resto do dia com frio. 
Abri uma das gavetas do pequeno armário ao lado de minha cama. Ali, eu guardava algumas armas, como facas, canivetes e qualquer coisa que cortasse ou causasse um bom dano físico nas pessoas.
Peguei uma das facas pequenas. Elas tinham o tamanho perfeito para ficarem no bolso da jaqueta despercebidas, e ainda assim, causavam um grande estrago. Com certeza, era uma das minhas preferidas.
Olhei os números do despertador que ficava em cima da cômoda, e notei que apenas uma hora havia se passado. Deitei-me novamente e fiquei a espera de Alexander para me chamar para almoçar, como fazia todos os dias. 
Normalmente, Alexander e eu almoçávamos numa lanchonete próxima, ou ele trazia algo para mim e passava essa hora com a namorada. A mesma coisa acontecia com o jantar.
Era meio-dia quando ele bateu na minha porta. Eu estava quase cochilando.
Levantei-me rapidamente e a abri.
Alexander: Pronta?
Assenti.
Andamos até a lanchonete e nos sentamos. Era um lugar pequeno, e o dono ao nos ver, trouxe o nosso prato de sempre: dois hambúrgueres completos.
O dono era um homem quase aposentado, que gostava do que fazia. Conhecia Alexander desde que ele havia conseguido o cargo de delegado.
Enquanto comíamos, Alexander tentava puxar assunto.
Alexander: Quem vai perseguir hoje?
Charlotte: Ninguém. Vou atrás de Estela.
Eu estava falando a verdade. Mas por algum motivo, ele ficou desconfiado.
Alexander: E o que mais?
Charlotte: Nada. Por que teria um "mais"?
Ele me encarou de maneira séria.
Alexander: Não virei delegado brincando, Charlotte. Você está escondendo algo.
Enquanto mastigava, fiz um sinal negativo com a cabeça.
Charlotte: Façamos o seguinte: quando eu terminar, você descobrirá.
Ele suspirou.
Alexander: Não gosto de surpresas...
Charlotte: Talvez essa seja boa! Se anime!
Ele me ignorou e voltou a comer. 
Faltavam quinze minutos para eu encontrar Scott, quando Alexander recebeu uma ligação. Após termina-la e dizer que precisava voltar para a delegacia, ele se despediu e seguiu em direção ao trabalho. Resolvi fazer o mesmo, então fui andando depressa até o parque.
Enquanto me dirigia até o lugar onde havíamos ficado na noite anterior, vi Scott se aproximando. Ele vinha da direção oposta.
Scott: Você é bem pontual.
Charlotte: Parece que posso dizer o mesmo de você.
Ele sorriu, mas logo ficou sério.
Scott: O que você sabe sobre o sequestrador de Estela?
Charlotte: Sei que ele está morto. E que foi assassinado por Cristopher.
Scott: Ótimo, então não preciso explicar nada. Vamos?
Acompanhando seus passos, fomos em direção à saída do parque, que foi pela qual eu havia entrado.
Então, diferente da nossa ultima caminhada, nós tentamos puxar assunto. Começamos por um "qual a sua idade?" — ele também tinha 23, mas era alguns meses mais velho — e acabamos quando, ao esperar o sinal para pedestres ser aberto, ele colocou um de seus braços em volta do meu ombro e começou a mexer na minha jaqueta.
Charlotte: O que diabos está fazendo?
Ele respondeu pausadamente, prolongando a ação.
Scott: Nada... importante...
Notei que ele tentava observar além do decote da minha regata.
Charlotte: Scott, você gosta desse braço?
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, e então, num sussurro, fez uma pergunta.
Scott: Você veio armada?
Fiz um movimento positivo com a cabeça, e logo ele largou minha jaqueta, colocando suas mãos no bolso da calça jeans escura, como se nada tivesse acontecido.
Segurei o riso, mas ainda assim ele notou meu divertimento com sua reação.
O sinal logo ficou verde, e então andamos até um prédio abandonado. Paramos em frente a ele.
Charlotte: Eu acredito que haja gangues aqui... Mas... Scott, ele era um profissional.
Scott: Exatamente, e por isso seu "escritório" é de baixo desse prédio.
Andamos até os fundos do prédio, e então Scott pegou um pedaço de madeira jogado num canto.
Com agilidade, ele logo tirou do meio da terra uma corda. Ele a puxou, e então uma porta se revelou, disfarçada com blocos de grama sob ela.
Charlotte: Como você descobriu isso?
Scott: Ajudei Fire numa entrega aqui.
Ele fez sinal para que eu entrasse, e então obedeci. 
A escada era semelhante a do beco, porém, mais curta.
Scott veio logo em seguida, e então fechou a porta. Logo, comecei a sentir o calor do lugar. Tirei a jaqueta e a amarrei na cintura. Scott assobiou. Eu ia xinga-lo, mas antes que eu pudesse me manifestar, ele fez um sinal para falarmos baixo. 
Ele foi na frente, me guiando pelo lugar.
Era realmente grande, e quando escutávamos sons de passos, nos escondíamos entre os corredores.
Depois de andarmos muito, encontramos uma parede com uma única entrada. Não havia porta, ou alguém vigiando. Era apenas uma parede, com um "x" de cada lado da entrada, pintados da cor vermelha.
Scott: Fique atenta.
Scott retirou o revolver das costas, e eu peguei minha faca. 
Passamos pela entrada, e então vi vários corredores com a mesma pintura. Enquanto andávamos, pude notar que havia um tipo de sequência: um corredor, uma sala, um corredor. Todas as salas tinham portas velhas.
Andamos entre corredores, cada um de um lado. De algumas salas, podíamos ouvir gritarias, até mesmo choros.
Após o ultimo corredor, não havia nada além de um grande espaço vazio. Um pouco mais pra frente então, havia uma pequena sala.
Esta era diferente. Ao contrário das outras salas que eram uma na frente da outra, esta era a única, e começava do meio. Sua porta também era diferente. Não era velha, mas também não era nova. Era vermelha, no mesmo tom das marcas nas paredes.
Scott e eu fomos em direção a porta, cada um de um lado. Esperamos um pouco, tentando ouvir algum som.
Depois de uns cinco minutos, Scott fez sinal para entrarmos e concordei. Ele ia chutar a porta, quando eu o impedi.
Apontei para a maçaneta e mostrei que não havia lugar para porta alguma chave. Só precisava empurrar. Demonstrei, e então entramos. 
Scott entrou apontando a arma, e eu fiquei mais atrás.
O lugar era pequeno e escuro. A única iluminação era a luz que vinha da porta aberta.
Em meio à escuridão, pude notar uma cama de casal bagunçada, e em cima dela, uma menina enrolada num lençol.
Ela chorava muito, e ficou extremamente assustada com a nossa entrada. 
Em meio a soluços, implorou.
Menina: Por favor... De novo não... Por favor... 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Suspect - Capítulo 5: Scott

5. Observe
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Contei tudo. Como eu havia feito meu primeiro contato com Cristopher, até eu começar a ser treinada.
Quando terminei, ele pareceu ficar sem palavras.
Não conversávamos muito sobre nosso passado. O que Alexander sabia até então, era que eu havia crescido num orfanato, e me transformado numa assassina por causa de Cristopher. Descobrir tudo de uma hora para a outra com certeza foi um choque.
O desenho do homem que havia sequestrado Estela e a foto dela estavam sobre a mesa de Alexander.
Alexander: Então quer dizer que o homem que supostamente sequestrou a garota... É o mesmo que ameaçou você e Cristopher?
Afirmei.
Alexander: E então seu amigo o matou? Simples assim? E como os parceiros dele não foram atrás de vocês?
Charlotte: Eles não vieram atrás de mim, mas quem disse que não foram a procura de Cristopher?
Alexander: Se for assim, existe uma grande probabilidade dele estar morto, não concorda?
Encarei o chão. Na verdade, sim, eu concordava. Já havia pensado sobre isso diversas vezes, mas não era uma teoria que eu realmente gostava. 
Quer dizer, ele não podia morrer. Pelo menos não até me responder algumas perguntas. Ele mudou o rumo da minha vida, e saiu dela sem dar explicações. Claro, não era como se ele tivesse sido extremamente participativo, mas, aqueles poucos minutos em que estivemos juntos, decidiram qual seria o meu destino. Talvez, eu até devesse alguns agradecimentos a Cristopher, quem sabe.
Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi uma batida na porta. Alexander se levantou para atender. Notei que ainda mancava um pouco.
Ao abrir a porta, escutei uma voz feminina perguntando por mim. Levou alguns segundos para eu conseguir reconhecer. 
Alexander fez o possível para despista-la o mais rápido possível, dizendo que eu não estava e iria demorar. Quando ela saiu, comecei a rir.
Ele jogou um vidro de esmalte preto para mim. 
Alexander: Você podia parar de usar as funcionárias daqui como suas empregadas?
Ele se referia a uma das atendentes da delegacia, mais precisamente a qual acabara de sair.
Charlotte: Claro. Então um dia sairei para comprar um simples esmalte, e alguém gritará: olhe, aquela garota é uma assassina!
Ele suspirou.
Alexander: Não exagere.
Em seguida, olhou para seu relógio e murmurou algumas palavras obscenas.
Charlotte: Atrasado para o jantar?
Meus pés estavam em cima de sua mesa, e eu observava atentamente o meu novo esmalte preto.
Alexander pegou seu casaco que estava em cima de sua cadeira, e então começou a procurar as chaves de seu carro.
Alexander: Ela odeia quando eu me atraso.
"Ela" era sua namorada. Alexander e a garota namoravam desde que eu o conhecia, e até então eles nunca haviam se separado. Não que eu soubesse.
Charlotte: Me pergunto se eu vou ser convidada para o casamento.
Alexander: Que casamento?
Encarei-o, séria.
Charlotte: Você ainda não pediu a mão dela? Há quanto tempo que estão juntos? Já não está na hora?
Alexander: Eu não tive tempo de pensar nisso, certo? Agora, boa noite, Charlotte.
Sorri de maneira inocente, e então desejei boa noite. 
Me levantei, e então fui em direção ao meu quarto. Eram quase oito horas da noite, e eu iria atrás do garoto.
Observei o mapa do cartão, e percebi que, pelos pontos de referência, era um bairro fino. No caso, meu moletom e tênis pretos iriam chamar muita atenção no meio das pessoas da alta sociedade.
Substitui meus tênis por um par de botas curtas com salto, na cor preta, e abandonei o moletom e vesti um sobretudo na mesma cor da bota. Coloquei mais alguns acessórios, e então me senti pronta para seguir com o plano. 
Peguei o cartão e o coloquei em um dos bolsos. Resolvi levar a foto de Estela também. Caso minha missão fosse um fracasso, iria até o beco para coletar informações.
Depois de uma ultima olhada no espelho, resolvi ir logo. 
Cumprimentei os funcionários e saí. 
Andei por cerca de trinta minutos, até achar a rua exata. Andei lentamente, observando todas as lojas e restaurantes que ali haviam. Estava tudo na ordem do cartão.
Quando cheguei ao final da rua, notei que ela não tinha saída. Ali, entre duas lojas de roupas caras, estava um restaurante fino. Ergui a cabeça para ler o letreiro com o nome do lugar, e notei que não havia nenhum "x". Já esperava por isso.
Olhei em volta, mas não havia nenhum sinal do garoto. Comecei a me perguntar se eu havia interpretado o cartão de maneira errada. Fiquei ali, parada, pensando. Até ali tudo havia dado certo. Não sabia se devia dar meia volta, ou procurar algo no local.
Um garçom se aproximou.
Garçom: Charlotte?
Confesso que me assustei. Não é sempre que vemos garçons atendendo na calçada, fora do seu local de trabalho. Sem mencionar o fato de que ele sabia meu nome.
Encarei-o.
Garçom: Você é a Charlotte, certo? Venha, ele está te esperando.
Mesmo confusa, eu o segui. Afinal, não tinha nada a perder.
Logo, avistei-o em uma mesa perto das janelas, num lugar onde as plantas artificiais bloqueavam quase toda a visão. Sorriu ao me ver.
Sentei-me na cadeira a sua frente e então ele dispensou o garçom.
Ficamos um tempo em silêncio. Notei que ele me observava atentamente. Algo passava pela sua cabeça, e eu queria saber o que era, mas sabia que ele não me contaria tão fácil. Algo me preocupava, mas não sabia exatamente o que era.
Garoto: Por que está tão tensa?
Sua voz era calma, e ele me encarava com um olhar de diversão. 
Pensei bem antes de respondê-lo.
Charlotte: Quem é você?
Garoto: Meu nome é Scott. Trabalhamos na mesma área.
Scott. O "S" no cartão era de Scott. As peças estavam começando a se encaixar.
Scott: Estamos atrás da mesma pessoa.
Charlotte: Como sabe que estou atrás dele?
Ele riu.
Scott: Eu sei de muitas coisas.
Charlotte: Se você sabe tanto, por que precisa de mim?
Ele permaneceu calado por um momento.
Scott: Você está tão desconfiada assim? 
Fiquei em silêncio.
Scott: Charlotte, eu preciso de sua ajuda para encontra-lo. Eu tenho as informações que você procura há tantos anos. Na verdade, eu tenho até mais. Mas, cheguei num ponto que preciso de mais alguém para me ajudar, e você é a pessoa ideal.
Eu estava curiosa. Ele parecia ser inteligente e esperto, mas algo me fazia desconfiar dele. Talvez, fosse o medo. Ninguém nunca havia me procurado para fazer alguma proposta de parceria, e Scott parecia saber demais para alguém que queria apenas uma ajuda.
Charlotte: Não.
Me levantei.
Scott: Charlotte... espere.
Ao tirar o cartão do bolso, deixei a foto de Estela cair sobre a mesa. Antes que eu pudesse pega-la, Scott arrastou a foto pela mesa de vidro, de modo que ele pudesse ver.
Scott: Quem é essa? Sua amiga de infância? Achei que você era inteligente o suficiente para saber que não devemos carregar objetos pessoais quando estamos trabalhando.
Charlotte: Eu não a conheço, mas preciso encontra-la. 
E então, eu tive uma ideia.
Charlotte: Você a conhece?
Ele jogou a foto na mesa e se levantou.
Scott: Talvez.
Scott começou a andar até a saída. Peguei a foto e o cartão que estavam sobre a mesa e os coloquei no bolso.
Saímos do restaurante, ele parecia estar se divertindo.
Charlotte: Espere! Quem é ela?
Ele parou na frente de uma loja.
Scott: Você não confia em mim o suficiente para aceitar uma simples proposta, mas confiará no que eu falar sobre essa menina? Isso não parece certo.
Ele voltou a andar, agora mais devagar, de maneira que eu pudesse acompanha-lo, mesmo que eu ficasse alguns passos atrás.
Charlotte: Façamos o seguinte.
Ele parou, ainda virado para a frente.
Charlotte: Me ajude a encontra-la, e então... pensarei sobre sua proposta.
Por um momento, o vi sorrir.
Ele se aproximou, mas sua expressão era séria.
Scott: Não quero que você pense, quero uma certeza.
Eu sabia que poderia encontrar menina sozinha, não precisava dele. Mas algo me fez aceitar.
Scott: Ótimo. Venha, vamos dar uma volta.
Andei ao seu lado. Ficamos em silêncio até chegarmos num parque famoso da cidade.
Havia um ou dois casais de adolescentes por ali, e alguns garotos andando de skate.  Nos sentamos em um banco de madeira, perto de algumas arvores.
Scott: Caso não saiba, essa menina cresceu. Eu não sei o nome real dela, mas seu pseudônimo é Fire.
Charlotte: Vocês trabalhavam juntos?
Ele sorriu maliciosamente.
Scott: É... Por ai.
Suspirei.
Scott: Ela é uma traficante. Assumiu os negócios de sua mãe.
Charlotte: Eu soube que ela foi sequestrada por um homem que ninguém conhece.
Scott: O que? Não. Sua mãe fugiu com ela alguns dias depois de tê-la. 
Charlotte: Isso é impossível. O pai dela disse que a mãe morreu.
Scott: Ela pagou a um médico para dizer isso. 
Charlotte: Mas ela foi sequestrada quando tinha dez anos, pelo chefe do pai dela...
Ficamos em silêncio. "Fire" ou Thomas haviam mentido, mas como descobrir qual das duas histórias eram verdade?
Charlotte: E se não estivermos falando da mesma pessoa?
Scott: Como isso seria possível? Eu tenho certeza que é ela. Eu poderia reconhecer esse cabelo ruivo em qualquer lugar.
Charlotte: E se ela tiver uma gêmea?
Ele ficou pensativo.
Scott: Só temos uma maneira de descobrir.
Charlotte: Qual?
Ele se levantou.
Scott: Procurar o médico que a mãe de Fire supostamente subornou.
Ele começou a andar depressa em direção a saída do parque. Levantei-me logo e me esforcei para acompanhar seus passos.
Charlotte: Você sabe quem é?
Ele me encarou, e em seguida sorriu.
Scott: Talvez.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Suspect - Capítulo 4: Homens...

4. Só use a violência se for extremamente necessário.
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Sai do beco mais ou menos uma hora depois do garoto ir embora. Eu estava andando depressa, determinada a achar o tal. Por algum motivo, me sentia preocupada e nervosa.
Algo nele me chamara atenção, mas eu ainda não sabia exatamente o quê. Quer dizer, ele era atraente, mas isso não fazia diferença. Várias das minhas vítimas do sexo masculino eram extremamente cativantes, mas isso nunca me impediu de matá-los. 
No meio da minha confusão de sentimentos e perguntas que surgiam a cada momento, parei minha caminhada sem destino. Para onde eu estava indo, afinal? Como eu iria começar a busca? Até então, ninguém conhecia o rapaz, ou seja, eu teria que me virar sozinha. Minha determinação começou a se transformar em raiva, até que me lembrei de um detalhe: ele havia me dado algo. Um cartão. 
Ali mesmo, tirei do bolso o que seria minha pista. Observei-o. Era branco. Achei que eu estava olhando o cartão do lado errado, então o virei. O outro lado também era branco. Passei alguns minutos olhando os lados do cartão, e então comecei a rir. Eu estava estressada agora, e minha vontade era de desistir de tudo aquilo. Alguns senhores que estavam nas portas de algumas lojas próximas começaram a me encarar de maneira estranha, mas ignorei. 
O cartão estava em branco. Não havia nada escrito, ou qualquer outro sinal que pudesse me ajudar a encontra-lo.
Andei até uma lata de lixo próxima, e encarei o cartão uma ultima vez. Estava disposta a abrir mão de tudo. Fiquei pensativa por instante.
Eu estava certa de que seguir em frente poderia ser a decisão errada a tomar, mas abandonar tudo também não era a melhor escolha. A diferença entre seguir ou não em frente, era que, a probabilidade de eu consertar meu erro escolhendo a primeira alternativa, era maior.
Coloquei o cartão de volta no bolso, e resolvi voltar para a delegacia. Não queria contar a Alexander sobre o garoto até eu descobrir algo útil.
Andei calmamente para o local, mas meus pensamentos se afastaram quando passei pela porta e vi uma multidão bloqueando um dos corredores. O corredor da sala de Alexander.
Observei de longe, tentando entender o motivo de tudo aquilo. As expressões dos espectadores eram uma mistura de surpresa e pavor, mas isso não fazia com que se afastassem. Foi quando dois policiais conseguiram abrir caminho entre as pessoas que pude ver um pouco do que estava acontecendo. Reconheci Alexander. Ele estava sendo golpeado no queixo por um homem que eu nunca havia visto. Notei que os dois estavam cobertos de sangue. Minha intenção era de assistir a luta, quando vi um dos policiais sendo nocauteado. O outro era um novato, e ao tentar ajudar o delegado, acabou sendo golpeado também. Suspirei.
Empurrando o público para abrir espaço, me meti no meio da briga. O policial novato ajudava o que havia se ferido mais, enquanto Alexander estava contra a parede, tentando se livrar do homem que o agredia. 
Toquei o ombro do agressor, que se virou com a intenção de me bater. Consegui segurar uma de suas mãos por tempo suficiente para Alexander conseguir se libertar. Porém, em vez de ir em direção a sua sala, ele resolveu pular em cima do atacante. Aquela atitude foi estúpida, já que ele não tinha mais forças para se defender, e eu podia cuidar dele sozinha.
O homem voltou sua atenção para o delegado novamente, e agora os dois brigavam no chão. Notei uma mancha de sangue na parede e me perguntei quanto tempo havia que eles estavam brigando. 
Chutei o estomago do agressor. Notei que ele havia perdido a respiração por um momento, já que não estava preparado para algo como aquilo. 
Charlotte: Vá para a sua sala. 
Mancando o mais rápido possível, ele foi. Tive que segurar o riso. Não era sempre que eu tinha a oportunidade de ver esse lado mais fraco de Alexander, o que tornava a cena um tanto cômica, mas trágica. 
Voltei meu foco para o homem agachado no chão. Ele estava recuperando a respiração, então o chutei mais uma vez, e então outra, fazendo com que rolasse até a parede. Peguei-o pela gola da camisa e o coloquei contra a parede. Dei um soco em seu rosto, fazendo com que seu nariz sangrasse mais. Ele estava bem fraco.
Charlotte: Como se sente estando deste lado agora?
Ele não conseguia se quer falar. Sorri, satisfeita.
Apontei para o guarda novato.
Charlotte: Você. Arrume um médico para cuidar desses dois. Rápido.
Ele parecia meio perdido, mas concordou. 
Arrastei o homem para a sala de Alexander, e então fechei a porta. Notei que alguns espelhos estavam quebrados, mas somente os de seu escritório. Aqueles que faziam a parede de meu quarto estavam apenas com algumas manchas de sangue. 
Mandei-o sentar. Alexander estava sentado atrás de sua mesa, limpando o sangue do rosto com as mãos. Eles lançavam olhares ameaçadores um para o outro.
Charlotte: Já mandei chamarem algum médico. Agora, vocês querem me explicar o que está acontecendo aqui?
Eu estava ciente que nenhum dos dois me devia alguma explicação, mas se eu não tivesse interrompido aquela briga, com certeza aquilo teria terminado apenas quando um deles morresse.
Eles permaneceram em silencio.
Charlotte: Alexander.
Ele me encarou. Fiz sinal para me dizer quem era ele.
Alexander: Ele está atrás da filha desaparecida dele. Já faz seis anos desde que ela sumiu. Ele ainda acha que pode encontra-la, mas nós nunca encontramos nada que fosse útil.
Homem: Vocês são incompetentes. Não tem capacidade suficiente para achar uma garotinha.
Alexander: Ela não é mais uma garotinha, e você sabe disso. Ela pode estar morta, e o corpo foi bem escondido. 
Eles começaram a discutir, até que o homem se levantou. Eles iriam recomeçar a luta, até que um médico entrou na sala.
Todos ficaram em silêncio até os curativos serem feitos e ficarmos a sós novamente.
Charlotte: Primeiro, eu quero saber seu nome. Talvez... Eu possa te ajudar.
Homem: E quem diabos é você? 
Charlotte: Meu nome é Charlotte, e, por enquanto, isso é tudo o que você precisa saber.
Ele me lançou um olhar desconfiado.
Homem: Eu me chamo Thomas.
Charlotte: Prazer em conhecê-lo, Thomas. Agora, me conte tudo o que aconteceu, desde o início.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
Thomas: Eu fui estúpido. Eu tomei uma decisão errada, e ela foi o preço que eu paguei. Ela tinha apenas dez anos. Tenho medo de pensar o que fizeram com ela...
Charlotte: Espere, quem fez o que? Que decisão foi essa? Comece a história direito.
Sentei na ponta da mesa de Alexander, ficando de frente para Thomas.
Thomas: Nós estávamos passando por dificuldades... Os aluguéis de nossa casa estavam todos atrasados, e se não pagássemos, teríamos que ir embora. Eu mal tinha dinheiro para as refeições... Então fui procurar um segundo emprego. Eu passei dias procurando, e num fim de tarde, resolvi parar num bar para pedir informação. Havia um homem de terno, e ele escutou quando eu disse para o dono que precisava de um emprego. Eu estava saindo, quando ele me chamou para conversar.
Ele fez uma pausa. Seu arrependimento era visível. 
Thomas: Ele disse que eu poderia ganhar dinheiro fácil com ele, mas neguei, dizendo que não trabalharia com drogas. Ele disse que não tinha nada relacionado. Eram serviços simples, eu seria apenas um entregador para suas negociações. A quantia que ele me daria era alta, o suficiente para pagar todas as minhas dívidas. Não vou negar que estava desesperado, mas pensei duas vezes antes de aceitar. Ele disse que naquela mesma noite teria um serviço para mim. Aceitei. Naquela noite, minha filha dormiu na casa de uma colega.
Charlotte: Alguma chance de algum parente da colega de sua filha...
Ele fez um sinal negativo com a cabeça.
Thomas: O serviço foi tranquilo. Ganhei dez mil pratas. Aquilo pagou todos os meus aluguéis. Ele disse que se eu fizesse outros trabalhos, poderia ganhar mais. Na mesma noite, descobri que ele era o chefe de uma gangue. Eu entregava pastas muito bem trancadas, e nunca descobri o que havia nelas. Sabia que em algumas tinha dinheiro, mas nunca soube as quantias. Eu ganhei muito. Ele também sabia sobre a minha filha, e sabia que eu não faria nada que fizesse com que ela perdesse o pai. Não sei como ele sabia, mas todos os serviços que eu fiz para ele, foram em dias que minha filha não estaria em casa. Ela nunca descobriu onde eu estava metido.
Seus olhos se encheram de lágrimas novamente ao falar sobre a filha. Ele ficou um tempo em silêncio.
Thomas: Trabalhei para ele por seis meses, e um dia ele disse que tinha um serviço especial para mim.  O trabalho era arriscado, ele queria que eu fosse atrás de um cara. Ele era um tipo de assassino, profissional. Eu tinha dinheiro para viver bem o resto do ano, então neguei, disse que não faria isso, mas ele disse que eu não tinha com o que me preocupar, que daria tudo certo. Continuei dizendo que não, então ele disse que se eu não o fizesse, não precisaria mais ajuda-lo. Eu disse que não o ajudaria mais, e ele logo disse que eu iria me arrepender. Virei às costas para ele, e fui embora.
Ele novamente fez uma pausa, e então pude ver uma lágrima escorrendo pelo seu rosto, seguidas de várias outras.
Thomas: No outro dia... Quando fui busca-la na escola...
Sua voz estava trêmula.
Thomas: Eu não fazia isso todos os dias, e não havia avisado, por isso encontrei com ela no meio do caminho, mas... Eles foram mais rápidos. Um carro preto parou do lado dela e a pegaram. Eu estava seguindo eles, mas os perdi de vista de repente. Naquela noite, fui até o local onde sabia que ele estaria, mas ele apenas disse "eu avisei". Disse-lhe que devolveria todo o dinheiro que havia ganhado, que faria tudo o que quisesse, mas eu só queria minha pequena de volta. Ele negou, e ainda riu de mim. Me expulsou de seu "escritório", mas no outro dia eu voltei. Só que ele não estava lá. Ninguém de sua gangue estava lá. Fui até o local onde ele queria que eu fizesse o tal serviço, um mercadinho numa rua meio abandonada, mas ele não estava lá também. Desde então, nunca mais o vi.
Charlotte: Mas... E sua mulher? Ela não sabia?
Thomas: Minha mulher morreu no parto.
Definitivamente, a vida daquele homem era um desastre.
Charlotte: Eu preciso de uma foto, um desenho, qualquer coisa para que eu possa identificar sua filha... E este homem.
Ele me olhou, surpreso. Alexander estava com o mesmo olhar.
Logo, ele tirou uma foto de sua filha da carteira. Ela era ruiva, e tinha olhos verdes. Não seria difícil, a menos que ela tivesse pintado o cabelo. Ou morta.
Thomas: Ela se chama Estela. Eu não tenho uma foto dele, mas fizeram um desenho muito bom desse homem na primeira vez que vim aqui.
Alexander logo tirou o desenho da gaveta.
Charlotte: Me dê um mês. Suponho que temos seu telefone.
Encarei Alexander e ele fez um sinal afirmativo com a cabeça.
Charlotte: Ligarei para você com notícias. Agora...
Me levantei.
Charlotte: Fique longe de problemas, e não venha até aqui. Lhe garanto que terá informações sobre ela, mas não posso dizer se ela estará viva...
Isso fez Thomas encher os olhos de lágrimas novamente, mas concordou.
Depois de uma longa despedida, e um pedido de desculpas a Alexander, ele se foi. Fechei a porta.
Charlotte: Chame alguém para limpar esse lugar.
Ele riu.
Alexander: Como pretende achar essa garota? Estamos atrás dela já faz um bom tempo, e não achamos nem um fio de cabelo se quer.
Sorri.
Charlotte: Talvez estejam procurando nos lugares errados.
Ele ficou pensativo, sabia o que eu iria fazer, onde iria buscar as informações necessárias. Mas deixaria aquilo para mais tarde, pois agora haveria de pensar em algo mais importante: o cartão.
Analisei o cartão por horas, até que, ao coloca-lo contra a luz, descobri o que parecia ser um "S". Contornei-o com os dedos, tentando descobrir o que significava. Apaguei as luzes, e acendi uma luminária que eu deixava no meu criado mudo. Percebi que em volta do "S", havia nomes de alguns lugares, e então, no final da lista, havia um "X". No começo, fiquei sem entender, mas então notei que todos os locais mencionados eram próximos um dos outros. Eles eram pontos de referência, e o "X" marcava o lugar. Aquilo era um mapa, mas o que diabos o "S" significava?
Fiquei pensativa. Os nomes ficavam em volta, mas aquilo não podia ser o caminho, já que havia mais que duas esquinas e não havia outras curvas. 
Mesmo sem saber o que poderia significar a tal letra, resolvi que tentaria achar o "X". Talvez uma luz brilhasse para mim quando eu chegasse lá. Faria isto naquela mesma noite.
Estava feliz por ter descoberto algo útil, e tomado uma decisão. Coloquei o cartão ao lado da luminária, a qual apaguei, e acendi as luzes normais novamente. Peguei o desenho do tal chefe de gangue. Eu conhecia alguns, e fiquei surpresa ao notar que, mesmo o desenho estando muito bem detalhado, não se parecia com nenhum dos que eu conhecia. Talvez ele não fosse muito bom? Ou talvez, fosse bom até demais. Sentia que já o encontrara em algum lugar.
Fechei os olhos, ainda segurando o desenho, e me deitei na cama. Queria pensar um pouco, talvez, dormir.
Então, uma cena me veio na cabeça. Meu primeiro - e último - contato com Cristopher. O homem com a arma apontada para mim, e logo depois morto pelo jovem garoto. Lembrei-me do susto ao ver seu corpo no chão, e do pavor ao sentir sua arma em minha cabeça. 
Foi então que vi seu rosto. Levantei-me rápido e encarei o desenho. Era ele. Há exatos seis anos atrás. 
Entrei correndo na sala de Alexander.
Charlotte: Há quanto tempo estou aqui?
Alexander: Muito. Por quê? Quer pagar o que você tem me custado nestes anos?
Encarei-o, séria.
Charlotte: Deixe as piadas para outra hora. Isto é importante. Eu sei quem é ele.
Coloquei o desenho em cima de sua mesa.
Alexander: Ótimo, vamos prendê-lo.
Ele se preparou para levantar.
Charlotte: Não é preciso. Ele está morto.
Alexander me encarou, surpreso.
Alexander: Quando?
Charlotte: Há seis anos.
Agora, estava claro que se sentia confuso.
Alexander: Mas... Você não trabalhava com isso ainda... Ou trabalhava?
Neguei.
Alexander: Então, como sabe disso?
Sorri. Percebi que ele ainda não sabia muitos detalhes sobre o meu passado.
Me sentei numa cadeira em frente a sua mesa.
Charlotte: Acho que... Está na hora de conversarmos sobre algumas coisas.
Ele suspirou.