segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Skylar - Dois


O pássaro chiou baixinho quando Skylar gentilmente acariciou seu pescoço. As garras afiadas seguravam em seu braço, mas sem força para machucá-la. Ela apoiou a cabeça no espaço entre o pescoço da Phoenia, que se esforçou para não rir com as cócegas causadas pelas penas.
— Já disseram como está linda hoje? — Skylar perguntou, observando e rindo quando as bochechas da fênix levemente pegaram fogo. — Desde quando você fica tímida?
O pássaro pareceu murmurar algo incompreensível.
— Seria alguma paixão? — provocou — É aquele gavião da gaiola dois?
Dessa vez a fênix ergueu a cabeça, abrindo o bico apenas o suficiente para uma tênue chama em reprovação. Skylar sorriu.
— Essa é minha garota.
A fênix abriu novamente o bico, mas o fechou rapidamente, curvando a cabeça em sua magnífica reverência. Skylar observou Aron caminhar até ela por um momento e então repetiu o gesto, assim como os outros que estavam no aviário. O líder aguardou alguns instantes antes de dispensar os cumprimentos.
— Skylar. Naasa.
O pássaro inclinou a cabeça em direção a Aron, quase num flerte. Além de Skylar, o líder era o único a quem a fênix respeitava. Ele sorriu e acariciou brevemente a cabeça da mesma, que voou logo em seguida para sua gaiola enquanto formava arcos flamejantes no ar numa demonstração única de felicidade.
Fora preciso apenas um olhar para Skylar saber que deveria seguir o líder. Ele se virou, a postura naturalmente imponente a qual seduzia e ao mesmo tempo invejava a maioria das pessoas, e seguiu para fora do aviário, sem esperar pela garota. Ela o alcançou quando chegaram ao jardim nos fundos da residência dos Phoenia. Havia alguns membros trabalhando ali como punição, enquanto outros auxiliavam simplesmente por gostarem de botânica.
— Maxxwel falou comigo. — Aron disse, mantendo a expressão neutra enquanto avaliava de longe o trabalho de um grupo de garotos. — Há algo que queira me dizer?
Skylar precisou pensar rápido. Poderia contar os mesmos detalhes que dissera a Max, mas acreditava que o coordenador já havia feito isso. No entanto, conhecia o líder o suficiente para saber que qualquer pergunta ou gesto poderia ser um teste.
— Depende do que o coordenador lhe disse.
Aron permaneceu em silêncio por alguns segundos. Skylar tentava controlar a ansiedade e manter o respeito pelo qual a situação exigia, esforçando-se para manter a visão direcionada ao grupo que trabalhava.
— Eu sabia sobre o garoto. Wanner Hopan, o mais novo entre três irmãos guerreiros. Entrou para guarda pela pressão do pai e dos irmãos, mas queria trabalhar no mercado de frutas com a mãe. — Ele fez uma pausa, o leve esboço de um sorriso que sumiu logo em seguida. — Eu o conheci quando era mais jovem, quinze, talvez. Era clara a satisfação em atender os clientes e aconselhá-los sobre os melhores usos das mercadorias. Ele não me reconheceu na época, mas sua mãe sim.
O silêncio voltou a dominar a conversa, dessa vez sem previsão de término. Skylar assimilava as informações com cuidado, tentando entender porque as mesmas lhe foram dadas tão facilmente, sem pedidos.
— Você fez o certo, Skylar.
Ele a encarou pela primeira vez desde o aviário, os olhos verdes parecendo penetrar sua alma e a desconcertando por um momento.
— Eu... Sem punição, então? — Ela tentou não deixar a expectativa muito evidente. No entanto, a retomada da postura usual do líder foi o suficiente para obter a resposta.
— Outros cinco ficaram inconscientes.
— Fazia parte do plano! Nenhum deles teve alguma sequela. Foi apenas um feitiço do sono leve.
— Ficará de fora das missões no próximo mês, exceto em algum caso extremamente severo, o qual eu ou Maxxwel a convocaremos pessoalmente, se necessário. Deverá auxiliar mestre Haymon na cozinha durante esse tempo.
— Isso não é justo. — Skylar não pôde evitar reclamar.
— Sua “boa ação” não ficará exposta num mural, Skylar. Para todos os outros, você apenas fez o de sempre: exagerar por causa de alguma tarefa que considera tediosa. Além disso, talvez tenhamos uma nova integrante. Pense que estará sendo um exemplo para ela quanto as consequências de cometer um erro.
— Ainda assim, todas as missões?
O olhar do líder agora era de advertência. Mesmo dando liberdade para o diálogo informal com seus liderados, não significava que os mesmos poderiam desrespeitar suas ordens. Aron fazia questão de deixar clara a diferença entre a amizade e o trabalho.
— Sua audição está danificada ou devo presumir que está desenvolvendo alguma demência?
Skylar se encolheu e evitou encará-lo.
— Não, senhor. Eu entendi bem.
— Ótimo. Inicie a contagem dos trinta dias a partir de hoje e volte a me ver no final para discutirmos sua situação.
A garota assentiu relutante, e começou a se afastar quando o líder chamou uma última vez.
— Não esqueça — disse, sem se dar ao trabalho de se virar —, mestre Haymon me dará um relatório completo do seu desempenho, e ele não poupa detalhes. Espero não precisar lhe dar sessenta dias limpando as gaiolas ou estábulos por transformar uma colher de pau em alguma arma. Ou pior.
Skylar não sabia se deveria sorrir pelo reconhecimento do seu potencial ou xingar por ser obrigada a passar trinta dias com o chefe de cozinha mais rabugento do reino que, não era nenhuma surpresa, reservava parte da sua raiva pelos jovens apenas para ela. No entanto, apenas assentiu e, com uma última reverencia breve, se retirou em direção a coordenação para pegar o formulário que permitiria sua entrada na cozinha e, consequentemente, a colocaria a cargo do mestre pelo próximo mês.

*** 

Kyron terminava de limpar o punhal quando recebera um bilhete convocando-o à Grande Sala. Ergueu as sobrancelhas e guardou o papel no bolso, esfregando a lâmina sem pressa alguma para remover as últimas manchas. Não estava de bom humor.
Compreendia que, como um dos membros ativos com mais anos de trabalho, deveria servir de instrutor para os novatos, mas tudo aquilo estava se tornando uma grande piada. Sabia que, graças as lições de seu pai, podia enxergar coisas que os outros simplesmente deixavam passar: pequenas expressões faciais, falhas sutis em histórias. Apesar de todos os Sycrax passarem pelo mesmo treinamento, alguns tinham mais aptidão para determinadas áreas. Ele, por exemplo, havia herdado o dom da tortura de seu pai. Não era algo do qual realmente se orgulhasse, mas era o que tinha. Os novatos que vinha recebendo, no entanto, mal sabiam que tipo de corte fazer ou onde. Não gostava de coloca-los em problemas — eles já faziam isso sozinhos — mas a situação estava ridícula.
Jogou o pano manchado de sangue na lata destinada aos trapos inúteis e guardou a arma em seu específico lugar na gaveta de vidro. Apoiou as mãos sobre a mesa por um momento, tentando desacelerar a mente. Às vezes se pegava imaginando uma vida diferente, longe dos Sycrax, longe da tortura e de todo o sangue derramado em nome do clã. Não podia negar que sentia prazer em lutar e, desde os doze, talvez treze anos, não sentia mais repulsa com as atrocidades que via ou cometia. Se acostumara aquela vida e nunca tivera tempo para escolher outro caminho. Não conhecera a mãe, de forma que seu pai e os outros Sycrax se tornaram seus guias. Foram os livros, no entanto, que preservaram os restos da sua humanidade. Por eles, descobriu sentimentos como amor e misericórdia, sensibilidade ao próximo. Obviamente, nunca demonstrara seus verdadeiros pensamentos a qualquer outro colega do grupo. Seria o suficiente para uma ordem de assassinato imediato.
Respirou fundo uma última vez antes de iniciar seu caminho para a Grande Sala. Repassou mentalmente as últimas atividades feitas: uma série de exercícios que ocupou quatro horas inteiras da sua manhã, uma refeição com seus colegas da última missão e, pela tarde, quando praticava combate, foi chamado para auxiliar na tortura de um possível informante inimigo em busca de respostas, quando seu mau humor atingiu o ponto máximo.
Provavelmente, a convocação se referia a alguma busca de maior valor ou a promoção de algum membro mais antigo. De qualquer forma, sempre se sentia estranho com o resto do grupo da sua “geração”. Ele era o mais novo, tendo uma diferença de cinco anos entre o segundo mais. Era o único que havia crescido no meio dos Sycrax, enquanto a maioria chegara ali na pré adolescência.
— Kyron! — exclamou Malakye, o líder do bando, quando o mais jovem passou pela porta. Seu tom de voz irônico fez com que os outros presentes ficassem tensos. —Ficamos felizes por ter decidido se juntar a nós. Isso levou apenas... quinze minutos desde a convocação? Devo então me sentir privilegiado com a sua presença?
— Não, milorde — a voz tão fria quanto o olhar —, creio que jamais deveria haver um pensamento tão grandioso em relação a mim enquanto temos o senhor para nos comandar.
Os outros Sycrax convocados se entreolharam. Kyron era provavelmente o único membro que se atrevia a desafiar o líder.
Malakye encarou Kyron por um longo momento. Enquanto o soberano vestia um longo casaco preto, as ombreiras douradas se destacando com o cabelo loiro, o mais jovem vestia um conjunto surrado de calças de treinamento e uma blusa rasgada, recentemente tingida de sangue. Era o único sem um traje formal na sala.
— Vamos começar, então. — O líder se levantou na ponta da mesa retangular, encarando os outros doze subordinados que convocara. Ali estavam os melhores dos melhores. Tinha plena consciência de que não seria o suficiente para a missão que muito em breve chegaria, mas era esse o motivo pelo qual os solicitara. Obviamente, não contaria toda a informação ainda. A última coisa de que precisava era gerar um caos precipitado.
— Nos últimos anos, vocês sobreviveram as piores das situações. Treinaram arduamente e sofreram fora e dentro de seu próprio lar. — Fez uma pausa, observando os olhares que o seguiam e como o sentido de “lar” os afetava. Além de Kyron, que permanecia frio, os outros acompanhavam cada palavra atentamente, como se fosse um deus. Sentiu-se satisfeito e prosseguiu — Hoje daremos início a um novo processo dentro do nosso amado clã. Vocês, experientes Sycrax, serão testados com uma nova responsabilidade: treinar seu próprio grupo.
Murmúrios surgiram e desapareceram tão rápido quanto. A ansiedade do grupo ficara clara, nem todos positivamente. Kyron, no entanto, permanecia imóvel e em silêncio, encarando seu líder diretamente quase sem piscar.
— Selecionei pessoalmente 72 dos nossos membros mais dedicados, dos quais cada um de vocês haverá de escolher seis para formar sua equipe. Deverão treiná-los tão arduamente quanto qualquer teste pelo qual já passaram. Estes jovens deverão se tornar as novas relíquias do bando, os melhores, os exemplares, os...
— Apenas diga logo que os novatos são capazes de morrer embainhando uma espada e nos dê as fichas. Vamos acabar logo com isso. — Kyron disse. Malakye teve dificuldades para controlar a fúria que crescia em sua garganta, optando por não responder a interrupção.
— Vocês terão duas semanas para criar seus campeões. Não haverá interferência alguma da minha parte quanto aos métodos que escolherão, mas sejam cautelosos com suas escolhas. Nenhum membro da equipe poderá ser substituído, seja por incompetência ou morte.
O silêncio durou aproximadamente três segundos até a sala começar a se agitar.
— O que vamos ganhar com isso? — A pergunta veio de Tarcor, uma máquina de matar em forma humana. Sua pele era quase que completamente coberta de cicatrizes e, apesar da falta de sutileza durante os combates, sua agressividade compensava em dobro. Era um lutador com o título invicto até então.
— Vamos deixar o melhor para o final. — Respondeu o líder numa paciência contida.
— Então quer que façamos todo esse esforço sem um objetivo? — Kyron acompanhava em silêncio o início de uma pequena rebelião. Não identificou a voz, mas supunha que fosse de um dos que já estavam em pé ao redor da mesa.
— Ah, mas é claro que não. — Malakye respondeu e Kyron fora o único a perceber, pela sútil mudança da entonação na voz, o sermão que se seguiria. — Eu quero que façam esse esforço porque... é uma ordem. Não estou negociando. Agora vocês se levantarão e irão para a área de combate, onde os escolhidos estarão a espera para a formação da equipe. Farão isso sozinhos ou precisam de um incentivo maior para iniciarem?
O som de cadeiras se arrastando e sussurros, alguns xingando e outros pedindo desculpas, ecoou pela sala. Kyron esperou até que todos saíssem para finalmente se manifestar.
— Eu ia procura-lo quando recebi a convocação. Parece que milorde fora mais rápido, não é mesmo? — Não se deu ao trabalho de ocultar a aspereza na voz, mesmo sabendo das possíveis consequências em lidar erroneamente com Malakye.
— Qual o problema, Kyron? Alguma frustração sexual recente? Me poupe desses detalhes, terá seis jovens onde descontar sua raiva.
Kyron engoliu em seco, se perguntando se a menção fora apenas um comentário dispensável ou realmente com fundamento. Já havia se passado alguns dias, mas ainda pensava na Phoenia. Sua repulsa pelos Sycrax era clara, mas tinha completa certeza de que havia algo...
— O problema é justamente esse. Onde tem arrumado esses garotos, Malakye? Eles não parecem ter a mínima noção da proporção de tudo isso.
— E é exatamente por isso que você os treinará. Ensine-os.
Malakye agora saía da sala, ignorando o mais novo que o seguia de perto.
— O que está escondendo de nós? — Kyron perguntou. — Os outros podem não perceber, mas você sabe que eu não sou como eles. Eu vejo seus segredos, Malakye, e eles parecem infinitos.
O líder se virou bruscamente, impaciente e furioso.
— Sua audácia será o motivo da sua morte, garoto.
Agora ambos se encaravam, Malakye com sua postura soberana que, para todos era o suficiente para um pedido de desculpas por qualquer palavra dita de maneira errada. Kyron, por outro lado, não se importava. Encarava o líder diretamente, ciente do perigo, porém sem medo de enfrenta-lo.
— Você pode ter herdado as habilidades do seu pai, Kyron, e ele pode tê-lo ensinado para ser tão bom quanto o mesmo foi. Não duvido nem um pouco de suas capacidades, mas, para sua própria segurança, espero que tenha em mente que nunca será ele. Falta algo em você e, apesar de ser um dos nossos melhores, apesar de eu ter um mínimo apreço por você... Não sei qual o seu problema e não tenho como auxilia-lo nessa busca.
Kyron não estava chocado pelas palavras duras que recebera, mas as menções ao pai sempre o atordoavam profundamente, e Malakye sabia disso.
— Na dúvida — completou o líder, já iniciando a dispensa do assunto —, você sempre pode buscar conforto no clã. É para isso que adicionamos algumas mulheres, não é mesmo? — Ele sorriu, malicioso e sujo, e então se afastou.
Primeiro, Kyron queria chorar, mas então se lembrou que seu pai desaprovaria grosseiramente essa reação. Respirou fundo até ter certeza de que não quebraria nada no caminho.
Quando chegou a área de combate, o lugar estava quase vazio. Apenas mais um dos selecionados para liderar as equipes parecia entrevistar rapidamente os restantes. Kyron não estava com paciência o suficiente para isso.
— Vocês seis — ainda na porta, apontou para o grupo mais afastado da entrevista. Oito cabeças se viraram, mas duas voltaram rapidamente a olhar para a frente. — Já foram escolhidos?
A resposta foi uma negação insegura com a cabeça.
— Ótimo. Começaremos em meia hora. Me encontrem no refeitório e levem suas fichas.
Saiu antes que pudessem responder. Não conseguia imaginar o motivo de tudo aquilo, mas mesmo com a má sensação borbulhando em seus pensamentos, sua única opção era seguir em frente.
Os trinta minutos foram exatamente o necessário para lavar-se, trocar as vestes e se dirigir para o refeitório, que ficaria vazio pelas próximas duas horas. Seus escolhidos já o aguardavam, mas não os parabenizou pela pontualidade. Os observou enquanto não percebiam a sua presença: um garoto pálido e esguio, os cabelos curtos e profundamente pretos, que parecia agitado caminhando ao redor da mesa a qual o grupo escolhera para se reunir. Uma garota com os cabelos de um loiro tão claro que quase se tornavam brancos, usava o que parecia ser mais uma peça de lingerie preta que mal segurava os grandes seios, estava sentada sobre a mesa, as pernas cruzadas e os braços servindo de apoio enquanto encarava fixamente o teto. Outra garota, essa mais baixa e com o corpo mais robusto, estava encostada na mesa observando o garoto que caminhava. Kyron imediatamente ficou curioso sobre como ela havia entrado para o clã, já que não parecia seguir o padrão necessário para uma mulher ser aceita. Dois outros garotos conversam seriamente, eram altos e se destacavam pelos músculos. O último estava na ponta mais afastada da mesa com um olhar sombrio e uma postura elegante, quase lembrando aos nobres que já havia conhecido.
Kyron concluiu que seu grupo era uma grande variação dos estereótipos do clã. De certa forma, dava para perceber porque estavam como os últimos a serem escolhidos. Talvez, pensou, aquilo fosse uma boa coisa. Não se importava com a falsa competição de Malakye, de forma que poderia dar um verdadeiro treino para os jovens ali presentes.
— Muito bem — disse, decepcionado por vários minutos terem se passado e ninguém ter notado sua presença. Deveriam ser mais atentos. —, se não seguirem exatamente o que eu disser, provavelmente acabarão matando uns aos outros ou a si mesmos.
Ninguém ousou reagir.
— A partir de hoje vocês deverão usar apenas roupas de treinamento. Passarão metade do dia treinando combate corporal, perderão uma refeição e desenvolverão seus sentidos. Todos os dias lhes darei um horário diferente, então não tentem se acostumar a uma rotina.
— Com toda a sua licença — o tom arrogante veio do garoto afastado —, mas não acha que isso é apenas uma grande loucura? Quer dizer, nós não vamos ganhar nada mesmo. Temos uma puta, uma lésbica, dois canhões e um garotinho assustado. Por que não apenas fingir que estamos participando desse jogo ridículo e seguir com os nossos dias?
Enquanto o garoto falava, percebeu que além dos jovens aos quais se referiu como “canhões”, os outros tentavam inutilmente não se mostrar afetados pela descrição. Kyron deu um passo na direção dele, mil ideias de tortura vindo a sua mente para corrigir a estupidez.
— Qual o seu nome? — Kyron perguntou, recebendo a ficha em resposta. Ele a pegou e a rasgou sem olhar. — Eu pedi seu nome, não sua ficha.
O garoto o fuzilou com o olhar. Os outros ficaram tensos.
— Dheron. Terceiro filho da família Thardaen.
Enquanto o ego de Dheron crescia pelos olhares lançados após revelar seu título, Kyron apenas observou de braços cruzados. Ele não era um nobre, mas era de uma família extremamente rica do reino, e parecia ter muito orgulho do fato.
— Então, com toda a sua inteligência que certamente fora providenciada pela sua família ao longo dos anos, diga-me: nas classificações que fez quanto ao grupo, você seria a “puta” ou o “garotinho assustado”?
Dheron deu um passo a frente, as mãos nos bolsos enquanto o rosto esquentava. O resto do grupo observava tão atentamente quanto a um espetáculo teatral.
— Quem você pensa que é para falar com alguém do meu nível dessa maneira?
— Criança, se quer mesmo ser um Sycrax, precisará mais que algumas palavras arrogantes para sobreviver. Acima de tudo, esquecer quem foi no passado, pois a única coisa que importa é quem se tornará aqui e agora. E, pelas próximas duas semanas, tenho tanto poder quanto Malakye sobre vocês seis. Não tente jogar o meu jogo sem estar preparado, porque morrerá na primeira rodada.
Foram logos minutos apenas com trocas de olhares, alguns assustados, outros irritados. Kyron não se importou com nenhuma das reações e, ao invés disso, resolveu dar início imediato ao treinamento:
— Afastem as mesas. Vamos ver do que vocês são capazes, afinal.