domingo, 8 de junho de 2014

Suspect - Capítulo 2: O policial

2. Não confie.
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Outras três armas foram apontadas para Cristopher. 
Naquele momento, percebi que nós dois morreríamos ali. Ele não podia fazer nada. Se atacasse um deles, outro atiraria nele. E provavelmente em mim também.
Mas claro, em nenhum momento foi dito ou demonstrado que minha morte faria diferença.
Enquanto Cristopher olhava para cada arma apontada em sua direção, o homem atrás de mim começou a falar.
Homem: Cristopher, Cristopher. Você cometeu um erro grotesco desta vez, não concorda?
Agora, os olhos de Cristopher eram semelhantes ao de uma fera selvagem. 
Minha vontade era de sair correndo, já que ninguém me segurava. Mas sabia que se o fizesse, morreria logo em seguida.
Depois de um longo tempo em silêncio, Cristopher reagiu. Chutando o braço de um garoto que estava com a arma em sua direção, ele o imobilizou e pegou o revólver. Apontando em direção ao homem que estava atrás de mim, ele deu um sorriso sarcástico.
Mesmo com outras duas armas apontadas para ele, Cristopher não tinha medo.
Cristopher: Para falar a verdade, não concordo de maneira nenhuma.
Em seguida, atirou no homem. 
Por reflexo, me virei. Vi um homem que vestia um terno não muito elegante, de aproximadamente um metro e setenta, cair no chão, morto.
Era a segunda morte que via e eu estava horrorizada.
Os outros dois que seguravam armas saíram correndo. Cristopher libertou o terceiro, que seguiu os outros dois.
O idoso asiático, dono da loja, se aproximou. Percebi que ele se escondia atrás de uma das prateleiras mais afastadas da atual cena do crime. 
Cristopher me encarava, enfurecido.
Cristopher: Eu vou embora agora. E você não vai me seguir.
Charlotte: Por que você vai embora? Para onde você vai? Me colocou nisso tudo, e agora vai me abandonar?
Ele se aproximou, olhando dentro dos meus olhos.
Cristopher: Exatamente.
Ele se virou para ir embora. Permaneci em silêncio.
Cristopher: Treine ela.
Em seguida, saiu.
Me virei para encarar o velho.
Charlotte: Me treinar... pra que?
Ele sorriu.
Idoso: Vamos tomar um chá.
Algumas horas depois, ele me contou sobre Cristopher, e disse que iria me treinar para ser uma assassina também. Perguntei se ele havia o treinado também, mas o idoso negou.
O treinamento durou pouco menos de um ano, e o idoso morreu algumas semanas após meu primeiro trabalho. Eu nunca descobri seu nome, nem se tinha algum parente.
Ele havia me dado as chaves do mercado alguns dias antes de falecer. Optei por fecha-lo e usa-lo como esconderijo no caso de extrema necessidade e, anonimamente, doei todos os produtos do mercado para diversos orfanatos. 
Percebi que receberia muitos pedidos de trabalho, então resolvi filtra-los, para não matar um inocente. Eu avaliava a vítima. Isso poderia durar alguns dias, como poderia durar alguns meses.


Um ano depois

Era domingo, meio de tarde. Estava procurando algo para passar o tempo, até chegar a hora do encontro com minha próxima vitima. Resolvi ir até o "beco".
O "beco" era um lugar que eu havia descoberto acidentalmente. Para chegar até ele, você deveria descer uma escada em formato espiral que ficava dentro de uma casa abandonada. Você iria encontrar diversas salas sem portas, e algumas até mesmo com apenas metade das paredes. Virando a direita e seguindo até o final do corredor, qualquer um que visse acharia que não tinha saída. Mas com um pouco de força, era necessário apenas empurrar a parede. Ela se encaixaria com outra, e então um recorte menor na parede que fora movida iria se destacar, revelando uma porta. Esse método só servia para entrar. O lugar havia diversas saídas, para o caso da polícia ou qualquer outro visitante indesejado aparecer. O beco não era para morar, e sim para os profissionais se reunirem sem se preocupar.   Lá, se reuniam quase todos os tipos de pessoas do crime. Porém, no meio de todos aqueles traficantes, mafiosos e outros malfeitores, eu era a unica assassina e a única mulher. Uma vez ou outra, alguma traficante aparecia para conversar com alguém do ramo, mas era só. Eu realmente era a única mulher e a unica assassina entre os "membros frequentes". 
Lembro-me bem do meu primeiro dia no beco. Ouvi alguns dizerem que eu não aguentaria um dia. Estavam errados e, na primeira semana, eu havia discutido com um dos mafiosos. Foi assim que conquistei o respeito dos outros membros. Após eu chegar no beco, um dos mafiosos resolveu me xingar. Eu simplesmente o humilhei, com palavras que ele mal sabia o significado. Ele ficou irritado e, se não fosse um de seus colegas, provavelmente teríamos partido para a agressão física. Assim, não conquistei apenas o respeito, mas também uma poltrona rasgada e velha. Ela era o lugar mais confortável do beco. Depois da discussão, sempre que notavam minha presença, se retiravam da poltrona para me dar espaço. No começo achei divertido, e logo me acostumei. Eu era respeitada por ali, e aquilo era muito bom.
Mais ou menos dois meses depois, o lugar foi invadido pela policia. Eu era a única que, até então, não tinha problemas com ela, portanto a responsabilidade de engana-la ficou por minha conta dessa vez, enquanto os outros se esconderiam nas passagens secretas.
Escutei as travas da passagem na parede começando a se abrir. Rapidamente, pensei num plano. Me deitando da melhor forma possível na poltrona, fingi tirar um cochilo. 
Eles entraram no local gritando. Continuei atuando. Senti que havia alguém perto de mim, e em seguida uma mão tocou meu ombro. Fingi me assustar, mas não fui convincente.
Policial: Você pode falar a verdade, ou nos acompanhar até a delegacia.
Sorri.
Charlotte: Não há nenhuma verdade para ser dita por enquanto. Por que deveria acompanha-lo? O senhor não sabe o caminho?
Ele não pareceu gostar.
Policial: Eu sei que há drogas aqui.
Charlotte: Isso não é problema meu.
Policial: Então é problema de quem? Não tem ninguém aqui além de você.
Charlotte: Eu não sei. Não estou aqui sempre. Poderiam se retirar, por favor? Eu tenho que trabalhar mais tarde.
Me virei em direção a poltrona novamente. Eu estava perdendo a paciência, não achava que seria tão difícil.
Policial: Ah, é mesmo? Com o que você trabalha? Prostituição? 
Charlotte: Assassinatos.
É claro que eu não deveria ter falado aquilo. Eu já não sabia mais o que estava fazendo. Fiquei de frente para ele. Ele permaneceu calado. Dei um meio sorriso.
Charlotte: Não esperava por isso, não é?
A principio, ele parecia pensar em algo.
Policial: Você vem comigo.
Após dizer isso, deu ordens para os outros homens continuarem as buscas. Em seguida, ele me pegou pelo pulso.
Charlotte: Não quero.
Tentei me livrar, mas ele era forte.
Policial: Ah, mas não foi uma pergunta.
Em seguida, ele me puxou em direção a saída. Olhei em direção as passagens, com a expectativa de que não tivesse mais ninguém ali.
Ele me levou em direção a delegacia. A principio, estava vazia. Me guiou por diversos corredores, até chegarmos no que parecia ser um escritório. Apenas nós dois estávamos lá. 
Policial: Pode se sentar.
Desconfiada, me sentei numa cadeira em frente a sua mesa. Ele trancou a porta e, em vez de se sentar na cadeira do outro lado da mesa, sentou ao meu lado.
Policial: Antes de qualquer coisa, eu me chamo Alexander.
Permaneci em silêncio.
Alexander: Você deve estar se perguntando...
Charlotte: O que você quer?
Alexander: Sua ajuda.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
Alexander: Existe um homem na cidade que está violentando garotas de diversos colégios da região. Mesmo que nós consigamos pega-lo... Ele irá para a justiça. Uma hora ou outra ele será solto e as chances de mudança serão minimas...
Charlotte: Ah, claro. E se vocês mesmos o matarem, poderão ser prejudicados. Então precisa de alguém para fazer o serviço sujo.
Alexander: Eu... Eu posso pagar!
Charlotte: Não importa o quanto você pague. Como eu sei que não irá me trair mais tarde? Você é um deles.
Me levantei e andei em direção a porta.
Alexander: Onde você está morando atualmente? Eu sei que não tem um endereço fixo...
Charlotte: Isso realmente não é da sua conta.
Toquei a maçaneta, e então ele se apressou em bloquear a porta.
Alexander: Espere!
Encarei-o, enfurecida.
Alexander: Vamos fazer uma troca.
Ele me mostrou algumas de suas pesquisas sobre sua vítima. Analisei cada folha com cuidado. A maioria das informações eram inúteis. Horas se passaram, e eu resolvi aceitar a proposta.
Levou um mês para que eu pegasse o estuprador. E, durante esse tempo, por incrível que pareça, Alexander e eu viramos bons amigos. Sua equipe ficou desconfiada no começo, mas logo os conquistei.
Vendo o meu trabalho, Alexander fez um acordo comigo. Secretamente, eu trabalharia para ele. Em troca disso, ele me daria um lugar para ficar, e deixaria meus colegas em paz. Eu também poderia continuar meu trabalho, desde que eu não matasse algum inocente.
Nos primeiros dias, fiquei desconfiada, mas logo ele dividiu seu escritório com vidros espelhados. Num lado, estava sua área de trabalho, agora reduzida. No outro, estava uma cama de solteiro e uma comoda, do tamanho ideal para guardar o que eu precisava.
Eu tinha uma casa agora. E um amigo também.
Flashback off