quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Suspect - Capítulo 11: A teoria que deu certo

11. Não gaste balas a toa.
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A delegacia não era nem um pouco perto do bairro de Santiago.
No meio do caminho, fomos obrigados a esperar um dos sinaleiros voltarem à cor vermelha para os carros, para não sermos atropelados pelos motoristas furiosos com mais um dia de trabalho. 
Scott olhou seu relógio.
Scott: São seis e meia.
Charlotte: E daí?
Scott: Ele já deve estar longe da delegacia.
Suspirei, cansada pela corrida, mas ao mesmo tempo preocupada com as crianças.
O sinal ficou verde para os pedestres.
Scott: O que você quer fazer agora?
Trinta segundos para atravessarmos antes que o sinal de pedestres voltasse ao vermelho.
Scott: Charlotte?
Encarei Scott, determinada.
Charlotte: Vamos até eles.
Sem esperar uma reação, corri o mais rápido que conseguia. Atravessei a rua e corri até o final, cruzando a primeira esquina. Scott tinha dificuldades para me acompanhar, mas eu não podia desacelerar agora. O beco onde havia visto o assassino pela primeira vez estava ali.
Entrei e fui até o final, onde estava a porta.
Scott chegou logo em seguida. Ambos estávamos sem fôlego.
Charlotte: É... Aqui embaixo...
Ele ainda estava se recuperando.
Ficamos em silêncio por provavelmente dois minutos, tentando normalizar nossa respiração.
Ouvimos um grito. Agudo, infantil, e logo soubemos que era delas.
Sem pensar duas vezes, abrimos a porta.
Era uma sala com apenas um dos cantos bem iluminado. Havia sangue seco no chão, cadeiras quebradas, uma maca, e três homens com os olhares focados em nós. Estavam surpresos.
O homem que eu havia levado até a delegacia estava com sua perna enfaixada no local acertado pela faca, sentado de costas para a parede, não muito longe da maca. Wilson, o avô desesperado, estava em pé ao lado do assassino, com as mãos no bolso. O médico, com um bisturi em mãos, olhava para nós e em seguida para o patrão repetidas vezes.
Wilson: Saiam agora e deixamos os dois em paz.
Seu tom de voz era tranquilo, como se já tivesse feito aquilo antes.
Scott: Deixe as garotas em paz e tentamos não matar vocês.
Wilson lançou um olhar para o assassino e este entendeu a ordem. Ele levantou, armado. Não perdeu tempo em atirar. Abaixados, Scott e eu fomos para lados opostos.
Scott sacou sua arma e começou a revidar os tiros. Percebi que havia cometido um erro. Não estava armada, não havia algo que pudesse usar para atacar.
Scott acertou um tiro na perna do assassino, no lugar enfaixado. Ele gemeu e deu mais dois tiros, dos quais um me acertou no braço.
Nem mesmo a adrenalina pôde disfarçar a dor que senti. Por sorte, as balas haviam acabado, dando-me tempo para correr antes que acontecesse mais alguma coisa.
Wilson puxou uma arma e começou uma nova troca de tiros com Scott.
Corri para trás de algumas caixas, sem ser notada pelo velho. Observei que o médico estava abaixado atrás da maca de sua paciente, a qual permanecia em seu estado de sono induzido por anestesias. 
Um grito começou a vir das caixas, um grito que acreditei reconhecer.
O mais rápido que pude, comecei a vasculhar a caixa, procurando uma abertura ou algum tipo de trava para tirar garota de dentro.
Por um momento olhei para Scott, e vi que sua situação não era das melhores. Suas balas haviam acabado, e ele estava dando seu melhor para desviar dos tiros de Wilson. Scott logo iria se cansar, e aparentemente, ainda havia muitas balas para serem gastas por parte do mais velho. Eu precisava ajudar.
Avistei uma segunda caixa ao lado da qual eu tentava abrir. Movimentei-a, tentando descobrir o que havia dentro, e logo soube que era algo pesado, mas não o suficiente para me impedir de levanta-la. Com muito esforço e dor por causa do tiro, ergui a caixa na altura de meus quadris — foi o máximo que consegui  e joguei, tentando acertar o inimigo. Porém, ele viu e logo entendeu meu plano, de forma que, na hora certa, ele se jogou no chão, de modo que o caixote se chocou contra a parede e se quebrou, revelando sacos, agora boa parte furados, de pó branco. Drogas.
No entanto, isso teve um lado bom.
Scott pulara em cima do velho. Falhou em imobiliza-lo, mas conseguiu afastar a arma. Agora eles lutavam corpo a corpo.
Voltei-me para a caixa onde se encontrava a garota e tentei achar qualquer tipo de abertura, mas logo fui chutada no estomago para longe da caixa. A dor do tiro foi substituída temporariamente pela dor do chute. 
Me virei, ainda no chão, para identificar quem praticara tal ato.
Ele sorria vingativamente. Sua perna sangrava por causa do tiro de Scott, mas ele parecia não ligar. Uma faca diferente estava em suas mãos.
Charlotte: Faca nova?
Ele me puxou pelo cabelo, de forma que fui forçada a ficar em pé. Tentei chuta-lo, mas parecia que havia ficado mais atento.
Assassino: Comprei especialmente pra você.
Senti a lamina encostar no meu pescoço. Extremamente afiada.
Scott conquistara a arma de Wilson, que estava com as mãos erguidas em sinal de desistência.
A garota gritava na caixa.
O assassino sussurrava o que faria após me matar. Nojento.
E então um grito de uma segunda criança surpreendeu a todos. A menina acordara.
Menina: Vovô!
Ninguém ousou dizer uma palavra. Wilson se virou para encara-la, ela estava totalmente confusa. Ele encarou Scott, seu olhar de raiva havia mudado para pena e desespero. Estava preocupado com a neta, com o que ela veria.
Scott abaixou a arma e indicou a criança. O homem primeiramente deu alguns passos ainda de frente para Scott, receoso. Quando soube que podia confiar, correu até a garota e a abraçou.
Scott se virou para ver como eu estava lidando com a situação, e arregalou os olhos ao ver o que acontecia.
A faca do assassino permanecia em meu pescoço. Scott apontou a arma para ele.
Assassino: Faça isso e dou um fim nela.
Ele pressionou a faca com mais força. Senti um corte, por ora insignificante, sendo feito.
Scott: Faça isso e dou um fim em você.
Por sorte, Wilson se manifestou. 
Wilson: Largue a faca.
Não sabia se estava preocupado com o provável trauma que a criança sofreria se visse, ou se apenas estava sendo dominado pelo temporário sentimento de compaixão causado pela inocência da menina. Talvez, após o fim de tudo aquilo, ele até entrasse para o Greenpeace.
O assassino permaneceu imóvel e as ordens tiveram que ser repetidas.
Finalmente, fui solta. Ele me empurrou, com raiva, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e caísse. Aproveitei a oportunidade em que Scott me ajudara a levantar para lhe dizer, num sussurro, sobre a garota na caixa.
Fomos até ela e começamos a procurar um modo de abrir. O assassino estava visivelmente preocupado.
Assassino: Chefe?
Wilson permaneceu em silêncio.
Consegui achar uma trava.
Assassino: Chefe!
Scott me ajudou a levantar a tampa. A garota estava encolhida, chorando. Estava num estado deplorável.
Peguei-a no colo, tentando acalma-la.
Scott: Onde está a outra?
Wilson: Que outra? Só há essa.
Scott: Você a matou?
Wilson: Eu não sei do que você está falando.
Scott atirou, acertando o chão próximo aos pés do velho. Wilson se virou para o assassino. Era difícil dizer quem estava mais preocupado.
Wilson: Mostre a ele.
Assassino: O que?
Wilson: Mostre a ele.
As ordens do velho eram firmes e nervosas. Tinha medo que machucássemos a neta, já que estávamos em vantagem.
O assassino murmurou alguns palavrões e guiou Scott até uma porta no canto da sala.
Ao sair, a expressão facial de Scott dizia tudo. A garota estava morta.
Scott: Aproveitem seus últimos dias de liberdade.
Em seguida, se direcionou a saída, enquanto avisava para deixar o corpo da garota ali.
Eu o segui, ainda com a criança no colo. Ela ainda chorava, e parecia ter mais medo de Scott do que de mim.
Charlotte: O que fazemos agora?
Scott: Temos que entrega-la aos pais.
Notei que Scott estava verdadeiramente cansado.
Scott: A casa de Olivier é na próxima rua. Vou deixa-la lá.
Coloquei a garota no chão.
Charlotte: Eu vou com você. A delegacia é no mesmo caminho.
Ele concordou.
Nos apresentamos para a menina da maneira mais gentil possível. Tentamos dizer coisas felizes como "você logo encontrará seus pais". Em poucos minutos ela parecia ter esquecido tudo e começou a sorrir.
Guiando-a pelas mãos, levamos a garota até seu avô. Nossa caminhada foi silenciosa, cada um com seus pensamentos.
Oliver observava a janela, e quando nos viu, imediatamente saiu da casa e veio até nós. Chorou ao ver a neta. Ele a mandou para dentro da casa, e pelos gritos logo soubemos que os pais estavam lá.
Oliver começou a tirar notas altas do bolso, mas Scott disse que não precisava.
Scott: Eu não matei ninguém. Na verdade...
Ele suspirou.
Scott: Vamos ter que conversar. Não agora. Você tem coisas mais importantes para se ocupar.
Oliver pareceu entender. Abriu um sorriso de alivio e se despediu, voltando para a casa.
O céu estava ficando nublado.
Charlotte: Então é isso.
Scott: Você... Vai voltar para a delegacia?
Charlotte: É, acho que sim.
Pode ter soado rude, mas eu virei às costas e fui embora. Ignorei a quantidade de vezes que meu nome foi chamado. Ignorei a chuva, que mal começara, mas já caia agressivamente. 
Percebi que estava começando a me acostumar com a dor, o que não era bom sinal.
Avistei um pequeno parque. Havia escorregadores e balanços para as crianças.
Subi pela escada até o topo do escorregador, o "castelinho" em que as crianças faziam fila para descer no brinquedo.
Respingos da chuva ainda caiam sobre mim, mas não me importei. Concentrei-me no som da chuva no teto alaranjado do castelo, e procurei descansar.
Eu voltaria para a delegacia, mas naquele momento eu só queria ficar sozinha. Sabia que se voltasse agora, haveria uma pequena chance de encontrar alguém que me faria muitas perguntas, as quais eu não tinha a mínima vontade de responder.
Então, senti algo. Algo quente. Não era o vento, mas sim a respiração de alguém, e logo percebi que estava lentamente ficando mais próximo, abri os olhos.
Vindo dele, já não saberia se devia ficar surpresa.
Se não fosse pelo guarda-chuva preto ao seu lado, e pelo fato de que estava seco, diria que havia acompanhado meu passo tranquilamente.
Scott: Oliver me deu isso com a condição de vir atrás de você... E eu sempre cumpro a minha palavra.
Permaneci em silêncio, encarando-o. Jamais poderia imaginar que alguém viria atrás de mim sem querer me prender, principalmente com o cansaço que podia acreditar que ambos sentíamos. 
Em poucos segundos, seus lábios encontraram os meus.
Foi um beijo calmo, doce. Nesse momento, foi como se todos os problemas tivessem desaparecido. Pela primeira vez em muito tempo, pude me sentir verdadeiramente tranquila.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Suspect - Capítulo 10: Uma grande teoria

10. Esteja sempre em boa forma, nunca se sabe quando precisará correr.
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Uma pessoa em sã consciência se afastaria e fingiria que não ouviu nada, ou chamaria a polícia e sairia dali o mais rápido possível. Alguns corajosos, armados, entrariam ali. No meu caso, entrei sem arma ou reforço. Não sei se isso seria uma "coragem suprema" ou uma extrema burrice. Provavelmente a segunda opção.
Avancei até avistar a silhueta de um homem. De início, ele não notou a minha presença. Preferi observar suas ações, já que estava em desvantagem. Pude ouvi-lo fechar uma porta, provavelmente o local onde a criança estava. Ainda era possível ouvi-la chorar. Ele se virou, e então pude ver seu rosto. Havia uma expressão de tranquilidade. Em suas mãos, uma faca manchada com sangue.
Quando ele me viu, sua expressão mudou para fúria. 
Homem: O que está fazendo aqui? Esse lugar não é ideal para garotas.
Cruzei os braços e passei a encarar a faca.
Homem: Você não viu nada, certo?
Movi a cabeça em sinal positivo.
Homem: Ora, sua...
Ele não completou a frase, pois se ocupou em me atacar. Desviei de um golpe com a faca que mirava o meu pescoço, mas, em compensação, ele agarrou meu braço. O homem era mais forte do que aparentava. Ele continuava tentando me acertar com a faca, mas enquanto eu desviava, atraia-o para a rua. Num momento de distração acertei seu nariz com meu punho. Atordoado, lancei-o para a rua no exato momento em que uma moto passava a toda velocidade. 
O impacto fez com que o motoqueiro caísse, mas acredito que os danos maiores foram causados ao homem atropelado.
Encarei-o ali no meio da rua, e então tive uma ideia. Corri até o motoqueiro e ajudei-o a se levantar. Não estava gravemente ferido, mas sentia dores fortes no braço e na perna por causa da queda. Me ofereci para acompanha-lo até um hospital, mas, como pretendido, ele recusou. Depois de se arrumar, foi embora lançando-me um sorriso que preferi ignorar. Algumas pessoas paravam para observar o que estava acontecendo. Percebi que o homem estava pouco consciente, de forma que pude pegar sua faca sem reclamações. Em seguida, consegui faze-lo levantar e apoiar um de seus braços no meu ombro. Eu o levei para a delegacia. Pela hora, provavelmente Alexander já teria ido embora. Não foi tão fácil.
Algumas vezes, enquanto caminhávamos, notei que ele estava voltando a ter consciência do que estava acontecendo, fazendo com que eu aplicasse alguns golpes que o atordoava por um tempo. Eram quase sete horas da noite e os policiais estavam na troca de turnos. Assim, passei despercebida. Ao chegar à porta que levaria para o corredor entre meu quarto e a sala de Alexander, notei que havia um garoto bloqueando a passagem. Ele deveria ter seus vinte e três anos, e usava o uniforme da policia. Estranhei, pois nunca havia o visto.
De alguma forma, ele me reconheceu. 
Policial: Você deve ser a Charlotte, certo? 
Não respondi, perplexa. O homem pesava em meus ombros. 
Policial: Alexander me falou de você!  Ele pediu para supervisiona-la. Você sabe, entrei na academia recentemente e ele gostou de mim... Deve estar me testando para algo maior...
A felicidade com que ele dizia aquilo era sobrenatural.
Revirei os olhos e avancei em direção a porta, mas ele a bloqueou.
Policial: Ele me disse as regras. Sem homens. 
Charlotte: Não vou obedecer a suas ordens. Estou trabalhando, você pode me dar licença? 
Em seguida, chutei sua canela e ele se agachou, com dor. Abri a porta, que estava apenas encostada, e joguei o homem no chão do corredor. 
Voltei-me ao policial, que agora estava sentado ao pé da porta.
Charlotte: Você tem algemas? 
Policial: O quê?
Charlotte: Algemas.
Policial:  Não vou te dar algemas!
Charlotte: Não estou pedindo.
Dessa vez chutei seu estomago e ele gemeu. Em seguida, esticou-as junto das chaves.
Este não era um comportamento comum vindo da minha parte. Mas, normalmente, os policiais que me conheciam costumavam a me ajudar. O novato, no entanto, era um tanto fiel demais a Alexander, de maneira que me atrapalhava.
Charlotte: As chaves da sala dele.
Policial: Não posso... Fazer isso...
Deixei a faca amostra. Não era como se eu fosse realmente fazer algo, mas ele exalava medo e não hesitou em me dar o chaveiro. Agradeci, sorrindo como se nada tivesse acontecido.
No chaveiro havia três chaves: da porta principal, da porta da sala e das gavetas da mesa de Alexander.  Abri a porta e o arrastei. Obviamente, ele era pesado. No meio do caminho, ele acordou e começou a dificultar o meu trabalho. Encarei a faca que eu segurava. Era muito difícil arrastar alguém com um objeto daqueles em mãos. 
Ele sentou no chão. Era claro que estava com dores na cabeça - e em todo o resto do corpo.  
Charlotte: Acho melhor você levantar. 
Homem: Se não o que?
Seu tom era zombador. Joguei a faca com força em sua perna. Eu não tinha uma mira, até porque eu não era lá essas coisas em tiro ao alvo, mas, por sorte, acertei sua coxa.
Ele urrou de dor.
Charlotte: Agora você vai fazer o que eu mandar, não é?
Ele permaneceu calado. Lentamente, retirei a faca de sua perna, da forma mais dolorida possível. Chutei sua perna e ele novamente gritou. 
Charlotte: Eu fiz uma pergunta. 
O homem me encarou, um olhar vingativo tomava conta de seus olhos. 
Charlotte: Sente-se naquela cadeira.
Indiquei a cadeira de Alexander.
Gemendo, ele mancou até a cadeira. Sorri, satisfeita. Caminhei até ele e coloquei as algemas, uma delas em uma de suas mãos, e outra na mesa do delegado, que era soldada ao chão.  Notei que Alexander havia deixado um casaco no cabideiro que ficava no canto da sala. Sabendo que ele sempre tinha um par de algemas escondido em algum lugar, vasculhei a peça. Em um dos bolsos internos, lá estava. Usei para prender a outra mão a mesa. Ele se esforçava para se soltar, mas era totalmente inútil. O homem gritava, e isso começou a me preocupar. Não queria chamar atenção. 
Fui até uma das gavetas de Alexander e a abri. Ele tomava calmantes. Eu sabia disso porque várias vezes ele dissera que eu era a culpada por isso. 
Peguei um dos frascos e agradeci por ser líquido, facilitaria meu trabalho. Abri o vidro e dei meu melhor para fazê-lo engolir o conteúdo. Ele tossia e ainda gritava, mas sabia que logo ficaria calmo o suficiente para me dar uma tranquila noite de sono.
O remédio demorou quase meia hora para fazer efeito, mas valeu a pena esperar.
Cansada, mas satisfeita, me dirigi ao meu quarto e por lá fiquei até adormecer. 
Acordei no dia seguinte com gritos de Alexander no lado de fora da minha porta. Caminhei, sonolenta, e a abri. Ele estava irritado. 
Alexander: Charlotte.
Charlotte: Em carne e osso. 
Alexander: Que m...
Ele respirou fundo. Alexander estava tentando controlar seu vocabulário, a pedidos de sua namorada. 
Alexander: Quem é esse?
Charlotte: Eu não sei. 
Alexander: O quê? 
Charlotte: Ele estava esfaqueando alguém num beco, achei ele com uma faca ensanguentada. Resolvi fazer uma boa ação e o trouxe pra cá. 
Ele começou a sussurrar meu nome como um tom de ódio.
Alexander: Tire ele daqui. 
Charlotte: Esse é o seu trabalho, não o meu.
Alexander: Você o trouxe. 
Charlotte: Quando uma pessoa entrega um sujeito à polícia, é obrigação dela cuidar do caso?
Ele permaneceu em silêncio. 
Charlotte: Boa sorte.
Voltei para o meu quarto e tranquei a porta. Ele tentou me chamar algumas vezes, mas ignorei.
Eu não tinha muita coisa para fazer a não ser esperar até o momento de ver Santiago.
Tentei evitar Alexander o máximo possível. Sabia que levaria um longo e entediante sermão se o encontrasse.
Perdi o almoço e só sai do quarto quando eu soube que ele não estava mais por perto, e então fui até a casa do informante, dessa vez mais tranquila em relação ao local.
Caminhei lentamente, levando aproximadamente quarenta minutos para chegar ao local.
Não precisei dizer algo, pois os dois homens em frente à casa logo me reconheceram. 
Um deles se levantou e fez sinal para que eu o seguisse. Seu rosto mantinha uma expressão desconfiada.
Fizemos o mesmo trajeto do dia anterior até o ultimo quarto da casa.
Santiago estava lá, no mesmo lugar e posição do dia anterior.
Santiago: Charlie!
Fiquei surpresa, confesso. Havia tempo que não me chamavam por esse apelido.
Charlotte: Não me lembro de termos nos tornado tão íntimos.
O homem que havia me guiado nos deixou a sós.
Santiago: Venha, pode se aproximar.
Receosa, caminhei para perto da mesa. Havia sete fotos além da que eu havia dado a ele em cima da mesa. Três eram de idosos, enquanto outras quatro eram de crianças, todas garotas. Duas delas, gêmeas. A foto rasgada estava no meio das outras, que formavam um circulo em volta dela.
Santiago indicou uma cadeira próxima à mesa, e então fui até ela e me sentei.
Ele apontou para as fotos dos idosos. O primeiro era Adam, e o segundo era Oliver. O terceiro era o homem cortado da foto, seu nome era Wilson.
As gêmeas eram netas de Wilson, enquanto as outras duas eram de Adam e Oliver.
Santiago: Uma das gêmeas morreu por um problema nos rins. Ela deveria fazer um transplante, mas o órgão nunca chegou até ela.
Charlotte: Foi roubado?
Santiago: Exatamente. O tipo de sangue dela era O negativo.
Santiago pegou a foto da gêmea morta e a amassou, colocando-a num dos cantos da mesa.
Santiago: Recentemente, a outra gêmea foi diagnosticada com o mesmo problema da irmã, mas dessa vez ela foi para um lugar muito baixo na lista. Os médicos acham que, pela demora em achar um novo órgão para ela, a garota vai morrer logo. Eu cheguei a mencionar que as outras duas garotas também tem o mesmo tipo de sangue?
As coisas estavam começando a fazer sentido. Wilson havia sequestrado as filhas de seus amigos para salvar sua ultima neta.
Charlotte: Como ele sabia o tipo sanguíneo delas? E por que Adam e Oliver não desconfiaram de Wilson?
Santiago: Ele descobriu, querida, da mesma maneira que descobri. E Adam e Oliver jamais desconfiariam de Wilson porque, há muitos anos, ele simplesmente sumiu. Ambos guardaram rancor dele, já que todos estavam passando por um momento difícil, mas entre os três ele era o que estava em melhores condições. Os velhos acham que ele sumiu para não ajudá-los, mas na verdade ele apenas fugiu com uma mulher. 
Charlotte: Isso não explica o porquê de um desconfiar do outro.
Santiago: Recentemente, Adam e Oliver brigaram. Provavelmente, Wilson estava apenas esperando o momento certo para que não tivesse que se preocupar em cobrir seus rastros. 
Ele empurrou as fotos para o canto da mesa, junto da gêmea amassada. Em seguida, Santiago jogou novas fotos. Dessa vez eram quatro, todas de homens. A primeira ele indicou como o médico que tiraria os órgãos de uma das crianças, contratado por Wilson. O segundo, era o sequestrador das crianças, também contratado por Wilson. O terceiro, era quem mataria uma delas ou ambas, caso o transplante não desse certo. Santiago explicou que, ele contratou o terceiro pois o médico e o sequestrador recusaram a fazer o serviço. Enquanto o quarto, eu infelizmente conhecia.
Santiago: Não preciso dizer que este é Scott, o assassino contratado por Oliver.
Com esta frase, pude perceber que eu havia sido investigada.
Santiago: É isso o que eu tenho. Espero que seja útil a você.
Voltei a observar as fotos. Reconheci o assassino de crianças como o homem que eu havia levado até a delegacia na última noite. 
Peguei todas as fotos que Santiago havia mostrado, exceto pela de Scott.
Charlotte: Posso?
Santiago: À vontade.
Me levantei e caminhei em direção à porta. Antes de sair, ele ainda se manifestou.
Santiago: Ei, querida.
Virei-me para encara-lo.
Santiago: Não se esqueça, você me deve um favor.
Assenti e então sai do cômodo. Dessa vez, não havia ninguém esperando ao lado de fora.
Já conhecendo o caminho, me dirigi para fora da casa. Agora eu deveria ir correndo até a delegacia e torcer para que Alexander não tivesse soltado o homem.
Quando virei na primeira esquina, lá estava ele, encostado numa placa que dizia "PARE".
Charlotte: Por que você está em todo lugar que eu vou?
Scott: Acreditaria se eu dissesse que é pura coincidência?
Charlotte: Não.
Scott: Então vou pensar em outra coisa.
Tentei ignora-lo e não ficar conversando enquanto apressava o passo até a delegacia. E então ele começou a me seguir.
Scott: Aonde você vai com tanta pressa?
Charlotte: Para a delegacia. Adam não sequestrou a neta de Oliver, nem vice versa. Foi Wilson. E eu peguei o homem que fez o trabalho sujo dele.
Agora, nós dois estávamos quase correndo.
Scott: Quem é Wilson?
Resumi a história da melhor maneira possível. Expliquei que Wilson era um amigo antigo deles que havia fugido com uma mulher, e que ele havia sequestrado as filhas dos outros dois por terem um tipo sanguíneo compatível, e assim tentaria salvar sua neta.
Charlotte: Se pegarmos esse cara, ele pode nos levar até as garotas e até Wilson.
Scott: E assim, ninguém morre.

Charlotte: Isso se ele já não tiver colocado o plano em ação.