quarta-feira, 22 de julho de 2015

Suspect - Capítulo 13: Meus pêsames

13. Olhe sempre para todos os lados. E isso inclui cima, baixo e diagonais.

Me levantei. Dessa vez eu iria embora, sem distrações.
A porta da varanda permanecia aberta. Passei por ela tentando ser o mais silenciosa possível. Não sabia que horas eram e, caso Scott estivesse dormindo, não queria acorda-lo. No entanto, quando entrei no cômodo, notei a cama arrumada e sem sinais de qualquer pessoa no quarto.
Avistei uma porta de madeira comum, aberta. Aquela era a saída. Estava me direcionando a ela quando Scott saiu de outra porta — que supus ser o banheiro ou algum tipo de closet — e sorriu ao me ver. 
Scott: Finalmente você acordou.
Direcionei meu olhar para o relógio do criado mudo, que marcava oito horas, para tentar não encara-lo.
Scott vestia uma calça social e uma camisa (também social) escura, completamente aberta, deixando amostra seu peitoral bem definido. Parecia quase impossível ele não ter conseguido me acompanhar na corrida do dia anterior. Exceto por, é claro, se ele já tivesse corrido ou feito algo do tipo antes. Perguntas se formaram na minha mente, mas não era da minha conta, então as ignorei.
Infelizmente, Scott notou o motivo de meu distraído silêncio.
Se dirigindo a um espelho que até então eu não havia notado, ao lado da porta de que saíra, ele começou a abotoar a camisa. Podia ver seu sorriso — uma mistura de malícia com satisfação —, enquanto terminava de se arrumar.
Charlotte: Eu vou voltar pra delegacia. 
Ele se virou, agora devidamente vestido.
Scott: Tudo bem. Temos um almoço marcado hoje com Oliver e Adam. 
Encarei-o, interrogativa. Não me lembrava de ter marcado algo, ou melhor, de ter pedido para que ele marcasse algo.
Charlotte: Nós temos? Você já parou para pensar que eu poderia ter outros planos para hoje?
Ele caminhou em direção à porta que levava a saída do quarto.
Scott: Se você realmente tivesse algum plano, teria ido direto ao ponto.
Xinguei mentalmente.
Eu não estava brava por ter um almoço marcado, mas sim por Scott ter feito isso sem me consultar. Não queria que ele interferisse na minha agenda assim, e esperava que essa fosse a primeira e última vez que fizesse algo do tipo.
Passei pela porta e segui por um corredor até chegar a um lance de escadas em espiral. Ainda havia um terceiro andar, mas não seria dessa vez que eu conheceria o lugar.
Desci as escadas e me impressionei não só com a organização e a decoração, como também com o tamanho do lugar. Era maior do que muitas casas em que eu já havia entrado. 
Claramente, os móveis eram todos feitos sob medida. Tinham um design moderno e pareciam combinar com o estilo de Scott.
Ele foi na frente, me direcionando até a porta de saída. Digitando uma senha num tipo de interfone na parede, Scott abriu a porta.
Scott: Queria poder leva-la, mas ainda tenho coisas para fazer nessa manhã. 
Scott se ofereceu para pagar um táxi, mas neguei, dizendo que queria caminhar um pouco.
Ele tentou se aproximar para um beijo, mas eu desviei, passando direto pela porta.
Encostado no limiar da porta, ele me observou ir até o portão, que também estava aberto. A casa era rodeada por muros altos de pedra. Scott deveria se esforçar para ter uma segurança máxima depois do que acontecera com seus pais.
Na metade do caminho me virei em direção a Scott.
Charlotte: Obrigada. Por tudo.
Não sei se soou sincero o suficiente, mas torci para que ele acreditasse.
Voltei meu caminho para a saída da casa, e assim que cruzei o portão, ele foi automaticamente fechado.
A casa de Scott ficava no fim da rua, literalmente no centro, deixando aquele caminho sem saída. 
Era uma rua silenciosa, sem movimento, e todas as casas eram grandes e com aparência rica. Ainda assim, a de Scott era a maior.
Olhando para trás, era possível ver a partir do segundo andar. Os muros altos de pedra isolavam a casa de todo o resto.
Ao virar na primeira esquina, no entanto, a realidade era bem diferente daquela rua. Carros passavam em alta velocidade, a maioria se dirigindo ao centro da cidade, o foco do comércio e das grandes empresas. 
A delegacia ficava no caminho do centro, na última esquina, uma rua mais calma se comparada com a principal. Se meus cálculos estivessem certos, a delegacia deveria ficar a aproximadamente 40 minutos de onde eu estava.
Caminhei enquanto muitos pensamentos gritavam em minha mente ao mesmo tempo. No entanto, um se destacava, de forma que meus esforços para ignora-lo estavam sendo em vão.
À tarde anterior no parque, após o encontro com Wilson. 
Uma parte de mim dizia para aceitar o ocorrido. Que eu havia gostado. Não fora algo forçado e teria sido romântico se eu não tivesse sido baleada. 
A outra parte, no entanto, dizia que aquilo havia sido errado. Dizia que eu estava cansada, frágil e que Scott apenas tirara proveito da situação. 
Sinceramente, queria acreditar na minha segunda parte, mesmo que a primeira estivesse sendo tão persistente que eu estava começando a duvidar dos meus próprios sentimentos.
Não. Eu não podia me dar o luxo de sentir algo por alguém. Eu era uma assassina e não podia mais voltar atrás nisso. Mesmo que resolvesse largar tudo agora para seguir uma carreira que a lei permitisse, um dia meu passado ressurgiria e eu e qualquer um que estivesse comigo sofreria as consequências, quaisquer que fossem elas. Eu precisava ficar sozinha.
Pelo resto do caminho pensei em como contaria a Adam que sua neta havia sido assassinada. Se Oliver o encontrasse antes de mim e Scott, haveria a possibilidade de ele acabar sabendo antes do planejado, o que poderia afetar o rumo que a conversa levaria. 
Passei a mão no local com os curativos. Doía ao toque, mas tinha certeza de que até o fim do dia mal sentiria algo ali.
Cheguei à delegacia poucos minutos antes do relógio marcar exatas nove horas. Caminhei até a sala de Alexander e torci para não encontra-lo até depois do almoço. Sabia que ele falaria algo por eu ter sumido sem avisar. Um sermão bem longo.
Era interessante como Alexander se preocupava com minhas saídas e horários. Tinha a impressão que ele temia que eu não voltasse, mesmo achando que essa seria uma solução para vários de seus problemas.
Quando abri a porta, encontrei-o no corredor espelhado, saindo de sua sala.
Alexander: Charlotte!
Fechei a porta, suspirando. 
Alexander: Onde diabos você se meteu? Você acha que pode voltar a hora que quiser para cá? Já parou para pensar que quando tivermos novos policiais que não a conhecem aqui, não vão deixar você entrar? Você...
Em menos de um minuto, Alexander conseguiu me fazer perder a paciência. Ele era bom nisso. Tinha anos de prática.
Ainda parada em sua frente, encarei-o de maneira firme, mas com uma expressão irritada. Resolvi interromper.
Charlotte: Cale a boca.
Durante todos os anos em que convivi com Alexander, brigamos muito. Houve apenas duas ou três vezes em que ele notou meu humor pelas expressões e optou por se calar. Nas outras, ele ignorava e continuava o discurso por longos minutos.
Entrei no meu quarto e fechei a porta. Naquele momento eu só queria um banho e relaxar um pouco.
Não vou negar que odiava o fato de morar na delegacia, mas aquela era minha casa e de certa forma, eu me sentia bem naquele pequeno espaço que era meu quarto. O tempo me obrigara a sentir isso.
Alexander me dera algumas horas para que eu pudesse me organizar e relaxar, de forma que, depois de pronta, não sai mais de meu quarto até o relógio marcar dez para o meio dia.
Finalmente resolvi sair dali e ir para o meu almoço marcado contra a minha vontade. 
Sai da delegacia e por sorte não encontrei Alexander. Nesse momento, percebi que não havia combinado um ponto de encontro com Scott ou sequer havia perguntado aonde iríamos. 
Suspirando, caminhei pela rua até chegar numa das esquinas. Tinha certeza de que Scott apareceria de alguma maneira inusitada.
Andando lentamente até a esquina oposta, substitui meus pensamentos sobre Scott por outros mais importantes, por exemplo, como iríamos falar que uma das crianças estava morta. 
Chegando até a placa com indicação das ruas, olhei para os dois lados. Na rua seguinte, parado em frente a uma lanchonete, Scott estava encostado no que supus ser o seu carro, de óculos escuros e lendo uma revista. 
Fui até o carro. Ele me avistou antes que eu chegasse ao automóvel e andou até a porta do passageiro. Abriu-a quando me aproximei.
Scott: Madame.
Seu sorriso de satisfação me irritava, assim como aquela situação. Xinguei-o, mas ele não deu sinais de ter sido abalado.
Scott entrou no carro, mas hesitou em liga-lo. Ele me encarou.
Scott: Como você pretende contar?
Charlotte: Contar o quê?
Desviei o olhar para a visão da janela ao meu lado. Eu não possuía argumento algum para fazer Scott contar a Adam, afinal, ele era o meu cliente.
Mesmo que eu cometesse assassinatos várias vezes durante a semana, mortes de inocentes ainda me chocavam. Principalmente de crianças. E mesmo com minha regra pessoal de "não ter sentimentos no trabalho", situações como essa eram sempre complicadas. Qualquer erro poderia causar uma reação exagerada do cliente e minha profissão poderia ser revelada.
Scott pousou sua mão em cima da minha.
Scott: Vai ficar tudo bem, certo?
Direcionei minha visão para aquela posição e permaneci calada por alguns segundos, até resolver tomar uma atitude.
Charlotte: Não me toque.
Scott retirou sua mão e ligou o carro.
Scott: Você não disse isso ontem.
Naquele momento, tive uma visão de como seria agredi-lo ali mesmo. Seria realmente prazeroso. 
Charlotte: Aquilo significou algo pra você? 
Scott: Você quer que tenha algum significado?
Aquela pergunta me pegou. Parecia que era a questão chave para os pensamentos que estavam me incomodando desde que eu começara a pensar no assunto. Mas não podia refletir sobre aquilo agora.
Me virei para encara-lo.
Charlotte: Não vejo motivo para ter algum. Até porque eu estava totalmente vulnerável e...
O sinal passou para vermelho e Scott aproveitou para me encarar.
Scott: E foi assim que você acabou na minha cama.
Seus olhos brilhavam de diversão.
Charlotte: Por que você faz isso soar errado?
Scott: É você que está interpretando da maneira errada. Talvez seja algum... Desejo?
Charlotte: Desejo? Meu único desejo com você envolve nosso trabalho.
Scott: Ah, parece que você gostou de trabalhar em equipe. Não acho isso tão romântico, mas podemos dar um jeito.
Suspirei. Eu estava pensando em algo para dizer contra a ideia de Scott, mas meus pensamentos foram interrompidos ao avistar, no porta copos do motorista, uma seringa com um líquido pronto para ser injetado a qualquer momento. Quetamina. 
Quetamina era um tipo de anestésico, muito usado em processos cirúrgicos. Obviamente, também era misturada com outras drogas para ajudar no efeito das mesmas, principalmente na forma de pó. O líquido, em certas quantidades, podia fazer com que uma pessoa apagasse por horas.
Meus olhos se fixaram naquilo e permaneci em silêncio. O único pensamento em minha mente era "por que ele está com isso preparado agora?".
Scott se virou para me encarar novamente e dirigiu o olhar para o mesmo lugar que eu, então o encarei furiosa. 
Scott: Qual o problema?
Ele pareceu levar alguns segundos para entender o motivo da minha expressão.
Scott: Você não acha mesmo que eu vou usar isso em você, acha?
Continuei em silêncio. Por apenas alguns minutos, qualquer humor ali existente havia sumido. Mas, obviamente, esses minutos foram poucos.
Scott: Não é como se eu realmente fosse precisar usar algo do tipo com você.
Charlotte: Você é confiante demais.
Ele sorriu. 
Ficamos calados pelo resto do caminho. Mesmo com a negação de Scott sobre o uso da quetamina, fiquei atenta a todos os seus movimentos. 
O restaurante onde iríamos almoçar ficava pelo menos uma hora da delegacia a pé. Por um momento, comemorei mentalmente o fato de estar usando tênis.
Entramos no local e avistamos Adam e Oliver sentados numa mesa ao lado da janela com vista para um parque onde crianças corriam. 
Os dois estavam sentados lado a lado e conversavam amigavelmente. Ninguém poderia imaginar que há pouco tempo haviam contratado assassinos para matarem um ao outro. 
Tinha expectativas de que Oliver já houvesse contado a Adam sobre a neta, mas o olhar ansioso dirigido a mim e a Scott fez com que eu logo percebesse que provavelmente nem sequer tivessem tocado no assunto. 
Nos sentamos e, após os cumprimentos, conversamos um pouco sobre vários assuntos ao mesmo tempo. Adam e Scott pareciam conversar sobre o bairro, enquanto Oliver me contava o quanto sua neta falou de mim e Scott após termos salvado-a. Algo na maneira em como ele se referia a nós dois fazia com que eu me perguntasse sobre qual tipo de relação aquele senhor achava que eu e Scott tínhamos.
Scott me ajudou a adiar o máximo possível minha revelação para Adam pedindo vários pratos e abordando vários assuntos que pareciam atrair o velho, mas, depois de algum tempo, quanto mais demorávamos, mais quieto ele ficava, de forma que, em certo momento, só percebemos que Adam não prestava mais atenção no assunto quando todos na mesa ficaram em silêncio e Oliver, ao fazer uma pergunta ao amigo, recebeu uma resposta em forma de um sussurro incompreensível.
Foi assim que percebi que havia chego a hora.
O silêncio constrangedor na mesa durou alguns segundos. Passei a encarar meu copo, pensando com que palavras diria a Adam.
Oliver, se levantando, convidou Scott para ir até o parque em frente ao restaurante. Sem dizer uma palavra sequer, ambos se retiraram do local deixando apenas eu e meu cliente na mesa.
Dirigi meu olhar a Adam e percebi que ele tentava evitar me encarar. Uma de suas mãos brincava com um palito de dente sob a mesa. Segurei-a, num gesto de compaixão, e seus olhos se encheram de lágrimas.
Charlotte: Adam...
Adam: Apenas me diga... Como? 
Seus olhos estavam fechados fortemente e ele tentava a todo custo evitar as lágrimas.
Contei tudo a ele. Desde Santiago até encontrarmos a neta de Oliver. Também disse que o corpo da menina permaneceu no local, pois não tínhamos como retira-lo de lá naquele momento.
Adam desabou em lágrimas.
Para aqueles que sabiam de toda a história era uma cena triste de assistir. Enquanto esperava Adam se acalmar, percebi que durante meu treinamento aprendi a ser indiferente e a evitar sentimentos como tristeza, algo que uma pessoa "normal" sentiria ao ver algo como Adam naquele estado. Cheguei à conclusão que se eu conseguisse sentir algo naquele momento, seria apenas culpa por não ter ficado triste, mas logo percebi que também não havia motivos para isso. 
Aquilo estava começando a ficar desconfortável e eu começava a me perguntar o porquê de ainda estar ali, afinal, eu já havia feito a minha parte. Mas Adam parecia estar se recompondo aos poucos.
Ficamos em silêncio por pelo menos meia hora. Em algum momento, olhei pela janela e pude avistar Scott e Oliver sentados num banco ao lado de uma árvore, conversando animadamente.
O celular de Adam tocou. Ao olhar o número ele suspirou e atendeu, mas permaneceu em silêncio. Pude ouvir gritos e uma mulher chorando e logo tive uma ideia de quem seria. 
Adam se levantou de repente, visivelmente furioso. Permaneceu em pé em frente à mesa enquanto terminava de ouvir algo e então apenas disse "eu estou indo". Antes que ele pudesse sair de fato da nossa mesa, me levantei, bloqueando sua passagem e perguntando o que havia acontecido. Scott e Oliver chegaram no mesmo momento.
Adam olhou para todos nós e seus olhos voltaram a lacrimejar. Oliver passou por mim e guiou o amigo até seu lugar na mesa e todos nós nos sentamos novamente.
Após respirar fundo algumas vezes para tentar conter as lágrimas, ele finalmente falou.
Adam: Jogaram o corpo dela na frente da casa da minha filha.
O idoso voltou a chorar e Oliver o abraçou. Adam xingava o velho amigo e assassino com diversas palavras e termos diferentes, de forma que pude ampliar meu vocabulário. 
Quando seu amigo finalmente o soltou, Adam lançou um olhar cheio de ideias para mim e Scott.
Adam: Vocês. Vocês dois. Vocês podem mata-lo, não podem? Isso seria justo. Isso seria magnífico!
O sorriso que surgiu em seu rosto enquanto dizia sua vontade era, no mínimo, assustador.
Oliver: Adam, você não acha isso loucura? Podemos entrega-lo a polícia e...
Os olhos de Adam estavam arregalados, como um louco.
Adam: E o que? Você acha que a polícia vai fazer algo justo? ELE MATOU A MINHA NETA!
As pessoas das mesas próximas lançaram olhares cheios de expressões para nós. 
Oliver falava baixo, tentando acalmar o amigo para que ele não falasse demais, mas não estava tendo muito resultado.
Adam: Vocês podem fazer isso. Eu pago o quanto vocês quiserem, apenas vinguem a morte dela.
Adam voltara a chorar. 
No relógio de parede do restaurante, vi que já eram duas horas da tarde. O tempo havia passado rápido e eu precisava controlar. Naquela noite eu teria um trabalho.
Scott pedira algumas sobremesas para nós e no final Adam fora o único que não comera.
Oliver tentara puxar assuntos diversos para distrair o colega pelo menos por algum tempo.
Adam, que permaneceu quieto durante toda a conversa, se levantou e disse que iria até o parque.
Oliver: Eu vou com você.
Adam: Não, eu... Só vou pensar.
Ele murmurou algumas vezes para si mesmo as palavras "é" e "pensar" e então saiu. Estava realmente atordoado.
Após sua saída, ficamos em silêncio até conseguirmos avistar Adam no parque. Ele se sentara no mesmo lugar em que Oliver e Scott estiveram.
Oliver então começou a puxar assunto.
Oliver: Vocês sempre trabalharam juntos?
Essa foi a primeira de muitas outras perguntas do tipo e Scott respondera todas. Algumas vezes fui obrigada a abrir a boca para desmentir alguns fatos. Isso é, todas as vezes.
Quando Adam voltou, já era fim de tarde. O único pensamento em minha cabeça era o de que meu dia havia sido perdido.
Ele permaneceu em pé enquanto conversava com Oliver e ficou claro que ele estava melhor do que antes.
Após alguns minutos, decidimos que era hora de encerrar nosso encontro. Scott pagou a conta e a dupla de amigos se despediu de nós. 
Estávamos na frente do restaurante quando Scott perguntou se eu queria dar uma volta.
Charlotte: Eu tenho um trabalho.
Talvez eu tenha sido um tanto mais fria do que queria, pois Scott respondeu apenas com um "ah".
Entramos no carro e a primeira coisa de que me lembrei foi da quetamina, mas dessa vez não senti necessidade de ficar atenta a Scott. 
Apenas na metade do trajeto até a delegacia Scott resolveu puxar assunto.
Scott: Já conseguiu alguma pista de Cristopher?
Neguei.
Charlotte: Eu pretendia ver isso nessa tarde.
Não houve mais conversa até chegarmos à delegacia, provavelmente porque nós dois estávamos cansados.
Scott me deixou na frente do local. Dei um breve "tchau" e sai do carro. 
Antes que eu me aproximasse muito da entrada, ele abriu a janela e me chamou.
Scott: Se você se sentir solitária mais tarde, você é sempre bem vinda.
Fingindo que não ouvira nada, me virei e fui logo em direção ao meu quarto.
Eram sete horas e meu trabalho era as dez. Dessa vez eu seria Denise, uma prostituta, e meu cliente era um rico empresário e pedófilo. 
Levara meses até que eu conseguisse finalmente descobrir o seu segredo. 
Basicamente, ele obrigava os funcionários de sua casa a levarem seus filhos para o trabalho. Enquanto o pai ou a mãe trabalhavam, o empresário dava um "passeio" com a criança. 
Todos sabiam o que acontecia, mas ninguém se atrevia a contestar, pois sabiam que o que viria depois seria pior. Consegui descobrir que um dos funcionários pedira ajuda da polícia havia alguns anos, mas o empresário conseguira subornar toda a equipe que estava cuidando do caso e o funcionário acabara sumindo de repente.
Enquanto penteava uma peruca loira pensei em Cristopher. Era quase surreal pensar que depois de seis anos eu finalmente estava tendo pistas. Mas eu não poderia levar o crédito, afinal, a pista veio de Scott.
A tarde no restaurante me veio a cabeça. Oliver olhava estranhamente para mim e Scott, como se tivesse expectativas. Mas expectativas de que?
Eu já não odiava Scott, mas ainda não me sentia segura em confiar nele. Algo me impedia disso, eu só não sabia o que.

Terminei com a peruca e comecei a me vestir. Naquela noite eu ajudaria algumas pessoas.