10. Esteja sempre em boa forma, nunca se sabe quando precisará correr.
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Uma
pessoa em sã consciência se afastaria e fingiria que não ouviu nada, ou
chamaria a polícia e sairia dali o mais rápido possível. Alguns corajosos,
armados, entrariam ali. No meu caso, entrei sem arma ou reforço. Não sei se
isso seria uma "coragem suprema" ou uma extrema burrice.
Provavelmente a segunda opção.
Avancei
até avistar a silhueta de um homem. De início, ele não notou a minha presença.
Preferi observar suas ações, já que estava em desvantagem. Pude ouvi-lo fechar
uma porta, provavelmente o local onde a criança estava. Ainda era possível
ouvi-la chorar. Ele se virou, e então pude ver seu rosto. Havia uma expressão
de tranquilidade. Em suas mãos, uma faca manchada com sangue.
Quando
ele me viu, sua expressão mudou para fúria.
Homem: O
que está fazendo aqui? Esse lugar não é ideal para garotas.
Cruzei
os braços e passei a encarar a faca.
Homem: Você
não viu nada, certo?
Movi
a cabeça em sinal positivo.
Homem: Ora,
sua...
Ele
não completou a frase, pois se ocupou em me atacar. Desviei de um golpe com a
faca que mirava o meu pescoço, mas, em compensação, ele agarrou meu braço. O
homem era mais forte do que aparentava. Ele continuava tentando me acertar com
a faca, mas enquanto eu desviava, atraia-o para a rua. Num momento de distração
acertei seu nariz com meu punho. Atordoado, lancei-o para a rua no exato momento
em que uma moto passava a toda velocidade.
O
impacto fez com que o motoqueiro caísse, mas acredito que os danos maiores
foram causados ao homem atropelado.
Encarei-o
ali no meio da rua, e então tive uma ideia. Corri até o motoqueiro e ajudei-o a
se levantar. Não estava gravemente ferido, mas sentia dores fortes no braço e
na perna por causa da queda. Me ofereci para acompanha-lo até um hospital, mas,
como pretendido, ele recusou. Depois de se arrumar, foi embora lançando-me um
sorriso que preferi ignorar. Algumas pessoas paravam para observar o que estava
acontecendo. Percebi que o homem estava pouco consciente, de forma que pude
pegar sua faca sem reclamações. Em seguida, consegui faze-lo levantar e apoiar
um de seus braços no meu ombro. Eu o levei para a delegacia. Pela hora,
provavelmente Alexander já teria ido embora. Não foi tão fácil.
Algumas
vezes, enquanto caminhávamos, notei que ele estava voltando a ter
consciência do que estava acontecendo, fazendo com que eu aplicasse alguns
golpes que o atordoava por um tempo. Eram quase sete horas da noite e os
policiais estavam na troca de turnos. Assim, passei despercebida. Ao chegar à
porta que levaria para o corredor entre meu quarto e a sala de Alexander, notei
que havia um garoto bloqueando a passagem. Ele deveria ter seus vinte e três
anos, e usava o uniforme da policia. Estranhei, pois nunca havia o visto.
De
alguma forma, ele me reconheceu.
Policial: Você
deve ser a Charlotte, certo?
Não
respondi, perplexa. O homem pesava em meus ombros.
Policial: Alexander me falou de você! Ele
pediu para supervisiona-la. Você sabe, entrei na academia recentemente e ele
gostou de mim... Deve estar me testando para algo maior...
A
felicidade com que ele dizia aquilo era sobrenatural.
Revirei
os olhos e avancei em direção a porta, mas ele a bloqueou.
Policial: Ele me disse as regras. Sem
homens.
Charlotte: Não vou obedecer
a suas ordens. Estou trabalhando, você pode me dar licença?
Em seguida, chutei sua canela e ele se agachou, com dor. Abri a porta, que estava apenas encostada, e joguei o homem no chão do corredor.
Em seguida, chutei sua canela e ele se agachou, com dor. Abri a porta, que estava apenas encostada, e joguei o homem no chão do corredor.
Voltei-me
ao policial, que agora estava sentado ao pé da porta.
Charlotte: Você tem algemas?
Policial: O quê?
Charlotte: Algemas.
Policial: Não vou te dar
algemas!
Charlotte: Não estou pedindo.
Dessa vez chutei seu estomago e ele gemeu. Em seguida, esticou-as junto das chaves.
Dessa vez chutei seu estomago e ele gemeu. Em seguida, esticou-as junto das chaves.
Este
não era um comportamento comum vindo da minha parte. Mas, normalmente, os
policiais que me conheciam costumavam a me ajudar. O novato, no entanto, era um
tanto fiel demais a Alexander, de maneira que me atrapalhava.
Charlotte: As chaves da sala dele.
Policial: Não posso... Fazer
isso...
Deixei a
faca amostra. Não era como se eu fosse realmente fazer algo, mas ele exalava
medo e não hesitou em me dar o chaveiro. Agradeci, sorrindo como se nada
tivesse acontecido.
No
chaveiro havia três chaves: da porta principal, da porta da sala e das gavetas
da mesa de Alexander. Abri a porta e o arrastei. Obviamente, ele era
pesado. No meio do caminho, ele acordou e começou a dificultar o meu trabalho.
Encarei a faca que eu segurava. Era muito difícil arrastar alguém com um objeto
daqueles em mãos.
Ele
sentou no chão. Era claro que estava com dores na cabeça - e em todo o resto do
corpo.
Charlotte: Acho
melhor você levantar.
Homem: Se não o
que?
Seu tom
era zombador. Joguei a faca com força em sua perna. Eu não tinha uma mira, até
porque eu não era lá essas coisas em tiro ao alvo, mas, por sorte, acertei sua
coxa.
Ele urrou
de dor.
Charlotte: Agora
você vai fazer o que eu mandar, não é?
Ele
permaneceu calado. Lentamente, retirei a faca de sua perna, da forma mais
dolorida possível. Chutei sua perna e ele novamente gritou.
Charlotte: Eu fiz
uma pergunta.
O homem
me encarou, um olhar vingativo tomava conta de seus olhos.
Charlotte: Sente-se
naquela cadeira.
Indiquei
a cadeira de Alexander.
Gemendo,
ele mancou até a cadeira. Sorri, satisfeita. Caminhei até ele e coloquei as
algemas, uma delas em uma de suas mãos, e outra na mesa do delegado, que era
soldada ao chão. Notei que Alexander havia deixado um casaco no cabideiro
que ficava no canto da sala. Sabendo que ele sempre tinha um par de algemas escondido
em algum lugar, vasculhei a peça. Em um dos bolsos internos, lá estava. Usei
para prender a outra mão a mesa. Ele se esforçava para se soltar, mas era
totalmente inútil. O homem gritava, e isso começou a me preocupar. Não queria
chamar atenção.
Fui
até uma das gavetas de Alexander e a abri. Ele tomava calmantes. Eu sabia disso
porque várias vezes ele dissera que eu era a culpada por isso.
Peguei
um dos frascos e agradeci por ser líquido, facilitaria meu trabalho. Abri o
vidro e dei meu melhor para fazê-lo engolir o conteúdo. Ele tossia e ainda
gritava, mas sabia que logo ficaria calmo o suficiente para me dar uma
tranquila noite de sono.
O remédio
demorou quase meia hora para fazer efeito, mas valeu a pena esperar.
Cansada, mas
satisfeita, me dirigi ao meu quarto e por lá fiquei até adormecer.
Acordei
no dia seguinte com gritos de Alexander no lado de fora da minha porta.
Caminhei, sonolenta, e a abri. Ele estava irritado.
Alexander: Charlotte.
Charlotte: Em carne
e osso.
Alexander: Que m...
Ele
respirou fundo. Alexander estava tentando controlar seu vocabulário, a pedidos
de sua namorada.
Alexander: Quem é
esse?
Charlotte: Eu
não sei.
Alexander: O quê?
Charlotte: Ele estava esfaqueando
alguém num beco, achei ele com uma faca ensanguentada. Resolvi fazer uma boa
ação e o trouxe pra cá.
Ele
começou a sussurrar meu nome como um tom de ódio.
Alexander: Tire
ele daqui.
Charlotte: Esse é o
seu trabalho, não o meu.
Alexander: Você o
trouxe.
Charlotte: Quando
uma pessoa entrega um sujeito à polícia, é obrigação dela cuidar do caso?
Ele
permaneceu em silêncio.
Charlotte: Boa sorte.
Voltei
para o meu quarto e tranquei a porta. Ele tentou me chamar algumas vezes, mas
ignorei.
Eu não
tinha muita coisa para fazer a não ser esperar até o momento de ver Santiago.
Tentei
evitar Alexander o máximo possível. Sabia que levaria um longo e entediante
sermão se o encontrasse.
Perdi o
almoço e só sai do quarto quando eu soube que ele não estava mais por perto, e
então fui até a casa do informante, dessa vez mais tranquila em relação ao
local.
Caminhei
lentamente, levando aproximadamente quarenta minutos para chegar ao local.
Não
precisei dizer algo, pois os dois homens em frente à casa logo me
reconheceram.
Um deles
se levantou e fez sinal para que eu o seguisse. Seu rosto mantinha uma
expressão desconfiada.
Fizemos
o mesmo trajeto do dia anterior até o ultimo quarto da casa.
Santiago
estava lá, no mesmo lugar e posição do dia anterior.
Santiago: Charlie!
Fiquei
surpresa, confesso. Havia tempo que não me chamavam por esse apelido.
Charlotte: Não me lembro de
termos nos tornado tão íntimos.
O
homem que havia me guiado nos deixou a sós.
Santiago: Venha, pode se
aproximar.
Receosa,
caminhei para perto da mesa. Havia sete fotos além da que eu havia dado a ele
em cima da mesa. Três eram de idosos, enquanto outras quatro eram de crianças,
todas garotas. Duas delas, gêmeas. A foto rasgada estava no meio das outras,
que formavam um circulo em volta dela.
Santiago
indicou uma cadeira próxima à mesa, e então fui até ela e me sentei.
Ele
apontou para as fotos dos idosos. O primeiro era Adam, e o segundo era Oliver.
O terceiro era o homem cortado da foto, seu nome era Wilson.
As
gêmeas eram netas de Wilson, enquanto as outras duas eram de Adam e Oliver.
Santiago: Uma
das gêmeas morreu por um problema nos rins. Ela deveria fazer um transplante,
mas o órgão nunca chegou até ela.
Charlotte: Foi
roubado?
Santiago: Exatamente. O tipo
de sangue dela era O negativo.
Santiago
pegou a foto da gêmea morta e a amassou, colocando-a num dos cantos da mesa.
Santiago: Recentemente,
a outra gêmea foi diagnosticada com o mesmo problema da irmã, mas dessa vez ela
foi para um lugar muito baixo na lista. Os médicos acham que, pela demora em
achar um novo órgão para ela, a garota vai morrer logo. Eu cheguei a mencionar
que as outras duas garotas também tem o mesmo tipo de sangue?
As
coisas estavam começando a fazer sentido. Wilson havia sequestrado as filhas de
seus amigos para salvar sua ultima neta.
Charlotte: Como ele sabia o
tipo sanguíneo delas? E por que Adam e Oliver não desconfiaram de Wilson?
Santiago: Ele
descobriu, querida, da mesma maneira que descobri. E Adam e Oliver jamais
desconfiariam de Wilson porque, há muitos anos, ele simplesmente sumiu. Ambos
guardaram rancor dele, já que todos estavam passando por um momento difícil,
mas entre os três ele era o que estava em melhores condições. Os velhos acham
que ele sumiu para não ajudá-los, mas na verdade ele apenas fugiu com uma
mulher.
Charlotte: Isso não explica o porquê
de um desconfiar do outro.
Santiago: Recentemente,
Adam e Oliver brigaram. Provavelmente, Wilson estava apenas esperando o momento
certo para que não tivesse que se preocupar em cobrir seus rastros.
Ele
empurrou as fotos para o canto da mesa, junto da gêmea amassada. Em seguida,
Santiago jogou novas fotos. Dessa vez eram quatro, todas de homens. A primeira
ele indicou como o médico que tiraria os órgãos de uma das crianças, contratado
por Wilson. O segundo, era o sequestrador das crianças, também contratado por
Wilson. O terceiro, era quem mataria uma delas ou ambas, caso o transplante não
desse certo. Santiago explicou que, ele contratou o terceiro pois o médico e o
sequestrador recusaram a fazer o serviço. Enquanto o quarto, eu infelizmente
conhecia.
Santiago: Não
preciso dizer que este é Scott, o assassino contratado por Oliver.
Com
esta frase, pude perceber que eu havia sido investigada.
Santiago: É isso o que eu
tenho. Espero que seja útil a você.
Voltei
a observar as fotos. Reconheci o assassino de crianças como o homem que eu
havia levado até a delegacia na última noite.
Peguei
todas as fotos que Santiago havia mostrado, exceto pela de Scott.
Charlotte: Posso?
Santiago: À
vontade.
Me
levantei e caminhei em direção à porta. Antes de sair, ele ainda se manifestou.
Santiago: Ei,
querida.
Virei-me
para encara-lo.
Santiago: Não
se esqueça, você me deve um favor.
Assenti
e então sai do cômodo. Dessa vez, não havia ninguém esperando ao lado de fora.
Já
conhecendo o caminho, me dirigi para fora da casa. Agora eu deveria ir correndo
até a delegacia e torcer para que Alexander não tivesse soltado o homem.
Quando
virei na primeira esquina, lá estava ele, encostado numa placa que dizia
"PARE".
Charlotte: Por
que você está em todo lugar que eu vou?
Scott: Acreditaria
se eu dissesse que é pura coincidência?
Charlotte: Não.
Scott: Então
vou pensar em outra coisa.
Tentei
ignora-lo e não ficar conversando enquanto apressava o passo até a delegacia. E
então ele começou a me seguir.
Scott: Aonde
você vai com tanta pressa?
Charlotte: Para
a delegacia. Adam não sequestrou a neta de Oliver, nem vice versa. Foi Wilson.
E eu peguei o homem que fez o trabalho sujo dele.
Agora,
nós dois estávamos quase correndo.
Scott: Quem
é Wilson?
Resumi
a história da melhor maneira possível. Expliquei que Wilson era um amigo antigo
deles que havia fugido com uma mulher, e que ele havia sequestrado as filhas
dos outros dois por terem um tipo sanguíneo compatível, e assim tentaria salvar
sua neta.
Charlotte: Se
pegarmos esse cara, ele pode nos levar até as garotas e até Wilson.
Scott: E
assim, ninguém morre.
Charlotte: Isso se ele já não
tiver colocado o plano em ação.