14. Não perca tempo
Dobrei a
esquina e avistei a mansão da minha vítima. Observando a frente da casa, era
impossível dizer se havia seguranças, mas eu sabia exatamente onde ficavam seus
postos. Eu não podia vê-los, mas sabia que eles me viam.
Durante um mês
e meio espionei a casa do famoso "Senhor M". Dono de uma das maiores
agências de publicidade do país, era um dos homens mais respeitados graças as
suas riquezas, mas era impossível não se lembrar de todas as polêmicas
relacionadas à pedofilia e denúncias de maus tratos vindo dos seus empregados,
casos que foram sempre julgados lentamente e, no final, era provado sua
inocência.
Inocentes...
Eles sempre eram.
Me aproximei do
interfone e apertei a campainha. Uma voz masculina atendeu.
Voz: Quem é?
Charlotte: Denise... Vim para o meu
serviço.
Notei uma
câmera de segurança no muro. O homem que me atendeu deveria estar me vendo
naquele mesmo momento. Agradeci a mim mesma por estar usando óculos de sol
mesmo sendo noite.
Fiquei alguns
segundos sem resposta.
Voz: Não chamamos ninguém hoje.
Pensei rápido.
Um homem poderoso como minha vítima deveria contratar suas prostitutas de algum
prostíbulo, não apenas caça-las pelas ruas como a maioria.
Charlotte: Sim, eu sei. Notamos que sua
conta na nossa casa é alta e, por isso, estamos lhe dando um presente. Esta
noite será de graça.
O homem voltou a ficar em silêncio por algum tempo. Se aquela
desculpa falhasse eu não teria o que fazer. Talvez correr fosse uma boa opção.
A resposta demorou mais do que a primeira. Comecei a olhar ao
redor, procurando a melhor rota de fuga. O meu maior problema eram os sapatos
de salto alto, que deviam ter pelo menos quinze centímetros.
Eu estava de costas para o muro, já distraída, quando a voz
retornou brevemente.
Voz: Entre.
Às vezes era difícil acreditar em quanta sorte eu tinha.
O portão abriu assim que ele terminou a palavra.
Entrei no jardim observando tudo e todos. Não que eu já não
soubesse como era o lugar, afinal, passei algum tempo observando o que
acontecia por ali, mas ver do lado de dentro tornava tudo mais nítido: a grama
bem aparada, as flores que rodeavam a mansão e os bancos espalhados pela imensa
área externa. No entanto, a luz da lua destacava o caminho de pedras que havia
do portão e terminava na porta da casa.
Quando finalmente cheguei à porta, um homem de estatura média a
abriu. Vestia trajes formais, como os mordomos de filmes.
Mordomo: Siga-me.
Ele se virou e andou rapidamente para dentro da casa. Obedeci,
levando um susto quando a porta se fechou e, em seguida, uma empregada da qual
eu não havia notado a presença passava por mim as pressas.
Passamos por longos corredores e subimos três lances de escada. A
princípio, era como se só houvesse nós na casa, mas, com um pouco de atenção
era possível notar empregados entrando e saindo de quartos rápida e
discretamente, carregando bandejas e trancando portas. Eles não emitiam nem um
ruído.
No terceiro andar, o mordomo me levou até uma porta no final do
corredor, no centro. Diferente das outras portas daquele corredor, que eram de
madeira escura e envernizadas, combinando com o papel de parede marrom claro
com desenhos abstratos, aquela em especial era de um vermelho reluzente, com
uma maçaneta dourada.
O mordomo deu três batidas suaves na porta e a abriu, dando passagem
para a minha entrada.
Assim que entrei, a porta foi fechada com uma batida.
O quarto era no formato de um octógono, com tons fortes de bordô,
preto e dourado. A cama era posicionada na parede em frente à porta, e estava
arrumada com lençóis das mesmas cores da decoração. Minha vítima estava deitada
nela, sorrindo maliciosamente.
A fisionomia do empresário era semelhante a
uma circunferência. Seu peito era coberto por pelos e — graças a
alguma entidade superior — ele estava vestindo as calças.
Abri o casaco que eu usava (um sobretudo que ia até pouco abaixo
dos joelhos, na cor bege), revelando um vestido vermelho que mal chegava na
metade da minha coxa e com um decote exagerado. Talvez, quando o traje não
fosse mais usável, eu o utilizasse como cortina, mesmo que eu não tivesse uma
janela. Ainda assim, era caro demais para ser um tapete.
Joguei o sobretudo no chão e em seguida os óculos e, com um
sorriso, caminhei até o homem.
Aproximei-me da cama, seus olhos cheios de desejo
e me devorando por completo me davam nojo, mas não havia alternativa.
Lembrava-me bem de ter procurado a opção menos chamativa para as investigações
que com certeza se seguiriam mais tarde.
Num movimento rápido e inesperado o empresário
me puxou para perto, diminuindo qualquer espaço existente entre nossos corpos.
Suas mãos passavam lentamente pelo meu corpo,
tocando-me por inteira, seu sorriso podre fazia meu corpo estremecer — no pior
dos sentidos.
Invertendo as posições, ele se virou de forma que ficasse sobre
mim. Sua mão estava sobre a minha coxa enquanto eu pensava numa maneira de sair
dali o mais rápido possível, antes que ele encontrasse a faca presa na minha
outra perna.
Charlotte: Vamos
fazer do meu jeito.
Novamente, eu estava literalmente por cima.
Seu sorriso malicioso estava novamente me causando repulsa.
Aproximei-me de seu rosto, de forma que nossos corpos estavam
quase colados. Enquanto ele mantinha seu olhar fixo em mim, agarrei um dos
travesseiros ao seu lado.
Ele abriu a boca para falar algo, mas jamais saberei o que era,
pois ficou sem fala ao ser surpreendido pela almofada que lancei em seu
rosto, segurando firmemente enquanto ele se desesperava.
Peguei a faca que havia prendido na perna na pequena parte que o
vestido cobria.
Enfiei a lâmina em sua garganta por uma brecha que havia
encontrado entre o travesseiro e a pele nua. Sangue jorrou para todos os lados,
mas consegui impedir parte da enxurrada com o objeto. Aprofundei o corte, até
ter certeza que havia decepado sua cabeça. Poderia tê-lo torturado um pouco mas
esse tipo de coisa quase nunca acabava bem para o meu lado. O travesseiro já
estava totalmente vermelho e o lençol começava a adquirir a mesma coloração.
Joguei a almofada num canto da cama e observei o resultado.
Definitivamente não era algo para se apreciar.
Me levantando, observei minhas mãos e a faca, ambas sujas de
sangue. Olhei ao redor e logo avistei uma porta, provavelmente o banheiro
daquela suíte. Não hesitei em ir até ela e abri-la.
Era magnífico para um banheiro.
As paredes eram pretas, com desenhos dourados e pequenas pedras
brilhantes no centro. A pia era de vidro e parecia ser mais fina que a minha
lâmina, mas ao mesmo tempo mais resistente também.
Lavei minhas mãos e em seguida a faca, as sequei na toalha dobrada
ao lado, onde estavam bordadas as iniciais do falecido. Tão macia que pensei em
rouba-la. No final, cheguei à conclusão de que ela não me teria utilidade.
Guardando a faca na faixa em minha perna, fui até o corpo. Após
uma última olhada, o cobri com o cobertor, tentando esconder a parte manchada
de sangue. Joguei o travesseiro manchado em baixo da cama e me direcionei a
porta.
Vesti o sobretudo novamente. O serviço havia sido mais rápido do
que eu havia imaginado, provavelmente uns vinte minutos.
Dando uma última olhada ao redor, coloquei os óculos e girei a
maçaneta. O mordomo aguardava do outro lado, imóvel. Sorrindo, o puxei pelo
uniforme para dentro do quarto.
Charlotte: Há câmeras no corredor.
Mordomo: Sim.
Charlotte: Mas não aqui.
Mordomo: Não.
Percebi que ele suava frio.
Charlotte: Estou esperando.
O mordomo colocou uma das mãos no bolso. Instintivamente minha mão
se dirigiu ao lugar em que estava a faca, mas quando ele a removeu, mostrou uma
quantia em dinheiro. Tomei de sua mão, contando.
Charlotte: Aqui só tem metade.
Mordomo: Eu sei, mas... Ouça, o seu preço equivale a dois meses do
meu salário. Eu tenho filhos, eu preciso do dinheiro. Não temos mais patrão,
como você espera que eu sobreviva até achar um novo emprego?
Charlotte: Você está com o dinheiro?
Ele hesitou.
Mordomo: Estou...
Charlotte: Então me dê.
Mordomo: Mas... A minha família...
Cruzei os braços num sinal de impaciência.
Charlotte: Você não quer ter dívidas com
uma assassina.
Suspirando, ele deu o resto do dinheiro.
Era triste saber que ele passaria por necessidades, que precisava
do dinheiro. Mas aquela havia sido a escolha dele e a única coisa que poderia
fazer agora era enfrentar o que estava por vir, e nisso estava incluído o meu
pagamento.
Guardei o dinheiro num bolso do casaco.
Pude notar que ele estava quase se arrependendo.
Charlotte: Ei. Você fez a coisa certa.
Ele me encarou firmemente. Assentiu, em silêncio, e me levou até a
saída.
Tentei observar melhor os empregados, mas dessa vez não havia
nenhum.
Enfim, o mordomo abriu a porta para o lado de fora do casarão. Saí
da casa em silêncio e quando cheguei ao portão, ele já estava aberto. Começou a
se fechar assim que pisei na calçada.
Continuei com a atuação até dobrar a esquina. Após isso, guardei
os óculos no bolso do casaco e joguei a peruca numa lata de lixo não
reciclável. Sempre a favor da mãe natureza.
Tentei ajeitar os cabelos, agora soltos, mas o vento não ajudava
muito. Desisti depois de algum tempo e fui logo para o beco, tinha esperança de
encontrar Todd.
O caminho era longo, e depois de um tempo eu já nem sabia mais no
que pensar.
Normalmente eu pensava no meu próximo trabalho e em como Alexander
me incomodava, ao mesmo tempo em que, em certos momentos, eu me lembrava de
alguns dos amigos que fiz quando pequena no orfanato e me perguntava por onde
eles andavam.
Suspirei com as memórias. Atualmente, a única pessoa em quem eu
chegaria o mais perto de confiar algo valioso seria Todd. Ele me ajudara desde
minha chegada ao beco e até me acompanhou no trabalho algumas vezes, fazendo-me
companhia durante minhas espionagens ou realmente me ajudando com disfarces ou
coisas do tipo. Era, de longe, a pessoa com quem eu mais tinha
intimidade.
Virei a última esquina e andei até chegar a casa em que se
localizava o beco. Sua aparência de abandonada estava cada dia mais real, com a
grama quase na altura das janelas em alguns pontos, enquanto em outros parecia
ter sido queimada ou danificada de outro modo.
Entrei no beco sem cerimônias. Passei os olhos pelas pessoas
presentes e percebi que Todd ainda não havia chego. Me deitei na minha
poltrona, com os pés num dos apoios para os braços, e aguardei em silêncio, com
os olhos fechados enquanto escutava um pouco de cada conversa.
Um dos mafiosos estava desabafando com um dos traficantes. Ele não
era o líder, e parecia que estava cansado do comportamento do patrão. Outros
dois traficantes — de drogas diferentes — estavam discutindo o preço dos
seus produtos. Ao que parecia, seus clientes estavam dando mais atenção ao
valor do que a qualidade.
Ainda havia alguns "aprendizes" de outros membros mais
no fundo da sala. Jogavam cartas, e vez ou outra era possível ouvir algum
xingamento vindo do perdedor.
Estava mergulhada nos meus próprios pensamentos quando senti uma
respiração na minha nuca, seguida por um sussurro.
Todd: Quanto tá a hora?
Ele se sentou no sofá quase demolido ao lado da poltrona.
Charlotte: Em quando você me avalia?
Ele me avaliou, dando uma daquelas olhadas de cima a baixo.
Sorriu.
Todd: Não muito.
Revirei os olhos e me levantei para sentar ao seu lado. Acabei me
deitando, jogando as pernas sobre seu colo.
Conversamos sobre tudo um pouco: sobre o meu trabalho do dia,
sobre o dele. Todd ainda falou um pouco sobre seus aprendizes e como estavam
sendo cansativos, além de algumas fofocas do beco.
Estava tudo bem, até ouvirmos o som de uma garrafa se quebrando,
seguido pelo som de alguém sendo jogado contra a parede. Quase que
automaticamente, todos os veteranos se levantaram, a maioria armada, se virando
para a direção de que viera o som. Percebi que estava com a minha faca em mãos,
mas não lembrava de tê-la pego.
Um dos aprendizes de Todd, o mais problemático pelo o que ele
havia contato poucos minutos antes, segurava um pedaço da garrafa quebrada
contra o pescoço de um dos aprendizes de um mercenário. Seus olhos exalavam
fúria, mas a única reação do segundo era tentar afastar um dos braços do
agressor.
Todd: Vá dar uma volta.
Aprendiz: O quê?
Todd: Vá dar uma volta.
O aprendiz ousou olhar para Todd, que neste ponto os olhos
emanavam um fogo tão mortal quanto o do mais novo.
Todd: SUMA DA MINHA FRENTE.
O garoto hesitou antes de soltar o vidro e o outro aprendiz. Saiu,
claramente com raiva, e bateu a porta.
O respectivo mercenário responsável pelo segundo garoto foi até
ele, ajudando-o a se recuperar. O resto das pessoas voltaram as suas atividades
de sempre, como se nada tivesse acontecido.
Todd e eu nos sentamos novamente.
Todd: Estou cansado desse cara. Não tem um dia que ele não me
cause problemas.
Charlotte: Você não pode simplesmente... Expulsá-lo?
Ele suspirou.
Todd: Posso. Mas é um risco muito grande. Ele parece ser do tipo
vingativo, pode entregar não só a mim como todo o beco.
Todd estava certo. O garoto parecia mesmo ter problemas para
controlar a raiva.
O assunto acabou entre nós por um momento. Um dos traficantes
tirava dúvidas com Todd quando um dos aprendizes avisou que já era meia noite e
meia para um de seus chefes. Lembrei que em meia hora eu iria para o meu
próximo trabalho.
Charlotte: Você já ouviu falar em um tal de
Davi Klein?
Todd pensou um pouco.
Todd: Não, nunca.
Me ajeitei no sofá, suspirando.
Charlotte: Esse foi um dos disfarces mais
recentes de Cristopher. Parece que ele matou o líder de uma das máfias do outro
lado da cidade, e o sucessor também.
Notei que os outros mafiosos e líderes presentes se entreolharam.
Um dos líderes: Bom saber. Lá só há
duas máfias realmente grandes. São famosas por brigarem há décadas, a tensão
vai ficar alta por lá.
Outros concordaram com a opinião dada.
Charlotte: Alguma informação que possa me
ajudar a encontrar o assassino?
Negaram, prometendo que se soubessem algo me contariam.
Todd: Você devia visitar a Ash.
Revirei os olhos. Ashley também era uma traficante, mas não
frequentava o beco. Lembrava-me do meu último encontro com ela, há quase um
ano. Todd pedira para que eu a ajudasse numa entrega, mesmo eu dizendo que era
uma assassina, não uma guarda-costas. A animação da garota era quase que
surreal, e ela sequer usava seus produtos — ou qualquer outro do
gênero.
Charlotte: Pra quê?
Todd: Ela deve ter alguma informação. Ela é uma boa informante, na
verdade. Você a odeia tanto assim?
Charlotte: Eu não a odeio! Ela é só...
Feliz demais.
O assunto prosseguiu por mais alguns minutos. Quando calculei que
faltavam quinze minutos para uma hora, resolvi que deveria me dirigir para o
próximo local de trabalho. Nesta noite, eu espionaria de uma árvore num parque
ali perto. Minha vítima, aparentemente, sequestrava, estuprava, e vendia
mulheres como escravas sexuais. Um pacote completo, por assim dizer.
Me levantei, certificando-me que a faca estava bem presa na perna.
Por mais que o vestido que eu usava fosse extremamente curto e justo, não
achava que ele fosse me atrapalhar tanto, até porque o sobretudo cobria tudo.
Todd se levantou também.
Todd: Então, aonde vamos?
Charlotte: Suas vendas estão tão fracas
assim?
Todd: A próxima entrega é só às três.
Pensei um pouco, e então indiquei com a cabeça para me seguir.
Não conversamos durante o caminho, mas o silêncio entre nós
permanecia confortável. Chegamos no parque em cinco minutos. Olhei ao redor
para ter a certeza que nenhuma das duas partes havia chego, e então subi na
árvore, que ficava numa parte um tanto distante do ponto de encontro da minha
vítima, mas perto o suficiente para saber exatamente o que estava acontecendo.
Não sabia de que espécie era, mas era grande, com galhos fortes e muitas folhas
que ajudavam na nossa tarefa de nos ocultarmos. Todd reclamou um pouco ao
subir.
Charlotte: Você precisa se exercitar mais.
Todd: Sim, quem sabe eu entre no mercado de tráfico de
anabolizantes.
Não demorou muito para avistarmos uma van preta, com vidros também
escuros, chegar e estacionar em frente ao parque. Ninguém saiu dela até então.
Logo depois, um homem de aparência de uns trinta anos, veio em
passos apressados até o meio da praça. Ele usava óculos do tipo fundo de
garrafa, e estava um pouco acima do peso. Mesmo de longe era possível notar que
era calvo, e carregava uma bolsa de couro atravessada pelo corpo, como um
carteiro.
Um homem saiu da van, vestindo jeans rasgado e uma jaqueta de
malha que parecia estar pedindo para ser jogada fora. Ele foi até a traseira da
van e tirou algo de dentro. Não era possível ver dali o que era, mas obviamente
ele estava fazendo um grande esforço.
Então eu percebi que não era o
que, mas quem. Em
pouco tempo, ele arrastou uma garota — que estava tão machucada que
era impossível dizer qual era sua idade — para fora do automóvel. Essa,
tinha cabelos castanhos e longos, que agora estavam oleosos e claramente cheios
de nós. Seu rosto mostrava sérios hematomas, assim como o resto de seu corpo.
Ela estava completamente nua, sendo arrastada pelo chão de pedra do parque
enquanto seus braços e pernas estavam amarrados. Na boca, um pedaço de fita.
Ela chorava e lutava para se soltar, mas tudo era em vão.
Todd: Oito.
Pouco peito, na minha opinião.
Dei uma cotovelada em Todd, pedindo silêncio ao mesmo tempo em que
mostrava indignação com o comentário.
Sequestrador: Passe o dinheiro.
O homem retirou a bolsa de couro e jogou na direção do
sequestrador, que pegou a alça ainda no ar. Ele então empurrou a garota na
direção do segundo, que a pegou e a arrastou-a até que eu os perdesse de
vista.
Ambos foram embora.
Todd: Você não vai salvá-la?
Charlotte: Por que eu deveria? Meu trabalho
é matar as pessoas que passam dos limites, como esse cara. Salvar suas vítimas
não está no pacote, não é isso o que eu faço.
Desci da árvore e limpei as mãos no sobretudo.
Charlotte: E depois que acharem o corpo
dele, a polícia irá atrás das garotas que ele vendeu.
Todd: Então agora você confia no sistema?
Charlotte: Não tanto. Mas não tenho tempo
para corrigir suas falhas.
Ele pareceu aceitar meu comentário.
Andamos juntos, agora mais lentamente, até o ponto em que nossos
caminhos mudariam. Ele voltaria para o beco, enquanto eu iria para a
delegacia.
Charlotte: Então... Boa noite.
Todd: Boa noite.
Ficamos nos encarando por mais um momento. Não importava o quanto
já estivéssemos acostumados com o nosso trabalho e com o risco
dele, sempre havia uma aflição, uma possibilidade de no dia seguinte, ao voltar
para o beco, receber a notícia. Já havíamos recebido várias vezes no
longo desses anos, mas ainda assim...
Charlotte: Apenas... Tome cuidado, ok?
Ele sorriu.
Todd: Vou tomar.
Apertamos as mãos, mas nossos olhos permaneciam grudados um no
outro, gravando bem aquela imagem.
Nos viramos, dessa vez sem olhar para trás.