sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Skylar - Prólogo

Ela o empurrou para dentro do quarto, as mãos passeando por todo o seu corpo enquanto o beijava. A porta bateu fortemente ao se fechar, mas nenhum dos dois pareceu se importar.
Por um momento ficaram ali, provocando um ao outro com carícias selvagens. Não demorou muito para a jaqueta de couro de Skylar pousar em algum ponto aleatório do quarto, enquanto o homem — pelos deuses, ela sequer perguntara o seu nome — se livrava do moletom. A visão a agradara.
Poucos minutos atrás, conversavam no bar no andar inferior. Skylar e sua parceira, Annie, resolveram tirar algumas horas de folga após o sucesso na conclusão da última missão. Aguardavam suas bebidas no balcão quando um rapaz loiro e bem vestido se aproximou com seu amigo, os cabelos castanhos curtos e o moletom o transformando no completo oposto do primeiro.
— Então, — o loiro apoiou parte do corpo no balcão ao lado da dupla, enquanto o amigo aguardava silenciosamente com as mãos no bolso, obviamente querendo estar em qualquer outro lugar que não ali. — o que as garotas estão procurando essa noite?
Annie e Skylar trocaram um breve olhar. Mesmo com uma boa aparência, ele teria que fazer melhor se quisesse algo.
— Ah, vocês são do tipo difícil. Por mim tudo bem, eu e meu amigo ali — ele apontou o moreno com o queixo — também estamos com tempo. Vimos vocês chegarem.
— Roy, — o amigo se manifestou pela primeira vez — deixe as damas em paz, vamos voltar logo.
Roy fuzilou o amigo com o olhar.
— As damas? — Skylar comentou imediatamente, ignorando o loiro propositalmente.
— Que linguajar refinado! — Annie a acompanhou sem pensar duas vezes. — Seria o cavalheiro um poeta?
— Talvez um nobre. Consegue perceber, minha querida amiga, como o senhor nos observa?
— Ah, deuses! Você está certa. Sinto-me enrubescer.
As duas brindaram pela atuação zombeteira quando as bebidas chegaram, mas, enquanto o moreno havia sido apenas irritado, o loiro permanecia motivado.
— Peço desculpas pelo meu amigo. É por isso que não o deixamos sair muito, ele não sabe socializar.
— Você também não é muito bom nisso. — Skylar comentou, as palavras envenenadas cobertas por uma camada de falsa inocência enquanto tomava mais um gole da bebida. Roy tentava ocultar sua impaciência quando a garota notou o sorriso do amigo. A expressão neutra voltou no momento em que percebeu que estava sendo observado.
— Vamos embora. — O loiro chamou o amigo. — Elas não estão de bom humor.
— Você acha que as pessoas não gostam de você porque estão de mau humor? É uma boa maneira de manter a autoestima. — A fala veio de Annie.
Roy abriu a boca por um momento, mas nenhum som saiu. Pela primeira vez parecia não ter uma resposta. Apenas se virou, tentando manter o resto de sua dignidade quando disse:
—Vamos.
— Na verdade, — a postura do amigo pareceu mudar de tímido para confiante em segundos. Ele começou a caminhar em direção as garotas. — acho que quero ficar por aqui. Se as damas não se importarem, é claro.
Skylar olhou para o loiro uma vez, que estava visivelmente irritado, e então para Annie, que compartilhava do seu olhar conspiratório.
— Vossa presença seria de muito agrado, senhor. A de seu colega, nem tanto, mas poderemos suportar.
O moreno sorriu e puxou um banco ao lado das garotas. Revirando os olhos, o loiro fez o mesmo e logo os quatro haviam dominado um dos cantos do balcão.
A noite se seguiu com provocações inteligentes, algumas vezes quase se transformando em brigas. Skylar não percebeu quando, mas logo Annie havia caído nos encantos de Roy. Não se preocupara, pois conhecia a parceira o suficiente para não sentir necessidade de interferir em suas decisões.
Em algum momento, quando a conversa em grupo se resumira a observar a interação entre Annie e o loiro, Skylar se levantou. A parceira notou, mas não reagiu. Caminhou até o bar, os saltos pretos ecoando no piso de madeira. Além dos quatro, havia alguns poucos homens bebendo, as roupas amassadas revelando sua patética rotina após o trabalho.
Sentiu quando seu corpo fora momentaneamente envolvido por outro maior que o seu, os braços cobertos pelo moletom apoiados no bar, prendendo-a ali. Ele aproximou seu rosto do dela brevemente antes de se afastar para ficar ao seu lado, a mão propositalmente demorando em sua cintura ao fazê-lo. Skylar o encarou, avaliando por um momento. O garoto retribuiu o olhar, confiante e sutilmente perigoso.
Afastando-se do bar, ela se dirigiu para as escadas aos fundos. Conhecendo o local, sabia que o segundo andar era reservado justamente para tais situações e apenas os clientes mais confiáveis possuíam autorização para usar os quartos, como ela. O garoto a seguiu e, antes de completarem o primeiro lance de escadas, ele a surpreendeu com um beijo provocante, deixando claro que ela não era a única excitada.
Seguiram assim até chegarem a um dos quartos. Skylar já havia percebido que ele era do tipo confiante, o seu favorito, pois ela também era. No geral, a experiência se transformava numa guerra silenciosa para descobrir quem cederia primeiro.
Agora, Skylar observava os músculos antes ocultos pelo moletom. Ele claramente era um atleta. A garota voltou a beijá-lo enquanto tentava remover a regata branca que bloqueava a visão do resto da parte superior do corpo, mas fora impedida quando ele a pegou no colo e a levou para a cama.
Ele a deitou enquanto acariciava as coxas revestidas de couro e a posicionava de forma a sentir seu volume mesmo sob o jeans. Seus lábios agora trabalhavam no pescoço da garota enquanto uma das mãos tentava invadir a pele por baixo da blusa que a mesma usava, mas ela a afastou, se levantando o suficiente para que a tirasse sozinha e dando um breve momento para que apreciasse a visão antes de empurrá-lo para ficar sobre o mesmo.  Sua ação foi recebida com um sorriso de satisfação.
Ela o beijou enquanto as mãos do moreno desenhavam em suas costas, algumas vezes visitando a pele coberta pelo sutiã, mas sem abri-lo.  Pela segunda vez, tentara remover a regata. As mãos passaram por baixo do tecido, o toque lento explorando e decifrando o que encontraria ali enquanto aos poucos erguia a camisa.
Antes que pudesse removê-la por inteira, ele inverteu as posições, não evitando sorrir com a breve expressão de surpresa que a garota fez. Assim como ela, retirou a regata e deixou que a visão fosse apreciada, o que foi feito sem hesitação. Jogando o pedaço de tecido no chão, ele voltou a beijá-la, a ação se tornando cada vez mais selvagem, mais perigosa. Voltou a traçar o caminho do pescoço enquanto as mãos se aproximavam cada vez mais de seu íntimo.
Ela não pôde conter um baixo gemido em certo ponto, o que o satisfez. Enquanto suas mãos se agarravam nos curtos cabelos escuros, Skylar viu o vulto de traços pretos nas costas do garoto, como uma tatuagem.
A tensão a dominou por um curto segundo quando um lampejo de momentos atrás vinha a mente. Ele tinha uma tatuagem, não tinha?
Deuses, ele tinha.
O garoto procurava abrir a calça de couro quando, ainda deitada, ela o empurrou com uma das pernas, fazendo-o cair na cama. Não teria se importado, se não tivesse percebido o olhar mortal que dominara as feições da garota. Mesmo excitando-o, estava óbvio que aquilo não fazia parte da diversão. Ela se levantou mais rápido do que conseguira prever e ele fez o mesmo, ainda não entendendo o que estava acontecendo. Observou-a procurar sua blusa pelo chão do quarto.
— Ei, está tudo bem? — Tentara se aproximar, mas por pouco não fora acertado pelas mãos da garota.
— Não me toque, Sycrax. — A voz de Skylar não continha apenas ódio, mas também repulsa e veneno, como se o nome de seu bando fosse algum tipo de xingamento extremo.
— Ah. — Fora a sua resposta. Se encostou na beira da cama e cruzou os braços, observando-a vestir a blusa. Foi então que percebeu a marca de pássaros na lateral do corpo, o símbolo dos Phoenia. Suspirou, mas ela não ouviu. Ou fingiu não ouvir.
— Não somos todos iguais. — Ele tentou. Realmente, não era completamente igual aos outros do seu grupo. Jamais negaria seu orgulho em ser um Sycrax, mas também não gostava da generalização.
— Claro que não. Vi como seu amigo é diferente dos outros. — Ela se referia a Roy e suas infinitas tentativas de se juntar a dupla de garotas mais cedo.
— Exatamente. Você viu como ele é e como eu sou. Se somos iguais, porque não está com ele desde o começo?
Ela o encarou por um momento, a jaqueta de couro já em suas mãos. Ele não estava errado. Pelo menos naquele curto momento, ele se mostrara diferente do amigo. Um diferente que com certeza a agradara.
Mas não. Ele era um Sycrax e, se fazia parte desse bando, era porque algo o identificava.
Sem dizer qualquer palavra, Skylar saiu do quarto deixando a porta bater. Correu pela escada e quase derrubou outro casal que subia. Quando chegou ao bar, encontrou Annie já no colo de Roy, beijando-o da mesma maneira que ela beijara o moreno segundos atrás. Se aproximou o suficiente para sussurrar no ouvido da parceira:
— Sycrax.
Não fazia diferença se o loiro havia ouvido ou não. Annie abriu os olhos no mesmo momento e encarou Skylar, que viu os olhos azuis mudarem para um mágico tom esmeralda. Antes que o garoto pudesse reagir, Annie já estava ao lado da parceira, recuperando o fôlego e se preparando para qualquer ataque. Assim que percebera, o olhar mortal fora retribuído. Bastava uma respiração errada para que alguém atacasse. No entanto, ninguém o fez.
As duas se viraram para sair do bar e os olhos de Skylar se encontraram com o do garoto de cabelos escuros, que observava a cena na ponta oposta. Desviando o olhar, saíram do local sem olhar para trás.
— Que merda. Ele tinha uma boa pegada. — Annie fora a primeira a se manifestar quando estavam a uma boa distância do bar. Skylar não respondeu.

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