segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Suspect - Capítulo 9: Uma pequena ajuda

9. Nem tudo nessa vida é fácil
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Scott: Minha vítima.
Ele manteve o mesmo tom sério. Com certeza uma pessoa diferente da noite anterior.
Confesso que eu não soube como reagir. Quer dizer, de todos os assassinos no mundo, por que logo ele?
Charlotte: Desculpe, mas não sei do que você está falando. Adam veio me procurar para matar seu amigo que está ameaçando a segurança dele e de sua família.
Scott: Oliver teve sua neta sequestrada por Adam.
Pensei por um momento. 
Charlotte:  Quem é Oliver?
Scott: Meu cliente.
Empurrei a foto que havia ganhado de Adam para Scott, e então apontei para o outro homem.
Charlotte: É esse aqui?
Ele ficou pensativo por alguns longos segundos, e então confirmou.
Charlotte: Como você tem certeza de que Adam sequestrou a neta de Oliver?
Scott: É simples. Os dois estão brigando há anos, e agora, a neta de um deles desaparece. Quem você culparia?
Charlotte: Isso não significa nada. Eu quero provas.
Scott: Eu já investiguei essa história inteira. Mas vá em frente. Faça do seu jeito.
Peguei a foto e a coloquei no bolso. Em seguida, levantei.
Charlotte: É o que farei.
Fui em direção ao beco. Mesmo que ainda fosse cedo para o local estar cheio, eu sabia que a pessoa que eu precisava estaria lá.
No caminho, pensei sobre o assunto. Obviamente, um dos dois estava mentindo. As histórias eram extremamente semelhantes. O problema não seria apenas descobrir quem, mas sim se valeria a pena mata-lo. E, se não valesse, como dizer para o outro? Se realmente houve um sequestro, não duvidaria nem um pouco que Adam e Oliver poderiam acabar matando um ao outro.
Quando cheguei no beco, ele estava lá.
"Todd" fora como disse que se chamava quando eu o conheci, mas eu sabia que estava longe de ser o seu nome verdadeiro. Ele tinha pelo menos trinta anos, era um traficante bem informado.
Mesmo que afirmasse nunca ter usado drogas, eu desconfiava de que, pelo menos no seu passado, já havia se envolvido. Porém, nunca perguntei sobre isso.
Ele estava sentado numa cadeira do canto, junto de outros frequentadores mais jovens do beco. Jogavam cartas.
Charlotte: Preciso falar com você.
Não precisei me referir a alguém para Todd saber que era com ele. Imediatamente, se levantou e jogou uma combinação de cartas que deveria ser muito boa porque, assim que o fez, os outros jogadores reclamaram e começaram a recolher suas cartas para embaralhar novamente.
Nos sentamos perto da porta. Ele segurava um cigarro que ainda não havia sido aceso. Notei que estava se esforçando para não acende-lo, já que sabia que o cheiro e toda aquela fumaça não me agradavam.
Todd: Do que você precisa?
Mostrei a foto a ele e contei toda a história.
Todd: Eu realmente não ouvi falar de algum sequestro cometido por um velho, mas vou ficar atento.
Sorri, agradecida.
Ficamos ali por alguns minutos, em silêncio. Agora eu precisava pensar em um novo lugar para começar minha busca. Ainda não podia ir diretamente até Oliver.
Todd: Eu acho que conheço alguém que pode te ajudar.
Ele chamou um dos garotos pelo nome e pediu papel e algo que escrevesse. O menino cumpriu a ordem no mesmo instante.
Todd apoiou o papel na parede e desenhou algumas linhas. Apontou para um ponto no canto da folha.
Todd: Estamos aqui certo?
Concordei. Ele explicou o mapa pacientemente, chamando algumas ruas e esquinas pelo nome que usava durante seu trabalho. Fez um circulo em volta de um quadrado, indicando a casa que eu deveria achar.
Em seguida, contou sobre a pessoa que eu deveria procurar.
Todd: Seu nome é Santiago. Ele é meu informante. Quando recebo novos clientes, peço para ele verificar. Sabe como é, né?
Peguei o papel e coloquei no bolso de trás do meu jeans.
Charlotte: Obrigada, Todd.
Sai do beco e analisei o mapa. Pensei em ir até a delegacia para pegar uma arma, só para garantir, mas Alexander não gostava que eu entrasse e saísse muito, mesmo que meu quarto fosse separado de sua sala.
Resolvi ir direto até Santiago. Não era muito longe dali.
Notei que a casa do informante ficava num bairro em que a maior parte dos moradores eram espanhóis e mexicanos. Este bairro também era considerado "miserável" e "perigoso" pelos adultos que viviam uma vida relativamente boa, de forma que a maioria de suas crianças eram instruídas a ficar longe. Do meu ponto de vista, isso era besteira. Eu já havia estudado com uma moradora do mesmo bairro, e ela, por mais que fosse pobre, não era "perigosa". 
Caminhei pela rua. Até então, parecia um bairro calmo. Olhei o pequeno mapa e logo localizei o local.
Santiago vivia numa casa com uma boa aparência externa. Era de madeira, pintada de um leve tom de creme, com detalhes brancos nas janelas, que possuíam cortinas da mesma cor. Tinha uma pequena varanda de três degraus de altura que levava a porta de entrada.
Havia dois homens sentados na varanda, ambos com cigarros na mão. Foi quando um deles se curvou para pegar uma lata de cerveja no chão que notei que ambos estavam armados. Me arrependi de não ter ido até a delegacia, mas avancei em direção a casa mesmo assim.
Quando me aproximei, os dois homens imediatamente lançaram seus olhares em minha direção.
Charlotte: Eu preciso ver Santiago.
Eles se entreolharam. 
Primeiro homem: Não há nenhum Santiago aqui.
Apenas repeti a pergunta.
Eles começaram a sussurrar e então um deles gritou algo espanhol. Um homem de aparência semelhante aos dois primeiros afastou levemente a cortina com uma das mãos para observar o lado de fora, e então rapidamente se afastou. Segundos depois, pude ouvir o som da porta da frente abrir.
Os três começaram a conversar em espanhol, onde as únicas palavras que pude entender foram "ella" e "Santiago”.
Em seguida, o terceiro homem fez sinal para que eu entrasse. 
Os moveis velhos e manchados me lembravam um dos orfanatos em que vivi.
Passamos por um corredor empoeirado, mas barulhento, e fomos em direção a ultima porta do corredor, que estava entreaberta. 
O homem deu duas batidas na porta e logo a abriu num gesto para que eu entrasse.
Não soube dizer que tipo de cômodo aquele deveria ser. Havia cadeiras de plástico e mesas de madeira já estragada no local. Um homem com uma magreza quase que doentia estava sentado numa cadeira próxima à porta. Tinha cabelos loiros, mas desidratados, longos o suficiente para fazer um pequeno rabo de cavalo baixo.
Um segundo homem estava sentado mais ao fundo da sala, com os pés apoiados na mesa. Este tinha uma pele levemente bronzeada. Também era magro, mas usava uma regata branca que destacava seus músculos.
O homem loiro se levantou e, junto do meu "guia", se retirou da sala. Obviamente, aquele era Santiago.

Ele permaneceu com seu olhar fixo em mim. Depois de um tempo em silêncio, começou a fazer perguntas em espanhol.
Charlotte: Todd me mandou aqui. Eu sei que você fala a minha língua.
Santiago encarou o chão. Havia um sorriso malicioso em seus lábios.
Santiago: O que você quer?
De inicio, desconfiei por nem perguntar meu nome, mas então lembrei que Todd deveria ter uma grande influência sobre ele.
Pensei em enrolar um pouco, avalia-lo para ter certeza que era confiável, mas eu não tinha tempo.
Aproximei-me e tirei a foto do bolso jogando-a sob a mesa em que ele apoiava os pés. Santiago se ajeitou na cadeira, inclinando-se para observar a imagem. Notei que havia alguns anéis de ouro em ambas as mãos.
Charlotte: Preciso saber a história desses homens.
Ele permaneceu em silêncio, analisando a foto.
Santiago: Duas semanas.
Charlotte: 24 horas.
Ele soltou uma gargalhada sem humor enquanto se encostava na cadeira novamente.
Santiago: Escute querida, não tenho tempo para procurar a história de um trio de velhos apenas porque você quer. Eu tenho gente mais importante e útil para ajudar do que você.
Eu comecei a planejar uma ameaça, algo que não fosse partir para uma agressão física, até que prestei mais atenção em suas palavras.
Charlotte: Um trio? Mas há apenas duas pessoas nessa foto.
Ele apontou para um traço quase invisível de um dedo mínimo, exatamente onde a imagem fora rasgada. Junto de sua outra metade, formaria um terceiro homem. 
Santiago: Você não notou isso?
Neguei. Santiago suspirou.
Santiago: Vou fazer esse favor para você. Volte aqui amanhã, nessa mesma hora. 
Não pude deixar de sorrir.
Santiago: Não se sinta exclusiva, porque você não é... Seu nome?
Respondi educadamente, e logo caminhei até a porta.
Charlotte: Obrigada.
Santiago: Ei, querida, vai ficar me devendo um favor. É melhor não se esquecer disso.
Após essa fala, apenas me retirei. O homem que me levara até Santiago e o loiro esquelético esperavam encostados na parede, um de cada lado da porta. 
Apenas saí, dessa vez, desacompanhada, mas sabendo que os olhares me focavam. A segurança poderia até ser boa, mas nem um pouco discreta.
Agora, tudo o que me restava era esperar.
Ainda era cedo para voltar à delegacia, então resolvi andar um pouco pela cidade.
Não tinha bem um lugar específico para ir, até porque não tinha dinheiro nem para comprar uma bala.
Andei até o meu último orfanato. Era um prédio velho, e se não fosse pelos gritos das crianças, qualquer um diria que era um lugar abandonado.
Devo admitir que tive bons momentos ali, mas todas as crianças com quem me dava bem eram rapidamente adotadas, e os únicos adolescentes ali eram dois irmãos um ano mais velhos que eu, de forma que logo eles foram embora e acabei me tornando a órfã mais velha dali.
Continuei andando, passando por locais que frequentava depois da escola. Por algum motivo, Todd me veio na cabeça.
Desde que eu o havia conhecido, ele havia sido gentil, me defendendo quando ainda não havia conquistado o respeito e entendido as regras do beco.
Algo em que todos no "esconderijo" concordavam, era de que Todd possuía uma grande quantia em dinheiro, mas ninguém jamais descobrira onde ele morava.
Mesmo que eu não falasse o que acontecia comigo, ele sempre tentava me ajudar da melhor maneira possível. Era um garoto extremamente inteligente e, diversas vezes, me convidou para morar com ele. Neguei todas as vezes. 
Nunca entendi se havia alguma segunda intenção nisso, ou se era apenas um ato de amizade, mas preferia não arriscar.
Não sei por quantas horas eu andei, mas sei que já estava anoitecendo quando resolvi voltar para a delegacia.
A rua estava silenciosa, sem carros. Eu permanecia pensativa, relaxada, um jeito que eu não ficava havia muito tempo. Mas tudo mudou quando, enquanto passava por um beco, ouvi o som de uma lâmina e um grito, seguido de vários outros. Logo me lembrei do que ouvira na noite anterior.