terça-feira, 19 de agosto de 2014

Suspect - Capítulo 7: Missão concluída

7. Sempre haverá uma saída
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Menina: Não... Por favor...
Seu desespero era totalmente visível.
Toquei o braço de Scott em sinal para que ele abaixasse a arma. Em seguida, fui em direção à garota.
Charlotte: Vai ficar tudo bem agora, certo? Vamos tirar você daqui.
Ela se agarrou em mim e continuou a chorar. Abracei-a, tentando acalma-la.
Scott começou a tocar as paredes, procurando o interruptor para acendermos as luzes. Voltei minha atenção para a garota no meu colo.
Charlotte: Você é a Estela, não é?
Ela se afastou. Parecia estar começando a se acalmar — um sinal de que estava começando a confiar em nós , mas as lagrimas ainda corriam pelo seu rosto.
Menina: Quem são vocês? Como sabe quem eu sou?
Apenas sorri.
Charlotte: Explicaremos tudo mais tarde.
Perguntei se tinha algo para vestir, e ela confirmou. Enrolada no lençol, foi até uma porta e sumiu atrás dela. 
Charlotte: Como tiramos ela daqui?
Scott, que analisava uma das paredes, se virou para me encarar.
Scott: É arriscado levarmos ela por aqueles corredores.
Charlotte: Mas... Tem outra saída?
Scott: Nem saídas, nem janelas. Nada.
Me sentei na beira da cama, pensativa. Não podíamos abrir mão de tudo agora, e se fossemos por aquele caminho, as chances de sairmos de lá feridos era enorme.  Até que eu tive uma ideia.
Charlotte: E se eu chamar Alexander?
Ele me encarou como se eu fosse louca.
Scott: Do que isso vai adiantar? Se ele trazer meia dúzia de tiras aqui só vai chamar atenção, e é capaz de alguém ser morto. Estamos lidando com um pessoal experiente, Charlotte.
Permaneci em silêncio. Se ele estivesse certo sobre as pessoas com quem estávamos lidando, isso significaria que a nossa missão era mais difícil do que eu  havia imaginado.
Estela retornou ao quarto, agora vestida. Lancei um olhar questionador a Scott. O que faríamos agora? O que diríamos a ela? Se começássemos a discutir ali, ela ficaria assustada. Ele suspirou.
Scott: Tudo bem, vá. Seja rápida.
Antes de ir, me aproximei de Estela, que parecia estar nervosa com a presença de Scott. Não a culpava, já que passou seis anos de sua vida presa, sendo abusada por uma pessoa que jamais conhecera.
Charlotte: Vou chamar algumas pessoas para tirarmos você daqui em segurança, ok? Scott vai proteger você, não tenha medo dele.
Ela confirmou em silêncio, e então saí. Pude ouvir Scott dizer "tenha cuidado" no momento em que passei pela porta.
Fiz o mesmo caminho para sair, porém, com um pouco mais de pressa. Notei que os gritos atrás das portas estavam mais altos, e os choros também. Provavelmente, voltar seria um problema.
Depois de passar por todas as portas e corredores, consegui sair de baixo do prédio. Procurei o telefone público mais próximo e disquei o número do celular de Alexander. Ele me atendeu com uma voz cansada.
Alexander: Quem é?
Charlotte: Alexander, eu preciso de ajuda.
Alexander: Espere... Charlotte? De onde você está me ligando?
Charlotte: Isso não importa agora. Eu achei a menina, mas não vou conseguir tirar ela daqui sem reforços.
Ele perguntou onde eu estava, e então li em voz alta o endereço de uma placa na esquina.
Charlotte: Sejam discretos! E... Seria bom se você me trouxesse alguma arma de fogo.
Pude ouvi-lo suspirar no telefone.
Alexander: Vou ver o que posso fazer.
Em seguida, ele desligou. Agora, eu só deveria esperar.
Comecei a pensar no local. Uma pessoa descuidada seria facilmente descoberta ali. Afinal, não havia ninguém para avisar quando chegasse algum policial. A não ser, claro, que tivessem câmeras. 

Câmeras. Eu não havia notado nenhuma, mas poderiam tê-las escondido bem. Podiam ser pequenas e discretas. 
Mas se fosse assim, teriam visto e se manifestado quando eu e Scott achamos Estela. Podiam ter me impedido de sair. Provavelmente, eles não tinham uma boa segurança. 
Depois de pensar muito nisso, fiquei preocupada o suficiente para achar os vinte minutos que Alexander levara para chegar agonizantes. 
Eram em torno de dez homens. Eles saíram do carro em silêncio, um por um. Todos devidamente equipados com armas grandes, coletes à prova de balas e capacetes, Alexander e seu reforço estavam prontos para qualquer coisa que estivesse nos esperando. Percebi que aguardavam as ordens do delegado. Em vez disso, eu que me manifestei.
Charlotte: A partir desse momento, vocês seguirão minhas ordens. Me sigam, em silêncio. Não toquem nada, e não sejam vistos de maneira nenhuma. A menina que devemos salvar está sob a guarda de um... Colega de trabalho meu, por tanto, não atirem nele.
Me aproximei de Alexander e estendi a mão. Ele me entregou um revolver. 
Por alguns segundos, fiquei encarando sua arma e a minha.
Charlotte: Não tinha nada... maior?
Alexander: Não reclame. Vamos acabar com isso logo.
Suspirei e então mandei-os me seguir.  Fomos até os fundos do prédio e abri a porta para o porão. 
Fui na frente, com Alexander sempre atrás de mim. Esperei que todos os outros descessem e fechassem a porta para continuarmos.
Rapidamente, chegamos no local marcado com um "X" vermelho. Fiz um sinal para que todos permanecessem em silêncio, e então fomos.
Seguindo a mesma estratégia de Scott, não foi preciso pedir que se dividissem entre os corredores. 
Prestando atenção em todos os movimentos e sons, rapidamente chegamos ao local onde Scott estava com Estela.
Charlotte: Fiquem aqui e vigiem. Alexander, você vem comigo.
Abri a porta, que estava levemente encostada. A única iluminação era do fogo que saia do isqueiro de Scott.
Estela estava sentada na cama, e Scott no chão, ao lado dela.
Charlotte: Tudo bem aqui?
Scott se levantou.
Scott: Dentro do possível, sim. 
Charlotte: Então, acho que podemos ir.
Me aproximei de Estela.
Charlotte: Temos dez policiais lá fora, todos para te proteger. Você está segura agora.
Ela segurou minha mão e se levantou. Scott apagou o isqueiro.
Charlotte: Vamos.
Só precisei me aproximar da porta para ouvir o som do primeiro tiro, seguido de vários.
Fechei a porta, deixando apenas uma fresta para que eu pudesse ver o que estava acontecendo.
Encarei Alexander.
Charlotte: O que fazemos agora?
Ele pediu licença e abriu um pouco mais a porta. Em seguida, gritou alguns números.
Três ou quatro homens apareceram na porta. Trocavam tiros com os "funcionários" do local. Suas posições sugeriam que saíssemos enquanto tínhamos chances.
Alexander foi na frente, e então puxei Estela pelo braço, guiando-a no meio do tiroteio. Scott foi atrás. Corremos o máximo que podíamos, e, de nós quatro, Scott foi o único que precisou usar a arma. 
Quando conseguimos fugir do tiroteio, vi os homens de Alexander nos seguindo, mas ainda se defendendo.
Paramos de correr quando alcançamos o carro em que Alexander havia chego e entramos nele. Enquanto esperávamos sua equipe, ele analisou Estela.
Alexander: Você está bem?
Ela fez um sinal positivo com a cabeça. Estava claro que não era acostumada a correr.
Sentei na frente, junto de Alexander, enquanto Estela ia no banco de trás. Scott, que estava encostado na porta, hesitou em entrar, mas acabou nos acompanhando até a delegacia.
Quando chegamos, pude notar que ela olhava tudo o que estava a sua volta com fascinação. Estela ficou seis anos sem ver a luz do dia, literalmente.
Nós quatro fomos até a sala de Alexander, e enquanto ele servia um copo d'água e a interrogava, eu liguei para Thomas do celular de Alexander. Percebi que Scott estava ao lado da porta, observando tudo o que acontecia, um tanto deslocado talvez.
Thomas: Alô?
Charlotte: Thomas, sou eu, Charlotte. Você deve se lembrar de mim, não é mesmo?
Thomas: Eu lembro! Você já achou algo?
Charlotte: Eu achei sua filha.
Ele ficou surpreso e excitado. 
Thomas: O que? Como? Ela está viva? Espere, espere! Não diga nada, estou indo ai agora mesmo!
Em seguida, ele desligou.
Devolvi o celular para Alexander e me sentei na cadeira ao lado de Estela. Scott se aproximou, se apoiando na mesa do delegado.
Charlotte: Boas noticias! Seu pai está vindo.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
Estela: O meu pai?
Fiz um sinal positivo com a cabeça, e então ela abriu um sorriso de orelha a orelha e me abraçou.
Agradeceu diversas vezes, até seu pai chegar.
Sem pedir licença, abriu a porta da sala de Alexander. 
Thomas: Estela?!
Ela se virou para a porta, e ao ver o pai, correu para abraça-lo. Era uma cena linda e entediante.
Thomas interrompeu o abraço e veio até nós três. Agradeceu a todos, inclusive a Scott.
Ele chorava como uma criança, estava verdadeiramente feliz.
De mãos dadas com Estela, os dois saíram pela porta. Tinham muito assunto para por em dia.
Alexander: E essa é Estela. Sequestrada há seis anos. Nunca dormiu com seu sequestrador porque ele foi assassinado antes de poder conhece-la pessoalmente. 
Charlotte: Isso significa que...
Alexander: Exatamente. Alguém assumiu o lugar dele.
Suspirei.
Charlotte: Espero que ela consiga ter uma boa vida agora.
Ficamos em silêncio por algum tempo.
Scott: Acho que devo me retirar agora.
Ele caminhou até a porta, e antes de sair se virou para me encarar.
Scott: Até logo, Charlotte.
Scott sorriu, e em seguida simplesmente saiu pela porta, a qual Alexander ficou encarando por alguns segundos após a saída do garoto.
Alexander me encarou.
Alexander: Pretende me contar, ou...
Encarei o teto.
Charlotte: Mais tarde, talvez.
Então, houve uma batida na porta. Já sabia que o delegado voltaria ao trabalho, então, sem dizer nada, voltei para o meu quarto.
Ao abrir uma das gavetas da cômoda, achei minha agenda por acaso. Colocando minha pequena faca sobre a cama, peguei a caderneta e a folheei até achar o dia em que estávamos.
E então vi que eu tinha uma reunião marcada com um possível novo cliente em poucas horas, num restaurante chique. Obviamente, eu havia esquecido de tal compromisso.
Comecei a ler minha anotação. 
O cliente não mencionara nenhum nome, nem mesmo seu, mas para que eu pudesse encontra-lo, me deu sua descrição: cabelos curtos e escuros, assim como os olhos. Pele clara, e vestiria roupas escuras. 
Garantiu que eu o reconheceria de cara. 
Suspirei. Olhei no relógio, que marcava cinco horas em ponto. O jantar seria às oito horas. Resolvi que descansaria até as seis, e depois começaria a me arrumar.
Guardei minha faca e deitei sobre a cama, e ali adormeci até as exatas seis horas, quando meu despertador tocou.
Preguiçosamente, me levantei.
Anotei o endereço do local num pedaço de papel, e então me arrumei da melhor maneira que pude.
Resolvi que, dessa vez, chamaria um táxi.
Bati na porta da sala de Alexander, e percebi que estava vazia. Liguei para uma companhia de táxis aleatória, que achei na lista telefônica, e então só tive que esperar na frente da delegacia.
Por mais que o automóvel tenha chego rápido, o salto já estava me cansando.
Entrei no veículo e aguardei a chegada ao restaurante em silêncio.
O motorista também não puxara algum assunto, pois ligara o rádio numa estação que narrava algum esporte que não consegui reconhecer, pois o narrador falava rápido demais.
Levou um pouco mais de quinze minutos para chegarmos. Paguei o taxista, e então entrei no restaurante.
Olhei em volta. Havia vários homens de olhos e cabelos escuros, mas poucos usavam roupas escuras.
E então, no meio de todas aquelas mesas ocupadas e garçons correndo com os pratos, eu o avistei, sorrindo para mim.
Andei em direção a mesa em que estava. Ele se levantou para puxar a cadeira para mim.
Sentei-me. Ainda em pé, ele chamou um garçom que se aproximava e pediu vinho. 
Ficamos em silêncio até sermos servidos.
Quando o garçom foi embora, resolvi falar algo.
Charlotte: Isso é algum tipo de brincadeira?
Ele parecia se divertir, enquanto eu começava a me irritar.
Scott: Não fique brava. Apenas aproveite a noite.
Ele sorriu, e em seguida bebeu mais um gole de seu vinho branco.