segunda-feira, 18 de abril de 2016

Suspect - Capítulo 21: Vinho tinto

21. Não confie em boas ações

Quando eu me lembrasse da cena dali há algumas horas, eu iria rir de cada expressão.
A menina passou os olhos por cada um, tentando reconhecer alguém, mas parecia estar falhando. Um ladrão se levantou de um dos assentos no fundo do beco e pude ver os olhos da garota brilharem.
Menina: Tio Sam!
Ela correu até o ladrão, que se surpreendeu com a garota que o abraçava. Parecia ter acabado de acordar, de forma que não viu sua chegada.
Ladrão: Bia? O que você...
Menina: Papai disse que se ele sumisse por mais de 24 horas eu deveria vir até aqui.
Ladrão: Você veio até aqui sozinha?
A menina assentiu contentemente.
Relacionando as coisas, rapidamente percebi que a menina era filha do ladrão que havia levado o tiro no início da tarde, e que aquele era, até onde eu sabia, o melhor amigo dele. Havia poucas amizades que ultrapassavam o beco, e aparentemente aquela era uma delas.
O ladrão passou os olhos pelas pessoas que estavam observando e parou em mim.
Ladrão: Charlotte, você pode...
Ele apontou para a menina, meio sem jeito.
Charlotte: Se você fugir, eu vou matar você.
Em seguida, andei até a garota e a peguei no colo antes que pudesse protestar.
Fazia algum tempo que eu não me aproximava de crianças diretamente. Na verdade, eu sequer me lembrava da última vez que havia falado com uma.
Os ladrões se reuniram num círculo e começaram a discutir algo em voz baixa, como se estivessem tendo uma reunião de emergência. Eu e os outros membros estávamos em pé, mais afastados para dar a devida privacidade ao grupo. Todos pareciam apreensivos. A menina no meu colo estava encarando o grupo, provavelmente tentando ouvir a conversa.
E então tive uma ideia.
Charlotte: Falta muito para o Todd chegar?
Um dos mercenários olhou no relógio e, depois de pensar um pouco, respondeu.
Um dos mercenários: Uns 15 minutos.
Sorri.
Charlotte: Querem fazer uma aposta?
Eles se movimentaram discretamente, mostrando interesse.
Coloquei a garota no chão e dei algumas instruções. De início, pensei que ela faria várias perguntas e começaria algum drama, mas, para a minha surpresa, pareceu entender o objetivo e aceitou sem reclamações. Ela aparentava ser uma criança tão maligna quanto eu fui, de modo que logo comecei a gostar dela.
Fomos para o canto do beco, onde Todd não nos veria imediatamente quando chegasse. Não demorou muito em seguida para ouvirmos a porta do beco se abrindo. Os membros que participavam da aposta encaravam com expectativa, ninguém querendo perder seu dinheiro. Alguns continuavam a fazer suposições sobre as possíveis reações do traficante.
Quando ele entrou precisei apenas tocar o ombro da garota, que aguardava ao meu lado e nos observava conversar com uma alguma curiosidade.
A porta ainda estava se fechando quando ela correu em sua direção.
Menina: Papai!
Ela agarrou as pernas de Todd, que primeiro se assustou com a aproximação da garota, depois arregalou os olhos e riu nervosamente enquanto tentava se desvincular da menina. Começamos a rir enquanto as trocas de dinheiro eram feitas e ele me olhou diretamente, tentando retomar o controle de suas expressões e provavelmente me fuzilando mentalmente. Sam, o ladrão e tio da garota, olhou ferozmente para nós enquanto pegava a garota pela mão e voltava para o grupo de ladrões. Todd se aproximou e tive a sensação de ainda vê-lo tremer um pouco.
Todd: O que está acontecendo?
Um dos mafiosos explicou toda a história. Depois de um tempo de conversa, Todd se encostou na parede ao meu lado. Nesse ponto, cada membro estava com sua própria panelinha, tentando manter a paciência enquanto aguardava a ordem se restabelecer no local.
Charlotte: Então... Quantos pequenos Ts devemos ter por aí?
Todd revirou os olhos e eu ri.
Charlotte: Caso sirva de algo, você não foi o único a empalidecer.
O grupo de ladrões se dispersou. Pude ver quando, com a menina de costas para o resto, Sam pegara uma arma e escondera por debaixo da blusa. Bia sequer havia visto. Suspirei.
Às vezes era horrível ser uma criança, sem poder saber de nada, sem conseguir entender nada.
Os ladrões não compartilharam a sua decisão, mas pude ouvir quando Sam disse para um dos mercenários que ficaria com a criança. A mãe a abandonara logo após o nascimento e o pai não mantinha contato com os parentes, de forma que a pessoa mais próxima da família realmente fosse Sam. Pelo o que eu havia entendido, ele praticamente acompanhara o crescimento da menina.
Após a saída de Sam, o lugar voltou ao seu habitual.
Eu estava sentada no meu lugar de sempre quando me desliguei das conversas ao redor. Faltavam poucos minutos para ser sábado e eu não possuía nenhum compromisso relacionado ao trabalho até terça-feira. E na próxima noite eu deveria sair com Scott.
Devo ter ficado tensa porque, ao piscar, me dei conta de que Todd estava me encarando fixamente, seu rosto extremamente próximo do meu.
Todd: Você está bem?
Assenti, voltando rapidamente meus pensamentos para o que estava acontecendo ali.
Todd: Vou deixar uma das minhas crianças fazer uma entrega agora. Quer vir rir comigo?
Por que não?
Me levantei e aguardei ao lado da porta enquanto Todd chamava um dos seus aprendizes, um novato. Enquanto saíamos do beco pude ver que o mais novo tremia levemente.
Andamos em silêncio por quase uma hora até um parque próximo a zona agitada da cidade. Depois que Todd repassou as instruções ao garoto, fomos até o telhado de um antigo prédio de três andares, o melhor lugar para assistir a cena.
O garoto estava sozinho e sem jeito. Andava de um lado para outro e depois parava. Olhava ao redor e depois para nós. E então o cliente chegou.
Não era ninguém que eu conhecia, mas devia ser alguém rico. Devia ter a mesma idade que nós e estava acompanhado de outros três homens, provavelmente amigos. Vestiam roupas modernas e caras e pareciam que iam para uma festa depois de receberem a mercadoria.
O aprendiz abriu a bolsa de couro e mostrou o conteúdo para os rapazes. Notei que os dois garotos que estavam atrás começaram a cochichar e tive a impressão que eles haviam notado o nervosismo do garoto. Ao fechar a bolsa, a mesma foi derrubada, espalhando os pequenos sacos pela calçada. Todd correra para a saída e eu o segui, enquanto observava o garoto se ajoelhar para recolher a mercadoria e levar um chute no estomago. Escutei os risos enquanto descia do prédio.
Todd fora mais rápido e, quando me aproximei, ele já havia pegado um dos garotos e afastado do aprendiz, a arma engatilhada.
Não fiquei parada. Enquanto outro deles tentava avançar em Todd, afastei os outros dois da criança. Aproveitando o momento em que ficaram atordoados com um dos meus golpes, puxei o menino para longe deles, deixando-o atrás de Todd, que já havia assumido o controle da situação. Depois disso, me escondi atrás de uma árvore.
O garoto ainda tremia quando Todd fez a entrega e recebeu o dinheiro — e alguns xingamentos.
O traficante cruzou os braços, visivelmente irritado. O garoto abaixou a cabeça e se encolheu.
Todd: Poderíamos ter perdido a mercadoria. E você poderia ter morrido.
A criança gaguejava.
Aprendiz: Desculpa...
Todd: Pra quê você acha que te dei essa arma? Recordação?
O menino continuou a encarar o chão.
Todd: Me responda.
O garoto ousou olhar para Todd e levou um tapa que ecoou por todo o parque. Voltou a observar o solo.
Todd: A partir de hoje você vai utilizar o corpo a corpo. Quem sabe assim você aprenda a agir. Me dá a arma. 
O aprendiz hesitou e Todd repetiu a ordem, agora aos gritos. A arma foi entregue e o traficante dispensou a criança. Andei até ele.
Charlotte: Isso foi bem leve.
Todd: Você acha?
Ele me deu a arma do aprendiz.
Iniciamos uma lenta caminhada, sem muitas palavras. Não tínhamos mesmo um lugar para ir, mas ambos sabíamos que acabaríamos de volta ao beco. Estávamos na metade do caminho quando um pensamento me veio à cabeça.
Charlotte: O que se usa num jantar?
Ele pareceu estranhar a pergunta e pensou um pouco. 
Todd: Algum veneno que se misture a comida, não? Você já fez isso.
Charlotte: Estou falando de roupas.
Todd: Eu pareço uma garota?
Sorri como resposta. Eu nunca havia realmente falado sobre vestuário com Todd, mas não achava que ele se importaria.
Todd: Você já não fez isso outras vezes?
Pensei um pouco. Eu nunca havia saído para jantar, realmente. Sempre escolhia minhas roupas com base no gosto da vítima, para facilitar a atração. Mas eu não mataria Scott ainda. Não precisava atraí-lo.
Charlotte: Eu vou jantar com Scott. Como amigos. 
Tive a sensação de ter visto algo nos olhos de Todd, mas fora tão rápido que eu não conseguira entender o que realmente se passou.
Todd: Talvez você devesse chamar Ashley para ir para a cidade com você. Ou...
Charlotte: Ou?
Todd: Nada.
Charlotte: O quê?
Todd: Olha... Não me julgue.
Parei na calçada, cruzando os braços e esperando a besteira ser dita.
Todd: Conheço algumas... Garotas. Vocês e Ash poderiam fazer, como dizem? Uma daquelas tardes de mulheres.
Peguei a arma que ele havia me dado e engatilhei.
Charlotte: Acho que eu vou matar você.
Todd: É só uma ideia. Talvez ser normal por algumas horas a ajude.
Charlotte: Posso ser normal sem prostitutas e traficantes encenando uma vida feliz. 
Todd: Você é quem sabe.
Eu podia me virar sozinha. Eu sabia disso e, mesmo assim, na tarde seguinte deixei que Ash me puxasse para cada loja que ela julgasse boa.
Era estranho ter esse tipo de momento, mas tentei agir normalmente. Ashley parecia saber o que estava fazendo, como se fazer compras fosse uma de suas atividades favoritas. E devia ser mesmo.
A loira pareceu finalmente encontrar o lugar ideal e chamou uma vendedora com a mesma animação, de modo que silenciosamente iniciei uma oração logo em seguida. Parei quando percebi que eu não sabia fazer isso.
As duas começaram a conversar e pegar vestidos de todos os cantos da loja, enquanto eu observava os modelos da única arara em que elas não se interessaram. Tinham motivos pra isso.
Dez minutos depois fui arrastada para um provador com uma sala de espera refinada. Ash me entregou pelo menos dez vestidos diferentes.
Provei cada um com muita paciência, mas nenhum chamara minha atenção, nem a de Ashley. 
Eu estava colocando minha roupa novamente quando Ash jogou dois vestidos por cima da porta.
Ashley: ...Charlotte? Qual desses você prefere?
Senti uma leve diferença na sua voz e me perguntei se ela estava discutindo com a vendedora.
O primeiro era vermelho e sem mangas e ia até pouco abaixo do joelho. Havia um cinto largo e preto acompanhando-o. Não era feio, mas não era para aquela situação.
O segundo também era sem mangas, mas este tinha uma segunda pele preta e bordados em tons de azul e verde, formando figuras abstratas num degrade. A saia era preta e rodada, indo até pouco acima do joelho. Me peguei boquiaberta por um momento.
Joguei os modelos de volta para Ash enquanto falava sobre o azul.
Ashley: Experimente.
Ela me devolveu o escolhido e voltei a experimentá-lo. 
Fiquei surpresa ao vê-lo em meu corpo. Não chegara nem perto de ser feio. Na verdade, me senti ótima. Parecia... Certo.
Ashley: Charlotte?
Respirei fundo uma vez. Ninguém precisava me ver com cara de boba.
Abri a porta e saí para a sala de espera, talvez até um pouco tímida. Ashley e a vendedora aguardavam logo em frente e, assim que entrei começaram a elogiar histericamente. Me lembrei do por que não ter "tardes de mulheres".
Um homem que estava de costas para o que acontecia naquela sala se virou em reação a pequena gritaria das duas. Cruzei os braços ao reconhecê-lo.
Charlotte: Achei que isso era algo para garotas.
Todd: O que podemos fazer quando um homem tem um gosto melhor do que três mulheres juntas?
Vi um rastro de sorriso em seu rosto. No entanto, suas olheiras entregavam o seu cansaço.
Ashley: Então, vamos para outras lojas?
Olhei para o vestido mais uma vez. A traficante estava colocando todas as suas esperanças no meu "sim".
Charlotte: Na verdade, Ash, acho que vou ficar com esse.
Todd soltou uma alta gargalhada e Ashley, agora com mau humor, lhe deu uma nota alta.
Charlotte: Vocês estavam apostando?
Ashley: Esse idiota disse que poderia achar o vestido certo em apenas uma tentativa. Eu disse que ele nunca acertaria o seu gosto.
Os olhos do traficante brilhavam de diversão enquanto a loira proferia xingamentos do mais alto nível. Ela voltou até a vendedora, deixando Todd e eu a sós na sala de espera.
Comecei a encarar um espelho de corpo inteiro na minha frente. Talvez eu estivesse animada demais, pois não conseguia parar de observar o traje.
Charlotte: Obrigada.
Todd: Combina com você.
Todd apareceu no meu reflexo.
Todd: As cores se destacam, mas não anulam o preto. E o modelo parece certo no seu corpo. É sensual, mas... Sutil.
O silêncio dominou o local. Encarávamos o reflexo um do outro no espelho, como numa conversa silenciosa.
Charlotte: Acho que... Eu vou me trocar.
Ele recuou alguns passos, me dando espaço para voltar ao provador. Eu sequer havia notado o quão próximos estávamos.
Fui mais rápida do que nas outras dezenas e Ashley e a vendedora ainda estavam entrando na sala quando saí.
Vendedora: Vamos ver um sapato então?
Todd: Boa sorte pra vocês.
Ashley: Não vai nos homenagear com seus grandes dons para a moda?
Ashley revirava os olhos enquanto falava, o que fez Todd rir.
Todd: Tais instintos só aparecem uma vez a cada mil anos.
Ele fez uma reverência, como se estivéssemos num daqueles contos de fadas em reinos inexistentes e então saiu.
Vendedora: Vamos lá?
Ashley me puxou em direção à sessão de calçados da loja e lá desperdiçamos mais uma hora.
A traficante deveria ter cancelado todos os seus compromissos, pois passara o dia comigo até eu finalmente dizer que voltaria para a delegacia.
Eu estava entrando no corredor espelhado quando Alexander saiu. Amaldiçoei algumas entidades.
Alexander: Charlotte! Você é mulher!
Revirei os olhos — que estavam muito bem pintados, aliás.
Alexander gostava de implicar quando eu estava bem vestida, por isso eu tentava evitar ao máximo que nossos caminhos se cruzassem quando eu precisava mudar o meu estilo habitual. Por sorte, ele não prolongou o assunto.
Eram sete horas quando finalmente terminei de me arrumar. Ashley havia feito com que eu comprasse mais acessórios do que eu teria oportunidade de usar, o que tornara a escolha um tanto difícil.
Parei em frente à porta do meu quarto, ainda fechada. Eu estava pronta, não havia mais nada a fazer além de esperar Scott. E por algum motivo eu sentia meu coração bater rápido.
Por mais que eu negasse, sabia que estava nervosa. No entanto, essa reação não fazia sentido para mim. Em quantos jantares eu já havia ido? Quantos homens eu já havia conhecido? Por que logo com Scott seria diferente? Infelizmente, eu já havia me acostumado com sua presença. Já havíamos passado horas juntos o suficiente para eu ter qualquer tipo de reação, mas, mesmo assim, meu coração batia rápido e eu checava meu reflexo a cada trinta segundos.
Me xinguei mentalmente. O que diabos eu estava fazendo? Apenas jantaríamos, provavelmente sem falar sobre Cristopher. Seria como conversar com Todd ou com qualquer outro membro do beco.
Olhei para o reflexo pela última vez. O vestido estava certo e combinava perfeitamente com o salto preto que eu usava. Meu cabelo estava preso de maneira que suas pontas onduladas balançassem atrás, com mechas caindo levemente nas laterais do rosto. Fiquei receosa quando Ashley resolveu cacheá-lo pois eu nunca havia conseguido. Quando precisava desse estilo apenas usava uma peruca.
Abri a porta e me retirei para a frente da delegacia. Coloquei um sobretudo preto sob o vestido para evitar chamar a atenção dos outros policiais presentes.
Scott estava encostado em seu carro com as mãos no bolso, no outro lado da rua. Ajeitou a postura quando me viu sair da delegacia. Fui até ele.
Scott: Uau...
Meu rosto deve ter corado por baixo da camada de maquiagem.
Scott: ...Uau.
Revirei os olhos.
Charlotte: Algo a dizer além disso?
Scott: Você está linda.
Charlotte: Está dizendo que preciso de maquiagem pra ficar bonita?
Scott: Jamais diria algo do tipo.
Ele abriu a porta do passageiro e entrei sem cerimônias. Em seguida, deu a volta e logo entrou no lado do motorista.
Scott falou sobre o restaurante em que iríamos. Era do outro lado da cidade e, pelo nome, reconheci como um dos mais caros do nosso município. Disse que era comum seus pais irem até lá. 
Scott: Meu pai sempre dizia que aquele era um lugar mágico, mas confesso que ainda não entendo o por quê. Talvez seja algo do ambiente.
Charlotte: Suponho que não seja sua primeira vez lá.
Ele entendeu o que eu estava insinuando.
Scott: Frequentei poucas vezes, sozinho, para pensar.
Charlotte: Você pensa?
Scott se virou para me encarar, lançando um de seus olhares maliciosos.
Scott: Muitas vezes em você.
Agradeci mentalmente a Ashley pelo seu trabalho em meu rosto. Scott não deveria fazer ideia nem da metade do quanto eu estava corada naquele momento.
Nossa conversa fluiu bem, de modo que os 60 minutos que levamos para chegar pareceram apenas dez. Scott estacionou no estacionamento privado do restaurante. Um rapaz de seus dezessete anos apareceu assim que descemos do carro, se oferecendo para nos guiar até o ambiente coberto.
Fomos até uma mesa ao lado da janela, onde podíamos ver o fraco movimento da rua.
Imediatamente recebemos o menu e fizemos o pedido. Scott pediu um vinho que eu não reconheci, mas o garçom sorriu ao ouvir o nome.
Scott: Então, como foi o seu dia?
Não soube o que dizer de início. As pessoas ainda faziam esse tipo de pergunta?
Charlotte: Você lembra de Ashley?
Scott: A garota que nos ajudou com aquele empresário? Sim.
Charlotte: Esse foi o meu dia. 
Scott: Acredito que eu vá precisar de uma explicação melhor.
Charlotte: A garota me arrastou para todas as lojas da Avenida.
Scott: Pensei que você não tivesse amigas.
Charlotte: Eu não tenho. Todd insistiu para que eu a convidasse para uma... Qual foi mesmo a palavra? Ah, uma tarde de mulheres.
Ele sorriu.
Scott: A maioria das mulheres adora esse tipo de passeio.
Charlotte: A maioria das mulheres não sabe diferenciar cicuta de camomila.
A noite fora melhor do que eu imaginei. Scott e eu compartilhamos momentos de nossa adolescência e rimos ao lembrar de algumas de nossas atitudes. Também tínhamos algumas coisas em comum, como o fato de nunca termos nos apaixonado na época de escola.
Scott me contava sobre como sua avó ficara irritada quando ele, com catorze anos, entendera "podar" ao invés de "regar" e literalmente cortara todas as flores que a mais velha passara anos cultivando. Neste momento, uma cena no lado de fora me chamou atenção.
Vi um homem encapuzado puxando um garçom para a porta dos fundos do restaurante. Nossa janela me permitia visão o suficiente daquele lugar para ver o que acontecia: o garoto que nos atendera saíra pela mesma porta em que o homem e o garçom estavam lutando e chutou seu colega, acertando-o no estomago. 
O homem encapuzado puxou a cabeça do garçom mais velho, que agora já estava atordoado. Vi o brilho de uma faca e, antes que eu pudesse assimilar o objeto, vi a cabeça do garçom sendo decepada. O assassino virou o corpo morto de forma que o sangue jorrasse na parede e no mais novo. Ele se aproximou da luz e tirou o capuz. Todos os meus esforços para manter minha expressão se foram quando o reconheci.
Scott: Aquelas flores levaram anos para... Charlotte? Você está bem?
Charlotte: Cristopher está aqui.