24. Duvide da sanidade de certas pessoas.
Passamos alguns minutos em silêncio.
O pseudônimo da reportagem que eu
encontrara era o mesmo de um dos policiais que entrara na equipe de Alexander
no último ano. A notícia era de três anos antes, quando ele ainda estava na
academia. Os outros “jornalistas” também tinham ligações com a polícia, sendo
alguns que na época ainda estavam em treinamento e outros aposentados.
Charlotte: Quanto
tempo você falou que o empresário apareceu pela primeira vez?
Santiago: Quase
cinco anos.
Agora quem ria era eu.
Há exatos cinco anos, Alexander e eu fizemos
um acordo onde eu moraria na delegacia e o ajudaria em alguns casos. Mas ele
nunca quis uma troca de favores.
Alexander estava montando uma armadilha.
Charlotte: Isso
foi para mim. Talvez até mesmo para todo o Beco.
Santiago logo entendeu o que eu quis dizer,
mas Cristopher precisou de uma breve explicação do informante sobre o que
acontecera depois que ele me abandonara. Não sabia se devia ficar surpresa ou
não pela quantidade de informações que o latino sabia.
Santiago: Vocês
precisam sair daqui. Agora.
Charlotte: Você
acha que Alexander não vai notar se eu sumir? Espere, e os outros?
Mesmo se eu sumisse sem deixar rastros,
todo o Beco sofreria problemas. Eu não podia deixá-los sozinhos numa situação
que, mesmo inconscientemente, eu havia criado.
Santiago: Está na
hora de encerrar isso, Charlie.
Abri a boca para rebater, mas eu não tinha
muito a dizer. Agora Alexander podia nos prender a qualquer momento. Ou pior.
Santiago: Vou
levar vocês para um esconderijo.
Charlotte:
Precisamos ir até o Beco antes.
Santiago:
Qualquer aparição de vocês é arriscada.
Charlotte: A deles
também.
Notei a mudança na respiração de Santiago,
mas não soube dizer o que significava.
Santiago: Eu
cuidarei disso.
Hesitei por um momento e então concordei,
fazendo-o prometer que levaria Scott até nós também. Com certeza ele iria
querer ver Cristopher antes da “batalha” começar.
O informante nos passou as instruções de um
esconderijo ali perto. Um prédio abandonado, onde alguns traficantes guardavam
sua mercadoria. Aparentemente, a polícia “não tinha conhecimento sobre a
situação”, o que significava que estavam ganhando uma quantia interessante em
dinheiro. Andei rapidamente em direção à porta, com Cristopher me seguindo
silenciosamente. Antes de sair Santiago se aproximou, me entregando uma arma.
Ele estava sério, preocupado talvez. Estávamos assumindo uma guerra, e não
tínhamos um plano ou um exército. Se perdêssemos, nem mesmo a mais alta quantia
salvaria qualquer um de nós.
Santiago: Se
proteja, Charlie.
Charlotte: Não me
chame de Charlie.
Ele então sorriu e eu, com certo esforço,
retribuí. Estávamos do mesmo lado.
Saí pela porta seguida por Cristopher e,
enquanto me afastava, pude ouvir Santiago dando ordens em espanhol ao homem do
lado de fora.
O caminho que Santiago nos dera não era tão
longo, mas precisávamos ficar atentos a possíveis interrupções. O informante
nos dera uma palavra-chave senha para caso encontrássemos um dos traficantes
que utilizavam o prédio, mas dissera que achava isso improvável.
Subimos sete lances de uma escada de
cimento e passamos por diversas salas, a maioria sem portas e com diversos
tipos de objetos espalhados, até encontrar a indicada.
O lugar que nos fora passado era pequeno e
ficava distante de qualquer outra sala, sendo a única naquela metade do andar.
Estava vazia e empoeirada. Parecia do tamanho de um quarto de solteiro de um
apartamento pequeno qualquer.
Após analisar o espaço, me encostei numa
das paredes. Cristopher fez o mesmo na parede oposta e ficamos nos encarando
por um tempo.
Aproveitei o momento para analisá-lo mais
um pouco, já que sabia que fazia o mesmo comigo.
Cristopher parecia pronto para matar
qualquer um que aparecesse sem pensar duas vezes. Era com certeza mais forte e
tinha a impressão de que, caso precisássemos lutar, eu deveria tomar cuidado
como agiria. Pela primeira vez, estava em dúvida sobre ganhar um combate corpo
a corpo com um homem.
Charlotte: Há
quanto tempo você trabalha com isso?
Cristopher:
Onze.
Não fiquei surpresa, até lembrar da sua
idade. Ele era apenas um ano mais velho que eu.
Charlotte: Você
mata pessoas desde os treze anos? E nunca foi pego?
Ele sorriu, orgulhoso.
Charlotte: Está
mentindo.
Cristopher:
Acredite no que quiser.
Procurei falhas na sua confiança, mas
percebi que ele realmente estava falando a verdade.
Charlotte: Como?
Vi seus olhos brilharem. Estava começando a
pensar na possibilidade do homem a minha frente ser um sociopata.
Cristopher: Seu
interesse por mim é fascinante.
Charlotte: Não
tenho interesse em você.
Cristopher: E me
procurou por seis anos? Tenho certeza que isso é algum tipo de fanatismo.
Me calei por um momento, tentando tomar
cuidado com as próximas palavras.
Charlotte:
O
que eu não entendo... Você sumiu. Me deixou sozinha com um estranho, após ter
atirado naquele homem. E naquele outro garoto.
Fiquei surpresa ao não me lembrar do nome
do menino que Cristopher matara. Sabia apenas que ele estava na nossa turma e
era irmão de uma das minhas colegas.
Cristopher: Ah,
pensei que você já teria encontrado a resposta para isso. Por que diabos eu
iria querer uma criança ao meu lado quando eu precisava cuidar da minha vida? Vamos,
você faria o mesmo.
Ele estava certo, parcialmente. No lugar
dele, teria levado quem quer que estivesse comigo para algum lugar seguro, e aí
sim desaparecido.
Cristopher: Você
está pensando sobre isso, não está? Será que estamos desenvolvendo algum tipo
de ligação?
Cristopher se aproveitou do único momento
que fiquei desatenta. Antes que eu pudesse voltar a encará-lo, ele apareceu na
minha frente, mais próximo do que eu considerava apropriado.
Também não soube como responder aquilo, mas
precisava inverter a situação.
Ensaiei uma resposta, mas o assassino foi
mais rápido. Cristopher me beijou, apoiando uma de suas mãos na parede enquanto
a outra segurava meu queixo — um gesto mais firme do que gentil.
Tentei empurrá-lo, mas eu estava certa quando
avaliei sua força. Isso só fez com que ele se aproximasse mais. Podia senti-lo
rindo, enquanto continuava a ação. Não era algo romântico ou doce, mas sim
selvagem e violento. Era grosseiro, forçado. Minhas tentativas de afastá-lo
estavam sendo em vão e pareciam diverti-lo.
A mão que segurava meu queixo desceu até
minha cintura. Ele interrompeu o beijo, me encarando com o mesmo olhar
malicioso que eu já havia visto em alguns dos estupradores que tive a
oportunidade de matar. Não era sexy, mas sim assustador. No entanto, não me
deixei abalar.
Ele sussurrou em resposta ao meu olhar de
fúria e insatisfação.
Cristopher: Ah,
Charlotte. Não tente ser uma boa menina agora. Você veio até aqui por mim, não
foi? Vamos fazer isso valer a pena.
Tentei empurrá-lo novamente, em vão. No
mesmo momento em que lembrei da arma de Santiago, o assassino a encontrou em
meu bolso e a jogou para longe.
Cristopher agarrou meus quadris com as duas
mãos e iniciou uma série de beijos e sussurros grosseiros ao meu ouvido.
Enquanto eu tentava feri-lo de alguma forma, ele forçava nossos corpos um
contra o outro.
Não pude conter um gemido quando ele fez
uma pausa de milésimos, voltando a me encarar. Isso pareceu excitá-lo ainda
mais, pois seus lábios estavam de volta aos meus antes que eu pudesse assimilar
a ação. Senti uma de suas mãos subindo pelas minhas costas, por baixo da blusa.
Teria alcançado o fecho do meu sutiã, se uma voz não tivesse o interrompido.
Talvez essa fosse a única vez em que eu
sentiria prazer com uma aparição de Santiago.
Santiago: É bom
saber que vocês estão bolando um plano.
Cristopher interrompeu a ação, mas não me
soltou. Percebi que sua outra mão segurava meu pulso direito como que em
defesa, e me perguntei qual dos meus ataques o haviam incomodado.
Scott: Será
que estou interrompendo algo importante aqui?
Cristopher sorriu com a mesma malícia de
antes e finalmente me soltou, voltando para o seu lado da sala.
Cristopher: Nada
que eu não faça todos os dias.
Com o afastamento do assassino, pude enfim
retomar o fôlego. Scott entrou na sala, vindo até mim.
Sua voz era um sussurro com uma violência
controlada.
Scott: Você
está bem?
Evitei seu olhar. Por algum motivo, não
soube bem como responder a pergunta.
Fisicamente? Sim, aparentemente. Não havia
sido ferida, apesar dos beijos forçados.
Mentalmente? Eu já não tinha certeza. Já
havia me conformado com a frieza de Cristopher, mas não imaginava que o
assassino seria capaz de tanto.
Scott:
Charlotte?
Notei sua voz se suavizar. Com um esforço
maior do que eu pensei que seria necessário, levantei a cabeça, olhando Scott
nos olhos.
Charlotte: Estou.
Scott pareceu entender algo que talvez nem
mesmo eu havia entendido, e agradeci mentalmente por isso. Ele se ajeitou ao
meu lado, com as mãos no bolso da calça social.
Charlotte: Você
tem algo contra o jeans?
Scott: Não. Na
verdade, ele fica muito bem em mim. Não que isso seja algo surpreendente.
Revirei os olhos e o vi sorrindo como
sempre: provocador, mas com uma gentileza escondida.
Santiago entrou na sala carregando uma
bolsa um pouco maior das que eu usava para transportar o material necessário
para os meus trabalhos.
Santiago: Agora
que vocês se resolveram, deixem-me explicar o plano.
Ficamos todos em silêncio enquanto o
informante falava.
Santiago estava montando uma equipe que nos
ajudaria no combate contra Alexander e os outros policiais. Não fiquei surpresa
quando disse ter um infiltrado na delegacia, e que o delegado desconfiava da
minha aproximação com Cristopher. Parecia que, se eu não voltasse esta noite, a
guerra estaria declarada.
O informante retirou uma sacola plástica de
dentro da bolsa e colocou-a no chão.
Santiago: Vocês
vão passar a noite aqui. Vou voltar para buscá-los amanhã, com base nas
informações que eu terei. Dúvidas?
Nenhum de nós respondeu. Pegando a bolsa
novamente, Santiago andou até a porta, parando por um momento.
Santiago:
Se
vocês se matarem nas próximas horas, não pensem que vou levar os corpos de
vocês para um enterro cheio de flores. Lembrem disso quando estiverem
discutindo.
Ele saiu, deixando o silêncio e sacola
plástica na sala. Pouco mais de dez minutos se passaram até nos mexermos.
Scott e Cristopher abriram a sacola,
enquanto eu pegava minha arma novamente. Santiago havia nos deixado três
garrafas de água, algumas barras de cereais e balas extras para as armas.
Dividimos os itens sem nenhum tipo de
interação e voltamos para nossos respectivos lados. Dessa vez, sentamos todos
no chão.
Cristopher analisava as balas deixadas por
Santiago, numa tentativa de se distrair. Scott, ao meu lado, encarava o
assassino fixamente. Parecia perdido em suas memórias e estava visivelmente
tenso. Me perguntava o porque de ele estar perseguindo Cristopher. Eu tentara
perguntar uma vez, mas ele apenas demonstrou uma forte irritação e não me deu
uma resposta, o que era algo realmente anormal para Scott.
Charlotte: Você
está bem?
Scott: Por que
não estaria?
Eu não sabia responder. Seu tom era quase mecânico.
Scott: E você?
Charlotte: O quê?
Scott: Está
bem?
Por um momento pensei que ele havia
enlouquecido.
Charlotte: Você já
me perguntou isso.
Scott: Ah, não
estamos tentando desenvolver algum assunto? Você sabe, fortalecer nossos laços
durante o conflito que enfrentaremos nas próximas horas...
Charlotte: Não.
Cristopher segurava as balas como se ainda
as tivesse analisando, mas eu sabia que nos observava. Tinha a sensação de que,
quando Scott e eu nos distraíssemos, ele nos mataria e fugiria. Provavelmente
sequer se daria o trabalho de esconder os corpos.
Scott:
Charlotte.
Encarei Scott, esperando uma continuação.
Scott: Você
notou que essa será nossa primeira noite juntos?
No primeiro segundo, eu não soube como
reagir. No segundo seguinte, revirei os olhos.
Charlotte: Eu vou
atirar em você.
Pela primeira vez desde que havia chego,
Scott relaxou por um momento e sorriu.
Scott: Você
não faria isso.
Preparei uma resposta, mas nosso diálogo
fora interrompido.
Cristopher: Eu
faria.
Scott,
que olhava em minha direção esperando uma resposta, voltara a encarar o
assassino. Vi quando suas feições se endureceram e as costas se endireitaram
com a tensão. Ainda assim, ele tentava não se mostrar abalado.
Cristopher sorria de uma forma macabra. As
balas agora estavam todas juntas em sua mão.
Passamos horas em um silêncio absoluto.
Alguns minutos depois da última palavra dita, os assassinos iniciaram uma
tempestuosa briga por meio de olhares. Eu quase podia lê-la e isso foi a única
coisa que me manteve atenta nesse tempo.
A expressão de Scott era uma espécie de
olhar mortal que eu jamais havia visto, sequer pensava que ele tinha capacidade
para algo do tipo. No entanto, Cristopher apenas o observava, relaxado e
sorrindo. Parecia satisfeito, e eu tinha a sensação de que ele estava se
divertindo tanto quanto se estivesse numa praia, o que irritava tanto a mim
quanto Scott.
Cristopher: Scott,
eu sou tão hétero quanto atraente. Você não vai me seduzir pelo olhar.
O som repentino me deixou desnorteada por
um momento. Olhei para Scott, que estava a ponto de explodir.
Observando a relação dos dois, percebi que
eu era mais paciente do que acreditava ser.
Cristopher: Você
não devia se estressar. Dizem que estraga a pele.
Eu tinha quase certeza de que estava vendo
uma aura negra fluir de Scott, mas ele apenas riu sem humor.
Scott: Quando
tudo isso acabar, você estará morto. Acha mesmo que estou preocupado?
Cristopher: Na
verdade, estou até mesmo impressionado por você não se esforçar em adiantar
esse fato.
Scott murmurou algo que não entendi e,
antes que eu pudesse piscar, partira para cima de Cristopher, que se levantara
e agora estava contra a parede, parte da camisa sendo torcida por uma das mãos
de Scott. Me levantei quando notei que a outra mão segurava uma arma.
Antes que eu pudesse me aproximar,
Cristopher empurrara Scott e acertara um soco em seu rosto, mas que
incrivelmente pareceu não surtir efeito. Antes que pudesse golpeá-lo mais uma
vez, o assassino de terno chutou o segundo no estômago, deixando-o sem ar por
tempo suficiente para acertar o cano da arma no rosto do homem.
Engatilhei minha arma e puxei Scott para
trás no exato momento em que Cristopher avançou uma segunda vez. Dessa vez, o
chute que colocou o assassino contra a parede veio de mim. Antes que pudesse
reagir, peguei a arma de Scott e me coloquei entre os dois, preparada para
atirar em qualquer um.
O único som na sala era da respiração
ofegante dos dois.
Ainda com os braços esticados que apontavam
as armas para os assassinos, virei o rosto em direção a Cristopher apenas o
suficiente para vê-lo com a minha visão periférica.
Charlotte: Eu não
me importo de matar você agora.
O silêncio continuou por alguns segundos,
até Scott ensaiar um passo em minha direção. Não me dei o trabalho de encará-lo
para emitir o primeiro — e único alerta.
Charlotte: Eu não
faria isso.
Ele hesitou e então voltou para a parede
oposta.
Depois de alguns minutos em silêncio,
abaixei os braços, mas permaneci no meio da sala. Vez ou outra eles abriam a
boca com a intenção de dizer algo, mas logo desistiam.
Charlotte: Não me
façam acreditar que estou lidando com idiotas.
Cristopher ajeitou a postura e limpou o
sangue que começava a escorrer do corte no rosto, provocado pela arma de Scott.
Da maneira mais indiscreta possível, ele me analisou de cima a baixo com outro
de seus olhares repulsivos, e então se sentou com a cabeça baixa, mas
visivelmente irritado.
Após alguns segundos o observando, tendo
certeza de que não me atacaria pelas costas, caminhei em direção a Scott e
devolvi sua arma de maneira grosseira. Ele estava com a aparência melhor que a
de Cristopher, mas o enorme hematoma em seu rosto me sensibilizou por um
segundo.
Mas foi apenas um segundo.
Scott pegou a arma e sussurrou em resposta
a minha ameaça anterior.
Scott: Você
não atiraria em mim.
Minha resposta foi apenas um olhar direto
cheio de significado.
Nos sentamos como antes e o local
permaneceu em silêncio até o anoitecer.
A luz da lua não era o suficiente para
iluminar a sala, de forma que não víamos mais do que a silhueta de cada um.
Minha raiva passou com o tempo, sendo
substituída por sentimentos como frio e cansaço.
Acabei me perdendo em pensamentos
supérfluos, como o porquê de eu ter escolhido não ter levado uma jaqueta ao
sair pela manhã, seguido pela lembrança de que eu não planejava fugir de tudo e
todos de repente.
Percebi que refletir não estava sendo uma
boa ideia, então optei por observar Cristopher.
Minha visão não demorou tanto quanto eu
esperava para se acostumar com a iluminação noturna, e logo eu percebi que o
assassino estava adormecido. Ou rezando.
Não, ele realmente estava dormindo.
Não pude conter um suspiro enquanto
abraçava as pernas. O frio nunca me incomodara e sequer estávamos no inverno, mas
meus braços estavam arrepiados e a única coisa em que eu pensava era como podia
ventar dentro daquela sala.
Me assustei quando Scott colocou um de seus
braços ao redor de mim, me puxando para perto.
Tentei me desvencilhar, mas ele insistia.
Sussurrei, repreendendo-o.
Charlotte:
Scott.
Scott: O quê?
Ensaiei uma resposta, mas ambos paralisamos
por um momento antes do ódio fervilhar quando fomos interrompidos.
Cristopher: Então
eu preciso vestir um terno pra podermos transar? Alguma marca específica?
Me levantei e fui para o canto do meu lado
da sala, lançando um olhar mortal para Cristopher no processo. Scott mal se
mexeu no lugar, também fuzilando o assassino mentalmente.
Me encolhi da melhor maneira possível para
aquecer os braços, mas tentei não fechar os olhos. Sabia que, se o fizesse,
acabaria dormindo logo.
Cristopher: Querem
jogar roleta russa?
Enquanto pensava numa resposta, notei que,
ao lado de Cristopher, suas balas estavam enfileiradas. Cada vez mais eu tinha
certeza de que ele era louco.
Scott: Só se
tivermos a certeza de que é você quem perde.
O outro assassino fez uma pausa e sorriu em
deboche.
Cristopher: Então
já falam um em nome do outro? Ah, que romântico. Me convidem para o casamento.
Quer dizer, se tiver boas madrinhas. Se não, nem percam tempo.
Nojo. Era a única coisa em que eu conseguia
pensar.
Eu sabia que a maioria dos assassinos de
aluguel não eram tão gentis como eu ou Scott, mesmo tendo alguns critérios.
Alguns, por exemplo, não matava crianças ou grávidas, mas eram
inimaginavelmente rudes.
Mas Cristopher era nada além de uma
criatura sanguinária, repulsiva.
Cristopher e Scott passaram algum tempo
trocando comentários ofensivos e, mesmo estando claro a raiva de Scott, seu tom
de voz pacífico me impressionou. Quem não o conhecesse jamais pensaria que, a
qualquer momento, ele poderia pegar a arma e atirar no assassino. Nem eu acreditava muito na ideia, por mais
possível e próxima que fosse.
As horas se passaram e não pude resistir ao
sono.
Como sempre, não tive sonhos.